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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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Cenário exige medida amarga, diz Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou ontem o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social afirmando que a situação "gravíssima" do país obriga o governo a tomar "medidas duras, algumas delas amargas" que, segundo ele, são imprescindíveis para que a situação "econômico-financeira do país não saia do controle".
Lula fez uma espécie de justificativa das medidas que o governo teve que tomar no campo econômico, como o corte de R$ 14 bilhões no Orçamento e o aumento da taxa de juros.
O presidente também fez duas advertências sobre o conselho: o grupo não é um "clube de amigos" do governo e deve resolver as divergências e críticas internamente, assumindo responsabilidades do Executivo.
Os avisos aos conselheiros foram feitos de improviso no início do discurso e rebatiam críticas de que a maioria -57%- dos integrantes tem afinidade política com o PT. Metade dos 82 conselheiros são empresários.
"Ninguém neste conselho foi escolhido por ser amigo do Lula, do PT ou de qualquer outro partido aliado nosso. Esse conselho não é um clube de amigos", disse o presidente a cerca de 400 convidados.
Segundo Lula, o conselho dará a oportunidade para que entidades e pessoas que criticam o governo pela imprensa apresentem propostas práticas.
Além disso, Lula enfatizou a "co-responsabilização". Com isso, quer dividir com os conselheiros a missão de promover as cinco reformas -previdenciária, tributária, agrária, política e trabalhista- e evitar que os integrantes critiquem os trabalhos fora das reuniões, como ocorreu com o Fome Zero, projeto social prioritário do governo.
Num primeiro momento, o conselho vai priorizar as reformas previdenciária, tributária e trabalhista. "Não quero tomar decisões de modo tecnocrático, sem ouvir a sociedade. Não quero ficar prisioneiro de debates puramente ideológicos, desvinculados da vida cotidiana do povo nem da burocracia do governo, que muitas vezes acha que sabe e pode tudo", afirmou Lula.
Apesar de já ter fixado um prazo de 90 dias para a elaboração de uma proposta de reforma da Previdência, Lula disse que o conselho não deve ter pressa. "Não temos que ter pressa porque a pressa é a razão do fracasso de muitas coisas que há para fazer", disse.
Lula afirmou que há risco de não haver dinheiro para bancar as aposentadorias no futuro, mas não citou pontos específicos e polêmicos, como o déficit da previdência pública e a exclusão de setores de um sistema único.
"Se o custeio do sistema não for devidamente equacionado, muito em breve não haverá dinheiro para pagar os benefícios no futuro. Isso certamente não acontecerá no meu governo. Mas, se o problema não for resolvido agora, fatalmente os jovens de hoje sofrerão amanhã as consequências", alertou o presidente.

Jabuticabeira
Lula comparou o conselho a uma jabuticabeira e pediu que haja paciência e dedicação para que os trabalhos dêem frutos. Ele contou que plantou uma jabuticabeira e que, 15 anos depois, ela ainda não dá frutos. Já sua mulher, Marisa Letícia, teve mais sucesso.
"Fiquei, como muitos ficam, todo santo dia, resmungando e dizendo que era impossível [dar frutos]", disse Lula. "Como ela [Marisa] acreditou mais do que eu, cuidou mais do que eu, o pé de jabuticaba no apartamento dá frutos quatro ou cinco vezes por ano, coisa que esse conselho pode fazer se quiser."


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