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ELIO GASPARI
Precisa-se de patrulhas para a Previdência
Um naco da intelectualidade e da política brasileiras
come no andar de cima
e morde o de baixo
QUANTO MAIOR o debate da reforma da Previdência, melhor. Aqui vai uma contribuição que não acrescenta grandes lances às mudanças, mas retira parte da
hipocrisia dos personagens desse
pagode.
Tocando no ponto central da elevação da idade limite para as aposentadorias da patuléia do INSS,
Nosso Guia disse o seguinte:
"Tem problema de idade? É possível que tenha. Vamos tentar resolver
isso, mas discutindo com a responsabilidade de um país que quer prometer ao seu povo, daqui a alguns
anos, um sistema de Previdência
que seja seguro. (...) Eu acho que tem
trabalhador que poderia trabalhar
um pouco mais".
A proposta é que cada declaração
como essa seja acompanhada pela
qualificação (se possível, voluntária)
do sábio. Coisa assim:
"Lula, 61 anos, aposentou-se em
1997, aos 52 anos. Desde então recebe uma Bolsa Ditadura que hoje está
em R$ 4.509,68 mensais."
Cada doutor que desse uma opinião a respeito da reforma da aposentadoria da choldra informaria ao
público sua posição na nobiliarquia
previdenciária.
Ilustres professores de universidades públicas assinariam artigos
informando que são mestres de cá e
aposentados d'acolá. Haverá casos
de sábios que se aposentaram sem
quebrar a marca das cem aulas. Tudo dentro da lei, no mais absoluto
respeito aos trâmites.
Um em cada quatro parlamentares ganha alguma coisa como aposentado. Dezenove Estados pagam
prebendas a ex-governadores ou
suas viúvas. Essas bocas ricas são somadas aos vencimentos do Congresso.
Poderosos economistas estão associados a programas de Previdência de estatais que já consumiram
dezenas de bilhões de reais da Viúva
na terraplenagem de seus buracos.
A acumulação de aposentadorias
do serviço público com atividades
profissionais em hospitais, casas
bancárias ou centros de quiromancia econômica, é legal, legítima e lisa,
mas é também informativa, sobretudo quando o cidadão discute a reforma da Previdência em geral.
Ninguém deve ter vergonha do
que recebe. Toda pessoa que se considera habilitada a discutir a reforma da Previdência teria a generosidade de informar onde se abrigou
para escapar da velhice-caraminguá
do INSS.
Há nesse conjunto uma exceção. É
o cidadão que não tem a ver com as
aposentadorias públicas e estatais.
Ele contribui para o INSS, participa
do plano de previdência da empresa
privada onde trabalha ou comprou
uma apólice individual. Esse teria a
satisfação de se identificar assim:
"Não sou aposentado da Viúva.
Quando quiser parar de trabalhar,
receberei aquilo que investi, que não
é da conta de ninguém."
A apresentação das propostas de
reforma da Previdência com a qualificação nobiliárquica do autor mostrará como um naco da intelectualidade e da política brasileira comem
no andar de cima e mordem o de baixo.
A discussão ficará mais animada
se alguém formar patrulhas previdenciárias. Xeretas de todas as castas podem descobrir incríveis aposentadorias, listando-as em algum
canto da internet.
Lula tinha 52 anos quando começou a receber dinheiro da Viúva sem
a contrapartida do trabalho. Não foi
páreo para o patrono das ekipekonômicas brasileiras.
O Visconde de Cairu aposentou-se pela primeira vez em 1797, aos 41
anos. Acumulou uma Bolsa Portugal
com três empregos públicos, inclusive uma cátedra-fantasma.
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