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JANIO DE FREITAS
Divergir para unir
É muito cedo para aceitar
a tese, rapidamente dominante entre os comentaristas,
de que a resolução do diretório
do PT com críticas à política
econômica indica a retomada,
afinal, dos princípios tradicionais do petismo e os põe acima
do apoio a Lula. O teor crítico
da resolução pode até revelar-se, em pouco tempo, o exato
oposto do que sugere à primeira vista.
A posição adotada pelo novo
diretório tem menos a ver com
princípios que com preocupações eleitorais. Três anos para
relembrar princípios, tão essenciais por mais de 20, já poria em dúvida a sua importância atual no partido. Mas, além
disso, não faltaram referências
explícitas à inspiração eleitoral
da crítica. Mesmo entre velhos
opositores do fundamentalismo paloccista, caso de Raul
Pont, a razão eleitoral não pôde omitir-se nas considerações:
"a crítica [à política econômica] vem de uma sensibilidade
do PT diante de suas bases eleitorais. Não dá mais para fecharmos os olhos para a própria militância".
Um dos encarregados da organização partidária, Francisco Campos atribuiu à resolução do diretório a função, ou o
poder, de levar a "um pacto
com o presidente, de modo que
possamos acertar o passo para
a campanha". Assessor especial de Lula, Marco Aurélio
Garcia explicou a atitude do
diretório como decorrência de
que "o PT, embora a época de
Natal, não pode se comportar
como vaca de presépio". Se pôde até hoje, por que não poderia mais, a partir de agora, senão por se seguirem ao Natal
as antevésperas das eleições?
Na interpretação dominante,
a tomada de posição crítica do
novo diretório representa um
problema para a candidatura
de Lula. Nela se pode encontrar, no entanto, a solução para o reencontro de Lula com o
PT, na campanha. Ambos
apregoando uma nova política
econômica, à maneira do petismo, no segundo mandato. Os
petistas, solidarizando o seu
discurso com as críticas que hoje desanimam ou afastam a
"própria militância" citada
por Pont. Lula, com a história
das condições preparadas nestes anos para realizar, no segundo mandato, os seus compromissos reformistas com o
eleitorado. E quem estiver disposto a cair em outra, sirva-se.
Não é na resolução do novo
diretório petista que se lê o problema de Lula para a reeleição.
É em pesquisas especiais de que
o PSDB dispõe, e que já chegaram (teria sido por intermédio
do PFL) a certas eminências do
PMDB. E estão produzindo
efeitos no peemedebismo governista.
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