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Cenário exige medida amarga, diz Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva instalou ontem o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social afirmando que a situação "gravíssima" do país obriga o governo a tomar "medidas
duras, algumas delas amargas"
que, segundo ele, são imprescindíveis para que a situação "econômico-financeira do país não saia
do controle".
Lula fez uma espécie de justificativa das medidas que o governo
teve que tomar no campo econômico, como o corte de R$ 14 bilhões no Orçamento e o aumento
da taxa de juros.
O presidente também fez duas
advertências sobre o conselho: o
grupo não é um "clube de amigos" do governo e deve resolver as
divergências e críticas internamente, assumindo responsabilidades do Executivo.
Os avisos aos conselheiros foram feitos de improviso no início
do discurso e rebatiam críticas de
que a maioria -57%- dos integrantes tem afinidade política
com o PT. Metade dos 82 conselheiros são empresários.
"Ninguém neste conselho foi escolhido por ser amigo do Lula, do
PT ou de qualquer outro partido
aliado nosso. Esse conselho não é
um clube de amigos", disse o presidente a cerca de 400 convidados.
Segundo Lula, o conselho dará a
oportunidade para que entidades
e pessoas que criticam o governo
pela imprensa apresentem propostas práticas.
Além disso, Lula enfatizou a
"co-responsabilização". Com isso, quer dividir com os conselheiros a missão de promover as cinco
reformas -previdenciária, tributária, agrária, política e trabalhista- e evitar que os integrantes
critiquem os trabalhos fora das
reuniões, como ocorreu com o
Fome Zero, projeto social prioritário do governo.
Num primeiro momento, o
conselho vai priorizar as reformas
previdenciária, tributária e trabalhista. "Não quero tomar decisões
de modo tecnocrático, sem ouvir
a sociedade. Não quero ficar prisioneiro de debates puramente
ideológicos, desvinculados da vida cotidiana do povo nem da burocracia do governo, que muitas
vezes acha que sabe e pode tudo",
afirmou Lula.
Apesar de já ter fixado um prazo
de 90 dias para a elaboração de
uma proposta de reforma da Previdência, Lula disse que o conselho não deve ter pressa. "Não temos que ter pressa porque a pressa é a razão do fracasso de muitas
coisas que há para fazer", disse.
Lula afirmou que há risco de
não haver dinheiro para bancar as
aposentadorias no futuro, mas
não citou pontos específicos e polêmicos, como o déficit da previdência pública e a exclusão de setores de um sistema único.
"Se o custeio do sistema não for
devidamente equacionado, muito
em breve não haverá dinheiro para pagar os benefícios no futuro.
Isso certamente não acontecerá
no meu governo. Mas, se o problema não for resolvido agora, fatalmente os jovens de hoje sofrerão amanhã as consequências",
alertou o presidente.
Jabuticabeira
Lula comparou o conselho a
uma jabuticabeira e pediu que haja paciência e dedicação para que
os trabalhos dêem frutos. Ele contou que plantou uma jabuticabeira e que, 15 anos depois, ela ainda
não dá frutos. Já sua mulher, Marisa Letícia, teve mais sucesso.
"Fiquei, como muitos ficam, todo santo dia, resmungando e dizendo que era impossível [dar
frutos]", disse Lula. "Como ela
[Marisa] acreditou mais do que
eu, cuidou mais do que eu, o pé de
jabuticaba no apartamento dá
frutos quatro ou cinco vezes por
ano, coisa que esse conselho pode
fazer se quiser."
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