São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

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ELEIÇÃO NA CÂMARA

Deputado afirma que não vai desistir de sua candidatura e que partido tenta "desvirtuar" foco de discussão

Virgílio desacata PT e diz que teme fraude

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

À véspera da eleição para a presidência da Câmara, o candidato Virgílio Guimarães (PT-MG) se recusou ontem a atender ao apelo da Executiva do PT para retirar sua candidatura. Ainda por cima, lançou dúvidas sobre a lisura da votação de hoje, levantando a possibilidade de fraude.
Virgílio disse que teve a informação de que poderia haver distribuição antecipada de cédulas marcadas, o que permitiria, depois da votação, saber como foram os votos dos deputados. "A carne é fraca, o sistema é vulnerável", afirmou, antes de jantar organizado por entidades mineiras em apoio à sua candidatura, ressaltando, contudo, que não acredita que o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), permita algo dessa natureza.
Ele pedirá hoje a João Paulo que as cédulas sejam distribuídas apenas na hora da votação. Não havia deputados petistas no jantar, que teve a presença de cerca de 100 pessoas e 50 deputados, segundo a assessoria de Virgílio.
A coordenação de comunicação do candidato Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) classificou de "absurdas" as afirmações, saídas, segundo um assessor, "de uma cabeça desesperada, com o desespero da derrota".
Ao longo da tarde, Virgílio tentou convencer os demais candidatos a denunciar o risco de fraude. Mas não funcionou.

A luta continua
Por sua assessoria, ele disse não ao pedido do PT, afirmando que era uma tentativa de desvirtuar o foco da discussão, que são as propostas de cada candidato. No sábado, o presidente do PT, José Genoino, informou a decisão de pedir que desistisse.
Genoino disse ontem que vai apelar até a votação para que desista. A preocupação é que Virgílio divida os votos e cause segundo turno, tornando a situação de Greenhalgh difícil. Os deputados acreditam que um segundo turno seria entre o candidato do Planalto e Severino Cavalcanti (PP-PE).
Na tentativa de consolidar o apoio da base a Greenhalgh, o PT ofereceu ontem um churrasco a cerca de 185 deputados, segundo a liderança do partido. Sete ministros também estiveram na casa do filho do deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE).
No almoço, houve um mal-estar quando, cercado por petistas da chamada tropa de choque governista, o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), tentou convencer o líder Arlindo Chinaglia (PT-SP) a cancelar a reunião da bancada, programada para depois. "Está suspensa, então", disse Luizinho. "De jeito nenhum", respondeu Chinaglia. "Mas há um boato [de que não vai ter reunião]", pressionou Paulo Pimenta (RS). "Quem foi o vagabundo [que disse]?", perguntou Chinaglia diante de colegas.
Segundo um petista, a idéia de adiar para hoje a reunião era de impedir que o partido escolhesse um titular para a ouvidoria da Câmara -da cota do PT- antes que se fechasse um acordo que dê o cargo para o PSDB. A reunião foi mantida, mas não foi escolhido o candidato à ouvidoria.
Em discurso, Greenhalgh e o atual presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), pediram aos deputados que continuem o esforço de boca-de-urna para garantir a vitória no primeiro turno.
"Vamos em frente, à luta, nessa mesma garra que a gente está vindo até aqui, para garantir amanhã [hoje] a vitória no primeiro turno", disse Greenhalgh, que depois se reuniu com lideranças petistas.

Mea-culpa
Em seu discurso, João Paulo disse que, no passado, o PT não soube compreender a importância de o partido majoritário indicar o presidente da Câmara. "Isso é uma lição, em particular para os partidos que são menores e para nós, do PT, que em outros momentos não soubemos interpretar aquilo que é tradicional na Casa e que é também um valor importante para a democracia."
Na reunião após o churrasco estiveram Genoino, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e Greenhalgh. Os petistas pediram que cada deputado convença seus colegas.
Já Virgílio fez campanha em São Paulo, onde deu entrevista para um programa de televisão. À tarde, esteve reunido com coordenadores de campanha em Brasília.
Para conseguir o apoio do PSDB à candidatura de José Carlos Aleluia (PFL-BA), o PFL vai jogar com a aliança entre as duas legendas para a eleição presidencial do ano que vem.
Ao reafirmar ontem que permanece na disputa pelo comando da Câmara, Aleluia disse que a união de forças entre os dois partidos agora demonstraria as condições para replicar no ano que vem a coligação que elegeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994. "Gostaríamos de ter o apoio formal do PSDB", afirmou.
A eleição acontece hoje, às 16h. Há cinco candidatos disputando a presidência: Greenhalgh, Virgílio, Cavalcanti, Aleluia e Jair Bolsonaro (PFL-RJ). A votação é feita em cédulas de papel e precisa de quórum mínimo de 257 deputados.
Compareceram ao churrasco o ministro da Previdência, Amir Lando (PMDB-RO), o dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL-AM), o das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o dos Esportes, Agnelo Queiroz (PC do B-DF), o da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB-PE), o da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o da Pesca, José Fritsch (PT-SC).

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