São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

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Planalto filia 4 ao PMDB no fim de semana

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto filiou deputados ao PMDB durante o final de semana para tentar diminuir o poder no partido do secretário de Governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Essa movimentação fez a bancada da legenda ficar do tamanho da do PT, que era a maior da Casa. As duas siglas estavam com 90 deputados até o fechamento desta edição.
O objetivo é tentar impedir a estratégia de Garotinho e do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), de tirar o deputado José Borba (PR), que é governista, da liderança do partido, e colocar em seu lugar o deputado Saraiva Felipe (MG), que é da ala oposicionista.
O grupo de Garotinho deve votar no deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) para a presidência da Câmara. O candidato oficial do PT, apoiado pelo Palácio do Planalto, é o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).
"No PMDB está uma guerra entre governistas e oposicionistas. O Garotinho entrou pesado e está filiando deputados. Estamos torcendo e até trabalhando para que o Borba ganhe essa parada. Se ganha a turma do Temer, eles vão ter a maior bancada, e nós não vamos ter a primazia da escolha das comissões", disse o líder do PT, deputado Arlindo Chinaglia (SP), para a bancada petista.
O ministro Eunício Oliveira (Comunicações) filiou ao PMDB quatro deputados durante o final de semana: Lúcia Braga (PT-PB), Lino Rossi (PP-MT), Enio Tatico (PTB-GO) e Renato Cozzolino (PSC-RJ). Mais parlamentares eram esperados até o final da noite de ontem. A ofensiva governista é para se contrapor à filiação de sete deputados feita por Garotinho no início deste mês.
"Essa vai ser uma noite longa e teremos também um longo dia amanhã [hoje]. Não podemos entrar com a musculatura frouxa", disse Chinaglia na reunião da bancada petista.
O efeito colateral da manobra do Planalto para aumentar o PMDB é que as presidências das comissões temáticas da Câmara são definidas de acordo com o tamanho das bancadas.
Ao perder a primazia da escolha das comissões, o PT pode ficar sem a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que é a mais importante da Casa. Um acordo feito com Borba vai garantir a CCJ para os petistas se ele continuar na liderança do PMDB.
Se Borba for retirado da liderança pelo grupo de Garotinho, o PT vai formar um bloco com outros partidos da base aliada para manter a prioridade da escolha das comissões. Esse bloco deve ser desfeito logo após a definição das presidências das comissões.

Troca-troca
Nesta legislatura, 132 deputados - 25,7% da Câmara- trocaram de partido 159 vezes, de acordo com levantamento em todos os partidos até sexta-feira. Cinco deputados foram campeões de infidelidade, pertencendo a quatro siglas nestes dois anos de mandato. Os cinco são ligados a Garotinho.
Nesta época do ano, aumenta o troca-troca partidário, pois as presidências das comissões temáticas da Câmara são definidas de acordo com o tamanho das bancadas. A do PT na Câmara, por exemplo, que havia atingido 91 integrantes com a chegada da deputada Ana Guerra (MG), voltou ontem para 90 deputados. Ana Guerra ocupou o lugar do terceiro suplente Alexandre da Silveira de Oliveira (PL-MG), que ainda não havia assumido.
Os campeões de troca de legenda neste mandato foram os deputados Cabo Júlio (PMDB-MG), Carlos Willian (PMDB-MG), Zequinha Marinho (PMDB-PA), Sandro Matos (PTB-RJ) e Pastor Amarildo (PMDB-TO).
O deputado Carlos Willian usou uma metáfora para explicar a troca de partidos. "No futebol tinha a paixão pelo time, hoje existe o troca-troca dos jogadores por interesse financeiro. A mesma coisa acontece com os partidos, não tem mais identidade", disse ele.
Cabo Júlio disse que foi para o PMDB para eleger dois mineiros: Virgílio na presidência e Saraiva Felipe na liderança. As motivações seriam acordos regionais para as próximas eleições. Ele pretende se candidatar à reeleição.
Sandro Matos (PTB-RJ) rompeu com Garotinho nas eleições municipais de outubro, mas disse que trocou tantas vezes de partido acompanhando o ex-governador. Zequinha Marinho (PMDB-PA) também disse que trocou de legenda seguindo Garotinho. Pastor Amarildo (PMDB-TO) estava no interior do Estado e não foi localizado pela sua assessoria.
Uma das formas de coibir a infidelidade partidária é a aprovação da reforma política, que está parada na Câmara. A proposta em tramitação obriga os parlamentares a ficarem em uma mesma sigla três anos antes da eleição.

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