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Foco
Ideais de "revolucionários" de 64 foram sufocados por versão dos "guerrilheiros"
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO
O guerrilheiro Carlos Marighella foi morto em 4 de novembro de 1969. No mês seguinte morreu o general Costa e Silva. Quem entrar hoje
numa livraria encontrará
quatro livros à venda sobre
Marighella, entre os quais
"Batismo de Sangue", de Frei
Betto, na 14ª edição. Sobre
Costa e Silva não há nenhum.
Nem sempre foi assim. O
presidente que decretou o AI-5 foi objeto de cinco obras durante o regime militar. Agora
elas só são vistas em sebos.
As homenagens oficiais
também escassearam: o Minhocão, em São Paulo (1971),
e a ponte Rio-Niterói, no Rio
(1974), levaram seu nome.
Hoje São Paulo abriga uma
escultura de granito de Marcelo Ferraz dedicada a Marighella, enquanto em Niterói
está sendo erguido um Memorial em sua homenagem,
projetado por Oscar Niemeyer. Em todo o país já há 16 logradouros com seu nome, 18
com o de Carlos Lamarca, 37
com o de Luís Carlos Prestes.
São sintomas de que os admiradores da ditadura perderam a batalha pelos corações
e mentes. Suas idéias ainda
são propagadas por grupos na
internet (um dos quais encerra seus e-mails com o slogan
"Estamos Vivos!"), mas elas já
não freqüentam os meios de
comunicação de massa.
Desde o fim da ditadura o
31 de março deixou de ser festejado oficialmente: em 1985,
os militares desistiram da antiga parada militar em Brasília; em 1995, deixaram de publicar a "Ordem do Dia"; no
ano passado, até o Exército silenciou sobre o golpe militar.
Aos poucos, os ideais "revolucionários" sumiram dos livros didáticos. O ensino de
Educação Moral e Cívica, imposto em 1969, foi tirado do
currículo em 1993. A linguagem cotidiana registra essa
mudança: nos textos publicados pela Folha em 2007, a expressão "Golpe de 1964" aparece 21 vezes, enquanto "Revolução de 1964", nenhuma.
Isso revela que a construção da memória coletiva segue a ética da convicção, e
não a ética da responsabilidade: a curto prazo, os personagens são julgados pelos seus
êxitos; porém, a longo prazo,
prevalecem os princípios.
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