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SAIBA MAIS
Terras da União tornam região mais explosiva
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os conflitos fundiários de
Anapu (PA) que, segundo informações da polícia, motivaram o assassinato da irmã Dorothy Stang, estão relacionados
a terras devolutas (pertencentes à União) que há três anos
começaram a ser usadas na reforma agrária do governo.
Desde a década de 70, fazendeiros passaram a ocupar terras devolutas na região de Anapu com autorizações expedidas
pelo próprio governo federal.
Era parte da política de expansão da fronteira agrícola e de
ocupação da Amazônia incentivada pela ditadura.
Nos últimos anos, porém, o
Incra (Instituto Nacional de
Colonização Agrária) começou
a usar essas terras para assentamentos rurais, o que despertou
a reação dos fazendeiros.
Na maioria dos casos, fazendeiros-madeireiros não conseguem provar a posse das terras,
embora 11 desses processos de
arrecadação de terras do Incra
já tenham sido embargados
por decisão da Justiça Federal
de Marabá (PA), o que foi comemorado por fazendeiros.
Os CATPs (Contratos de
Alienação de Terras Públicas)
permitiram aos fazendeiros
promover desmatamentos na
região que é tida como a cabeceira da "Terra do Meio", de
cerca de 9 milhões de hectares,
considerada o maior território
contínuo de florestas no Pará,
ainda sem proteção legal.
Os contratos, assinados por
tempo limitado, começaram a
perder efeito na década de 90, e
o Incra decidiu não renová-los.
Desde 1990, cerca de 800 famílias já foram assentadas pelo
Incra em duas áreas de Anapu,
que somam 145 mil hectares.
Nessas terras é desenvolvido o
PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), assentamentos que mesclam agricultura e manejo ambiental.
Cada uma das de terras destinadas a assentamento, em média com 6.000 hectares, passou
a ser foco de conflito na zona
rural de Anapu. Muitos fazendeiros, alegando "preservar direitos" sobre uso de suas terras
e tráfego em estradas vicinais,
passaram a contratar seguranças. Para as entidades de direitos humanos, as firmas abrigam pistoleiros de aluguel.
Em junho do ano passado, a
Polícia Civil do Pará prendeu
na região cinco seguranças
com dez armas de fogo, sob
acusação de integrarem grupos
clandestinos de apoio a grileiros e madeireiros.
Escaramuças armadas entre
firmas e trabalhadores rurais
passaram a ser mais freqüentes. A irmã Dorothy Stang
apoiava um desses grupos de
trabalhadores que entraram
em conflito em Anapu. Estava
na cidade havia três anos, dando suporte, em nome da CPT, à
organização de associações e
sindicatos de trabalhadores.
No dia 31 de maio passado,
José Antônio Nascimento, funcionário da fazenda Santa Maria, foi morto a tiros. A polícia
chegou a indiciar a irmã sob
acusação de co-autoria do crime. Embora já na época ameaçada, Dorothy nunca recebeu
proteção policial. A denúncia
contra ela ainda não havia sido
julgada pela Justiça. (RV)
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