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DOMINGUEIRA
Encontro com o futuro
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
Dezembro já avança, e vamos nos preparando para ingressar no último ano dos novecentos, um 1999 que todos prevêem, para dizer o mínimo,
muito "difícil".
O mitológico ano 2000, que
alimentou fantasias de gerações
e gerações, representou para os
brasileiros, em diversos períodos, aquele ponto longínquo no
qual as profecias a respeito do
país do futuro viriam, enfim, a
se realizar.
Não foram poucos os que imaginaram o país chegando ao ano
2000 como uma grande "potência" mundial. Era esse o vaticínio do regime militar, que projetava o crescimento do "milagre"
para encontrar no futuro resultados grandiosos.
Mas não apenas as utopias
materiais alimentaram as fantasias sobre o país do ano 2000.
Um importante setor da vida intelectual, política e cultural
apostou, mais do que em prosperidade, na formação de uma sociedade diversa, capaz de imprimir sua marca original no cenário internacional. O Brasil não
deveria simplesmente trilhar o
caminho do desenvolvimento,
mas assumir o destino -para
usar a comparação de Darcy Ribeiro- de uma "Roma" miscigenada e inventiva.
O tempo é curto para qualquer
dessas antevisões. O Brasil vai-
se aproximando do novo século
-que começa, na verdade, em
2001- como um país problemático e extremamente desigual.
Estamos longe de ser a potência sonhada pelo ufanismo autoritário e cada vez mais céticos
ou covardes quanto ao sonho da
contribuição original.
Certamente ocupamos um espaço, certamente estamos em
processamento, mas nosso destino é ainda um ponto de interrogação.
Para não perder o hábito, um
palpite de um flamenguista frustrado sobre futebol: a fórmula
do campeonato parece boa, os
jogos das semifinais foram emocionantes, mas isso não deve servir para encobrir o fato de que os
times envolvidos são bem mais
fraquinhos do que a animação
geral pode fazer crer.
Uma satisfação: escolhi como
"melhor do ano", numa enquete
realizada pelo "Guia da Folha"
(que circula em São Paulo), o
Gero Café, aberto há pouco no
shopping Iguatemi. Por má
compreensão minha, achei que
a escolha era segmentada e que
meu voto entraria no capítulo
de bares e restaurantes -e não
como "o melhor", em absoluto,
do ano.
Por mais que o café seja muito
simpático e que a idéia de "melhor e pior do ano" só tenha graça pelo grau de arbítrio que encerra, não poderia considerar,
tou court, o Gero Café como a
melhor coisa de 98.
O que escolher então? Para
manter o espírito da coisa: O novo CD de Chico Buarque.
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