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Governo endossa e distribui livros com equívocos sobre ato
Enganos estão em obras avaliadas com "ótimo" e "bom"; uma delas diz que ato estabeleceu a pena de morte no país
Para especialista, autores dos livros didáticos não se atualizam; uma das obras imprecisas já liderou a lista de compras do MEC para SP
MATHEUS MAGENTA
TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pelo menos 4 das 10 coleções
de livros de história mais bem
avaliadas pelo Programa Nacional do Livro Didático do
MEC (Ministério da Educação)
para 2008 têm erros de informação sobre o AI-5. As obras
foram utilizados pelas escolas
públicas do ensino fundamental neste ano. Outros dois livros
ignoram o evento histórico.
Um dos livros -"História:
das Cavernas ao Terceiro Milênio", escrito por Myrian Becho
Mota e Patrícia Ramos Braick-
atribui ao AI-5 o estabelecimento da pena de morte no
país. As autoras admitem o engano, que não foi percebido pelos professores universitários
contratados pelo MEC para referendar as obras. A obra foi avaliada como "ótima" em critérios como
concepção de história e conhecimentos históricos.
O ministério não soube dizer
quantos livros com erro foram
distribuídos nem há quanto
tempo eles são usados. Os dados mais recentes disponíveis,
obtidos pela pesquisadora Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, mostram que em 2002,
na cidade de São Paulo, 4.224
escolas receberam a obra.
De acordo com o mesmo estudo, o livro "História Temática", de Montellato, Cabrini e
Capelli, foi o mais vendido entre as escolas de São Paulo, contabilizando 162.387 exemplares. A obra também traz erro
sobre as conseqüências do ato.
Para Maria Auxiliadora Schimidt, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Educação
Histórica da Universidade Federal do Paraná, muitos erros
ocorrem porque os autores só
usam uma versão do fato como
verdadeira, em vez de procurar
uma abordagem pluralista.
A pesquisadora também criticou os critérios utilizados pela comissão de professores ligados ao PNLD, restritos apenas a
encontrar erros de informação.
Avaliação
Os livros recomendados pelo
MEC são avaliados por uma comissão de 29 professores universitários, sob critérios como
fontes históricas, metodologia
de ensino-aprendizagem e concepção de história.
As obras aprovadas são reunidas com as respectivas resenhas críticas num guia, que é
enviado às escolas públicas para a escolha dos professores.
Para Arlette Medeiros Gasparello, que foi professora de
história entre 78 e 91 e hoje ministra a disciplina prática de
ensino de história na Universidade Federal Fluminense, o
professor precisa ter formação
adequada para poder usar o livro didático de forma crítica.
Astrogildo da Silva Júnior,
professor de história de ensino
fundamental em Araguari
(MG), acha que o professor acaba por assumir o livro como
uma verdade absoluta.
Schimidt concorda. Para ela,
em geral, professores do ensino
fundamental não acompanham as atualizações historiográficas e por isso não conseguem ter autonomia em relação ao conteúdo desses livros.
Leia sobre o ensino de
história na ditadura
www.folha.com.br/083444
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