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JANIO DE FREITAS
Aniversário da queda
No pasmo excitante das revelações nas CPIs, não se atentou bem para a grandeza da
tragédia que atingiu o PT. Muito menos o fizeram os petistas,
ainda irrecuperados do vendaval que supuseram ser um sopro
maldoso de adversário, até perceberem que foram varridos os
seus justos orgulhos, a honradez
conquistada na ação e a fé na
sua diferença. Um desastre gigantesco. Político e humano.
Mas sua ocorrência só foi possível porque, muito antes, os alicerces do PT foram retirados,
sob o olhar e o silêncio complacentes dos petistas hoje perplexos.
No instante mesmo em que assumiu o poder, Lula impediu o
PT de ser governo. Do PT, só puderam ter acesso a cargo no governo os que relegaram todo sinal de petismo e aderiram às
doutrinas política, econômica,
administrativa e "reformista"
praticadas pelo governo da irmandade PSDB/PFL. O governo
Lula formava sua própria irmandade com o PL de Valdemar Costa Neto, o PP malufista,
o PTB de Roberto Jefferson, o
PDT não-pedetista e a corrente
oficialismo-eterno do PMDB.
E o PT, o PT dos 800 mil filiados, o PT que se fazia representação das mudanças corretivas,
tudo aceitou calado. Mesmo entre os seus filiados com notória
capacidade analítica e crítica,
não preenchem os dedos da mão
(esquerda, naturalmente) os
que ergueram a cabeça e a hombridade. O PT já estava quebrado quando Lula chegou ao poder.
É comum a afirmação de que
o PT começou a mudar quando,
a qualquer altura, passou a ambicionar a conquista do poder.
O PT almejou o poder desde que
se constituiu. Ou não se faria
partido, porque é da natureza
dos partidos, e o que lhes dá sentido, o propósito de elevar-se ao
poder. O que deu ao PT uma
personalidade única na cena
partidária, foi a originalidade
de ser, a um só tempo, partido e
movimento. Pela razão mesma
de representar as aspirações de
mudanças estruturais, capazes
de diminuir as desigualdades e
aumentar as oportunidades onde faltam, com a fisionomia de
partido o PT assumiu, sobretudo, o espírito próprio dos movimentos. Daí que nele se tenham
juntado aos sindicalistas, que
seriam os trabalhadores do nome, tantos estudantes, intelectuais e outras partes expressivas
da classe média.
O projeto Dirceu/Lula para o
PT extinguiu o sentido de movimento. Voltava-se, ainda, para
o domínio interno. Ao ascender,
a coletividade do petismo passou a ser vista, cada vez mais,
apenas como instrumento tático
da cúpula centralizadora. A visão utilitária impôs-se à visão
partidária, reprimiu-a e a esfacelou. Não o PT, mas o petismo
estava falido. Sem o alicerce que
era o seu sentido de movimento,
tornou-se um partido como outro qualquer. E o PT que se fizera representação das mudanças
corretivas, este PT calou-se.
Quem não tem medo de ver
sabe que Lula e Dirceu são os
responsáveis pelo ocorrido ao
PT e ao petismo. Essa história de
que "Lula não traiu, Lula foi
traído, este governo foi eleito para promover mudanças substanciais e isso não ocorreu", essa
história é fuga. O governo não
foi eleito. O eleito foi Lula, e o
governo foi constituído -por
Lula. Em conformidade com o
projeto Dirceu/Lula que reduziu
o PT a instrumento de manobra
da cúpula do partido e, depois,
cúpula do governo. Não por
acaso, a mesma.
Só se pode imaginar que a festa de aniversário do PT, ontem,
tenha celebrado o terceiro aninho do novo PT, confraternizado com PL, PTB, PP, PMDB governista. Ou tenha sido uma
reunião de saudosismo sem remédio e sem consolo.
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