São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2008

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Governo endossa e distribui livros com equívocos sobre ato

Enganos estão em obras avaliadas com "ótimo" e "bom"; uma delas diz que ato estabeleceu a pena de morte no país

Para especialista, autores dos livros didáticos não se atualizam; uma das obras imprecisas já liderou a lista de compras do MEC para SP

MATHEUS MAGENTA
TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pelo menos 4 das 10 coleções de livros de história mais bem avaliadas pelo Programa Nacional do Livro Didático do MEC (Ministério da Educação) para 2008 têm erros de informação sobre o AI-5. As obras foram utilizados pelas escolas públicas do ensino fundamental neste ano. Outros dois livros ignoram o evento histórico.
Um dos livros -"História: das Cavernas ao Terceiro Milênio", escrito por Myrian Becho Mota e Patrícia Ramos Braick- atribui ao AI-5 o estabelecimento da pena de morte no país. As autoras admitem o engano, que não foi percebido pelos professores universitários contratados pelo MEC para referendar as obras. A obra foi avaliada como "ótima" em critérios como concepção de história e conhecimentos históricos.
O ministério não soube dizer quantos livros com erro foram distribuídos nem há quanto tempo eles são usados. Os dados mais recentes disponíveis, obtidos pela pesquisadora Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, mostram que em 2002, na cidade de São Paulo, 4.224 escolas receberam a obra.
De acordo com o mesmo estudo, o livro "História Temática", de Montellato, Cabrini e Capelli, foi o mais vendido entre as escolas de São Paulo, contabilizando 162.387 exemplares. A obra também traz erro sobre as conseqüências do ato.
Para Maria Auxiliadora Schimidt, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica da Universidade Federal do Paraná, muitos erros ocorrem porque os autores só usam uma versão do fato como verdadeira, em vez de procurar uma abordagem pluralista.
A pesquisadora também criticou os critérios utilizados pela comissão de professores ligados ao PNLD, restritos apenas a encontrar erros de informação.

Avaliação
Os livros recomendados pelo MEC são avaliados por uma comissão de 29 professores universitários, sob critérios como fontes históricas, metodologia de ensino-aprendizagem e concepção de história.
As obras aprovadas são reunidas com as respectivas resenhas críticas num guia, que é enviado às escolas públicas para a escolha dos professores. Para Arlette Medeiros Gasparello, que foi professora de história entre 78 e 91 e hoje ministra a disciplina prática de ensino de história na Universidade Federal Fluminense, o professor precisa ter formação adequada para poder usar o livro didático de forma crítica. Astrogildo da Silva Júnior, professor de história de ensino fundamental em Araguari (MG), acha que o professor acaba por assumir o livro como uma verdade absoluta.
Schimidt concorda. Para ela, em geral, professores do ensino fundamental não acompanham as atualizações historiográficas e por isso não conseguem ter autonomia em relação ao conteúdo desses livros.


Leia sobre o ensino de história na ditadura
www.folha.com.br/083444


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