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CRIME ORGANIZADO
Traficantes presos têm até 24 defensores; suspeita é que eles funcionariam como mensageiros
CPI apura ação de advogados do tráfico
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Um relatório entregue à CPI do
Narcotráfico pela
Secretaria da Justiça do Rio mostra
que alguns dos
mais perigosos traficantes do Estado têm até 24 advogados e recebem visitas deles até cinco vezes
por dia.
Para a CPI, o entra-e-sai dos advogados levanta a suspeita de que
eles estejam servindo de mensageiros entre os traficantes presos e
seus comandados nos morros e
favelas. Não há, porém, provas
contra os advogados.
A Folha apurou que Ernaldo
Pinto de Medeiros, o Uê, por
exemplo, condenado por tráfico e
preso em Bangu 1, tem 24 advogados listados no livro de visitas do
presídio no ano passado.
Uê dominava o tráfico no Complexo do Alemão (zona norte do
Rio) e era considerado o maior
traficante da cidade, até ser preso
em março de 1996.
Uê deixou sucessores no comando do tráfico. Até hoje, quando há guerra entre gangues rivais,
"o pessoal do Uê" é citado como
um dos grupos mais perigosos.
Outros presos famosos de Bangu 1 também têm uma lista grande de advogados: Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho
VP, tem 22, Denis Leandro, o Denis da Rocinha, 21, Adlas Ferreira,
o Adão de Vigário-Geral, 16, e
Charles da Silva Batista, 16.
Outra "estranheza" identificada
no relatório é a quantidade de visitas: em agosto de 1999, Denis da
Rocinha recebeu visitas dos advogados por 14 dias seguidos. No dia
2 de agosto, recebeu cinco advogados. No dia 3, quatro.
Uê também recebeu até quatro
advogados no mesmo dia. Um
dos advogados de Denis da Rocinha está desaparecido. Um dos
sete advogados de Luiz Carlos
Gomes Jardim, o Luiz Queimado,
também preso em Bangu 1, foi
morto há 15 dias e encontrado no
porta-malas de um carro.
O relatório entregue à CPI tem
nomes de pelo menos cem advogados que visitaram com frequência os presídios de Bangu 1 e
Bangu 2 no ano passado.
Para o deputado Paulo Baltazar,
o trânsito dos advogados nas penitenciárias é "extremamente
suspeito". Segundo ele, o cruzamento de dados entre os livros de
visitas de Bangu 1 e Bangu 2 indica que os advogados estão circulando entre os dois presídios.
"Um dos pontos-chave é a utilização dos advogados para fazer o
trânsito entre as penitenciárias,
para levar mensagens, para a manutenção do tráfico de drogas.
Não é possível que eles lá de dentro comandem tanto. Alguém faz
isso", afirmou.
Segundo o deputado, muitos
advogados da lista sequer atuam
nos processos de seus clientes.
Baltazar disse que a CPI ainda não
definiu como vai agir em relação
aos advogados do relatório -se
vai, por exemplo, quebrar os sigilos bancário e telefônico deles.
O deputado afirmou que a CPI
não quer impedir a ação legal dos
advogados e sugeriu que o relatório seja entregue à OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil).
O subsecretário da Justiça, Milton Olivier, vem colhendo dados
para o relatório há dois meses. A
sindicância aberta para apurar o
caso ainda não está concluída. A
assessoria de imprensa da secretaria informou que nenhum funcionário foi implicado. Segundo a
assessoria, os presos podem indicar quantos advogados quiserem.
A OAB-RJ informou que vai
aguardar o relatório da CPI para
definir o que fará em relação aos
advogados.
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