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BRASIL PROFUNDO
Empregado de fazendeiro acusado pelos sem-terra é morto
Após morte de freira, polícia apura novo assassinato no PA
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA (PA)
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Foi morto na noite de anteontem, em Anapu (oeste do Pará),
um funcionário do fazendeiro
apontado pela CPT (Comissão
Pastoral da Terra) como provável
mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Mae Stang, 73, ocorrido horas antes no mesmo município.
Adalberto Xavier Leal, 38, foi assassinado a tiros de espingarda,
segundo a Polícia Civil, que trabalha com a hipótese de vingança
pela morte da religiosa.
Familiares de Leal disseram à
polícia de Anapu que dois colonos de um assentamento da região chegaram a sua casa armados, atiraram contra ele e fugiram. A polícia não conseguiu
identificar os dois acusados.
Leal trabalhava no loteamento
55 -que pertence, segundo a
CPT, a Dinair Feijó da Cunha,
apontado pela entidade como
suspeito de ser o mandante da
morte de irmã Dorothy. A polícia
não confirma a suspeita. O fazendeiro não foi localizado pela reportagem.
De acordo com o delegado de
Anapu, Marcelo Ferreira de Souza Luz, a missionária foi morta
por volta de 7h30 de anteontem
com nove tiros. O corpo ainda seria examinado pelo IML.
Segundo o delegado, o local do
crime, uma estrada de terra íngreme de difícil acesso e cercada de
mata, fica a 53 km da sede de Anapu, entre os loteamentos 16 e 55
-a área que seria de Dinair.
A Polícia Federal abriu ontem
um inquérito paralelo ao da Polícia Civil do Pará para investigar o
assassinato da missionária.
"As mortes têm relação. Há informações de que teriam sido
amigos da irmã que revidaram.
Estamos investigando", disse o
superintendente da Polícia Federal do Pará, José Ferreira Sales.
A CPT, entidade para a qual Dorothy Stang atuava na região, não
quis se pronunciar ontem sobre a
possibilidade de a morte do funcionário ter sido um revide ao assassinato da missionária.
Mas outro grupo em que a religiosa atuava, a Associação Solidária Ecológica de Frutas da Amazônia, negou as informações da polícia e disse que os dois casos podem não estar relacionados.
Segundo Geraldo Magela, técnico da associação, "da parte dos
agricultores não ocorreu represália". Ele afirmou que Adalberto
Xavier Leal era um assentado do
lote 16, que não estaria trabalhando para o fazendeiro Dinair. O
técnico disse ainda que não sabe
quem poderia ter cometido o crime. "Mas a informação é que pistoleiros estão na área", afirmou.
Prisão preventiva
A Polícia Civil pediu a prisão
preventiva de três suspeitos de
envolvimento na morte de irmã
Dorothy. Um deles seria o mandante e os outros dois, pistoleiros.
Uma quarta pessoa também é investigada. A polícia não quer divulgar seus nomes até que seja
efetuada a prisão dos acusados.
A polícia disse que só uma pessoa -um trabalhador rural-
acompanhava a irmã e presenciou a execução. Os disparos, que
se alojaram nas costas e na cabeça,
foram feitos a uma distância de
dois metros. Segundo depoimento à polícia, dois homens abordaram a freira, que ia a uma reunião
com agricultores, numa estrada
de terra. Ela achou que eles queriam conversar e chegou a abrir a
Bíblia e ler um trecho aos dois, antes de um deles se afastar, sacar a
arma e realizar os disparos.
A polícia conseguiu identificar
os suspeitos através de um retrato
falado feito pela testemunha, que
está sob proteção do Estado.
O corpo da missionária foi levado a Belém para realização da necropsia. O vôo só chegou na capital paraense às 16h30 (horário local) devido ao mau tempo.
O enterro de Dorothy Stang deve acontecer hoje em Anapu, onde ela atuava nos últimos anos como crítica a madeireiros e latifundiários. De acordo com a ordem
das Irmãs de Notre Dame de Namur, a freira manifestava o desejo
de ser sepultada na cidade.
Escórias
Ao receber no sábado a notícia
do crime, dada por Marina Silva
(Meio Ambiente), o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) que a PF auxiliasse nas investigações. Marina e Nilmário Miranda (Direitos Humanos) viajaram para Anapu para
avaliar a situação.
"[Os madeireiros] não são pessoas de bem, são escórias que vêm
de várias partes do país. Digo isso
porque não é justo dizer que são
mineiros ou paulistas. São pessoas muito barra pesada, que
usam a lei do gatilho e afrontam o
Estado", descreveu Marina.
Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de
Brasília
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