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BRASIL PROFUNDO
Entidades denunciam violência na região; UDR diz que Estado não apurou as ameaças contra Dorothy
MST e ruralista apontam omissão do governo
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cada um à sua maneira, o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) e a UDR
(União Democrática Ruralista),
organizações de interesses opostos, responsabilizaram ontem o
governo pela violência no campo
e pelo assassinato de sua mais nova vítima, a freira Dorothy Stang.
Gilmar Mauro, da coordenação
do MST, diz que a estrutura agrária aliada a "um histórico de impunidade" alimenta o conflito no
campo. Segundo ele, o problema
não é localizado, mas nacional,
produto da omissão do poder público, e só será resolvido com a reforma agrária. "Estamos entristecidos e revoltados porque essa situação [de concentração de terra]
perdura. Esperamos do governo
uma punição exemplar. Mas não
é isso que tem acontecido no
país", afirmou o sem-terra.
A Secretaria Nacional da CPT
(Comissão Pastoral da Terra) informou que apresentará dados segundo os quais a submissão do
governo aos interesses do agronegócio estimula a violência no
campo. Dom Tomás Balduíno diz
que "a melhor forma de manifestação da CPT é dar repercussão à
denúncia de irmã Dorothy".
Segundo ele, o governo estimula
o agronegócio como fonte de divisas, mas, "onde floresce, o agronegócio aumenta a violência".
Ainda segundo ele, irmã Dorothy
denunciava "um poder paralelo".
O presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, chama o
governo de parcial e unilateral,
"escancaradamente aliado de um
lado". "Por que o governo não
apura a denúncia que ela [Dorothy] forneceu arma para o assassinato de um segurança?"
Repetindo que nada justifica assassinato, Nabhan alega, porém,
que o governo é incompetente
por não concluir a reforma agrária dentro da lei.
O presidente do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Rolf Hackbart, visitou ontem Anapu e disse que o
clima no assentamento onde a
freira foi morta é tenso. Ele anunciou o reforço da unidade do Incra em Altamira.
Ao lamentar a morte de irmã
Dorothy, organizações da sociedade civil sugeriram ao governo
intervenção federal no sul e no sudeste do Pará. Defensor da intervenção, o coordenador-executivo
da ONG Terra de Direitos, Darci
Frigo, diz que o governo federal
cede à pressão dos madeireiros.
"Não dá mais para o ministro
Nilmário Miranda ir a Belém fazer uma audiência [para organizar um sistema de proteção aos
defensores de direitos humanos]
enquanto o presidente Lula cede à
pressão dos madeireiros."
O advogado afirma que o recente acordo do governo com os madeireiros locais, que abriu a possibilidade de autorizar 17 planos de
manejo "ilegais" no Pará, "provou que, com pressão, é possível
conseguir o que se quer".
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) divulgou
nota do arcebispo metropolitano
de Belém, dom Orani João Tempesta, temendo que "o crime fique como apenas mais um em
nossa história". A nota diz ainda
que "o ocorrido neste sábado em
Anapu desafia as autoridades
diante da impunidade".
A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) exigiu, em nota, que o presidente Lula tome ações "duras"
contra os assassinos e mandantes.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB disse que "é
chegado o momento de o Estado
brasileiro, que já viola os direitos
humanos, passar a dar garantias e
adotar providências".
Também em nota, a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do
Brasil) pediu "urgência" na instalação da Vara Federal de Altamira, prevista desde 2003.
O Greenpeace enviou carta ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao governador Simão Jatene
(PSDB-PA), na qual diz que o episódio é "escandaloso. Mais um
triste exemplo da impunidade e
da ausência do governo em regiões remotas da Amazônia".
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