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JANIO DE FREITAS
O assuntinho
Não há motivo algum para crer-se que de repente o petista Arlindo Chinaglia é o candidato do presidente Lula
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O BAFAFÁ DA disputa pela presidência da Câmara tem alguns ingredientes que não
merecem perder-se, sufocados por
outros destacados nos últimos dias
pelo comentarismo político. Um deles é a aparente ausência de Lula,
usufruindo da chuva inesgotável a
título de veraneio praieiro. Não haveria situação mais simbólica para
as férias do presidente das contradições.
Caso único de férias como primeira providência de mandato presidencial, Lula apoiou a escolha da
ocasião em dois argumentos. Um, a
conveniência de aguardar a eleição
na Câmara para só depois montar o
novo ministério, condicionado à
condução do trabalho (vá lá) dos deputados. O outro, claro, restaurar-se, para o futuro que pretende
exaustivo, de quatro anos no governo.
A começar pelo segundo argumento, o que vemos, de fato, é o presidente distanciado de suas funções
oficiais para descansar da atividade
particular, sem dúvida cansativa, de
candidato a presidente. Só no ano
passado, foram dez meses ininterruptos de viagens para todos os lados, comícios e discursos de todos os
tipos, e ainda as aparências, eventuais embora, de exercício do governo. Aí está o motivo convincente de
que, eleito, diplomado e empossado
para o segundo mandato, o presidente ainda não tenha presidido.
Se merecer mais crédito do que
seu companheiro, o outro argumento não escapa de uma constatação
que o arrasa: os fatos confirmam o
duplo erro tático de Lula, ao protelar
a indicação do ministério e ao afastar-se durante a disputa na Câmara.
Com a prevalência das liberações
de verbas sobre as razões políticas e
partidárias, para a decisão de votações na Câmara (processo consagrado desde o primeiro mandato de
Fernando Henrique), esvaziou-se a
influência dos governadores sobre
suas bancadas e cresceu a dos ministros. Hoje, porém, o ministério que
está tapando buraco não vale mais
nada; e o novo não existe. O fato de
que o novo plenário da Câmara só se
instale em fevereiro não faz diferença: nele haverá uns 10% de deputados estreantes, o restante continua
ou está de volta. Logo, cerca de 90%
dos deputados, sem excluir a maior
parte da oposição, estariam à mercê
da influência de ministros que Lula
julgou proteláveis. Ou seja, os inexistentes estariam em condições de
induzir a decisão conveniente ao governo.
Como complemento, e por idêntica falta de visão tática, Lula e o PSDB
estão na mesma encalacrada. Não
há motivo algum para crer-se que de
repente o petista Arlindo Chinaglia,
como afirmam tantas notícias, é o
candidato de Lula. Esta, até segunda
ordem, se houver, é uma balela para
encobrir o constrangimento do PT,
com Lula preferindo um não-petista; e prevenir uma saída para Lula,
caso Aldo Rebelo, o seu desejado
desde o início e com boas razões para isso, seja vencido por Arlindo Chinaglia (você me ouviu dizer quinália), até agora também deputado sério, mas não do petismo "Lula acima
de tudo".
Metade do PSDB não aceita o
apoio, decidido pelo líder da bancada, Jutahy Magalhães, a Chinaglia, o
petista. Mas a alternativa dessa metade peessedebista é ficar com Aldo,
o preferido de Lula. Ser ou ser, eis a
questão que divide os talentos do
PSDB.
Sejamos, no entanto, agradecidos
a todos esses personagens e seus
coadjuvantes. Deram um assuntinho político, o que, hoje em dia, é
quase um milagre.
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