São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Divergir para unir

É muito cedo para aceitar a tese, rapidamente dominante entre os comentaristas, de que a resolução do diretório do PT com críticas à política econômica indica a retomada, afinal, dos princípios tradicionais do petismo e os põe acima do apoio a Lula. O teor crítico da resolução pode até revelar-se, em pouco tempo, o exato oposto do que sugere à primeira vista.
A posição adotada pelo novo diretório tem menos a ver com princípios que com preocupações eleitorais. Três anos para relembrar princípios, tão essenciais por mais de 20, já poria em dúvida a sua importância atual no partido. Mas, além disso, não faltaram referências explícitas à inspiração eleitoral da crítica. Mesmo entre velhos opositores do fundamentalismo paloccista, caso de Raul Pont, a razão eleitoral não pôde omitir-se nas considerações: "a crítica [à política econômica] vem de uma sensibilidade do PT diante de suas bases eleitorais. Não dá mais para fecharmos os olhos para a própria militância".
Um dos encarregados da organização partidária, Francisco Campos atribuiu à resolução do diretório a função, ou o poder, de levar a "um pacto com o presidente, de modo que possamos acertar o passo para a campanha". Assessor especial de Lula, Marco Aurélio Garcia explicou a atitude do diretório como decorrência de que "o PT, embora a época de Natal, não pode se comportar como vaca de presépio". Se pôde até hoje, por que não poderia mais, a partir de agora, senão por se seguirem ao Natal as antevésperas das eleições?
Na interpretação dominante, a tomada de posição crítica do novo diretório representa um problema para a candidatura de Lula. Nela se pode encontrar, no entanto, a solução para o reencontro de Lula com o PT, na campanha. Ambos apregoando uma nova política econômica, à maneira do petismo, no segundo mandato. Os petistas, solidarizando o seu discurso com as críticas que hoje desanimam ou afastam a "própria militância" citada por Pont. Lula, com a história das condições preparadas nestes anos para realizar, no segundo mandato, os seus compromissos reformistas com o eleitorado. E quem estiver disposto a cair em outra, sirva-se.
Não é na resolução do novo diretório petista que se lê o problema de Lula para a reeleição. É em pesquisas especiais de que o PSDB dispõe, e que já chegaram (teria sido por intermédio do PFL) a certas eminências do PMDB. E estão produzindo efeitos no peemedebismo governista.


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