São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONGRESSO

Presidente do Senado afirma que recesso pode ser confundido com paralisação das investigações e não descarta uma autoconvocação do Congresso

Renan diz ser contra "dar férias à crise"

Fernando Donasci/Folha Imagem
Silhueta do presidente do Senado, Renan Calheiros, contra um painel, no aeroporto de Congonhas


RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem, em São Paulo, que não apoiará tentativas do governo Lula de usar o recesso parlamentar para "dar férias à crise" e que trabalhará, "se for necessário", pela autoconvocação do Legislativo.
"Se o governo pensa no recesso [do Congresso] para dar férias à crise, para paralisar a investigação, para não dar prosseguimento ao julgamento dos acusados, o governo não vai contar comigo nessa pretensão", disse ele.
Renan afirmou não ter "posição pessoal" sobre a convocação extraordinária, mas disse que não terá "crise existencial" para convocar o Legislativo. "Conversei com o ministro Jaques Wagner [Relações Institucionais], muito, durante a semana passada e com o presidente também. O presidente pediu empenho para votar o Orçamento, mas disse que não iria convocar o Congresso. Mas falou por ele, não falou pelo Congresso", disse. "Se for preciso, vamos convocar sem medo."
A decisão, segundo ele, sai hoje, em reunião com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e com os presidentes e relatores das CPIs em andamento.
"A decisão não é pessoal. Se for necessário convocar, convocarei, sim. A sociedade não entenderia se o recesso fosse confundido com paralisação da investigação, como fôlego para os acusados e como uma fuga para não votar o Orçamento da União", declarou.
Indagado sobre os custos financeiros da medida, afirmou que o custo maior "seria não convocar, e a população entender que o recesso significa a paralisação da investigação". "Ninguém nos perdoaria. Se for autoconvocado e tiver que pagar a convocação, vamos proibir as viagens ao exterior e vamos exigir a presença dos parlamentares sob pena de não receber o dinheiro da convocação."
Renan também defendeu a necessidade de aprovação do Orçamento, apesar de o PFL já ter dito que não se mobilizará para aprová-lo nesta semana. "Disputa política é legítima, democrática, mas não pode prejudicar o interesse do país. O Orçamento não pode ser a próxima vítima."

Convocação extraordinária
Convocados pelo presidente do Senado, os líderes partidários na Câmara e no Senado e os presidentes das CPIs em funcionamento terão hoje de manhã uma conversa decisiva a respeito do possível trabalho durante o recesso parlamentar, que começaria já na próxima quinta-feira.
O Congresso deixaria de funcionar até 15 de fevereiro, mas setores da oposição pressionam Renan e Aldo Rebelo para que façam uma convocação extraordinária.
Até agora, o que está acertado é apenas o trabalho na semana que vem, para tentar votar mais alguns projetos e tentar desfazer a imagem de 2005 como "ano perdido" no Congresso.
Na Câmara, Aldo e a maioria dos líderes partidários são contra a convocação. Receiam que se gaste muito dinheiro com salários extras aos parlamentares, como manda a lei, sem que se produza o suficiente para justificar a despesa. Cada deputado teria direito a dois salários extras em caso de convocação, quase R$ 26 mil.
O Conselho de Ética já avisou que não pretende votar nenhum caso até fevereiro. Mesmo que trabalhe durante o recesso -o que ainda depende de uma alteração no regimento- será só para tomar depoimentos.
"A convocação seria o pior desastre para a Câmara nesse momento", diz o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), um dos mais afinados com o Palácio do Planalto.
Mas o atraso na votação do Orçamento de 2006 pode levar o governo a rever sua posição à convocação extraordinária, uma vez que não quer correr o risco de ficar de mãos atadas para realizar investimentos no ano eleitoral.
Já a oposição está preocupada principalmente com o funcionamento das CPIs. Tucanos e pefelistas não querem que a parada esfrie a crise política.
"O PFL é pela autoconvocação, remunerada ou não, porque o que não pode é não dar prosseguimento aos trabalhos", disse o líder do partido no Senado, José Agripino (RN).

Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Janio de Freitas: Divergir para unir
Próximo Texto: "Mensalão"/Novas conexões: CPI identifica R$ 13 mi em retiradas em 2001
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.