São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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ELEIÇÕES 2004

Secretário da Segurança inicia campanha tucana com ataques e afasta consenso em torno de candidatura

Fã de Sérgio Motta, tucano quer "ir pra cima"

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um cigarro Minister em uma das mãos e um revólver de titânio na outra, Saulo de Castro Abreu Filho faz piada com um policial ao seu lado: "Essa é modelo feminino", referindo-se ao fato de a arma ser mais leve que as tradicionais, feitas de aço.
Saulo, 42, é secretário da Segurança Pública e provável candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. A frase, em tom de brincadeira, foi dita anteontem de manhã em uma reunião do tucano com policiais portugueses que a Folha acompanhou.
As chances do secretário na disputa interna do PSDB estão calcadas no respaldo que ele tem do governador tucano Geraldo Alckmin, um dos principais entusiastas de sua candidatura à sucessão da petista Marta Suplicy, lançada à reeleição ainda em 2003.
Dono de um estilo que ele mesmo, em conversas reservadas com os mais próximos, chama de "agressivo", o secretário, nos últimos dias, em tom notadamente eleitoral, criticou a administração da prefeita Marta e o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
"Vou para cima", costuma dizer o secretário. Em seu gabinete, no centro da cidade, um dos livros que guarda é a biografia do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta, morto em 1998, apelidado pelos colegas de partido de "trator do PSDB", graças ao estilo arrojado com que fazia política.
Mas a reação imediata aos primeiros movimentos de ataque de Saulo não veio apenas do PT, que divulgou uma nota em repúdio às acusações de que "PM governa a cidade de São Paulo".
Líderes tucanos ouvidos pela Folha criticaram a estratégia de Saulo por entenderem que ele tenta usar o bom trânsito que tem com Alckmin para impor seu nome dentro do partido. Decidiram também aumentar a pressão em favor das prévias.
Além do secretário, outros três tucanos pleiteiam o direito de disputar a eleição: os deputados federais Walter Feldman e Zulaiê Cobra e o ex-presidente nacional do partido José Aníbal.
O ex-senador José Serra, hoje presidente do PSDB, também é um dos nomes cotados, mas tem dito que não quer a indicação. Se decidir disputar, será consenso.
Outra resistência a Saulo dentro do PSDB diz respeito à postura do tucano na secretaria. Ele é considerado "linha-dura" por setores históricos, afinados com os discursos em defesa dos direitos humanos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Mário Covas (1930-2001).
Na pasta, o secretário comandou o episódio conhecido como "Castelinho", quando, em março de 2002, 12 criminosos foram mortos em confronto com a PM. Ele nega irregularidade no caso e disse que havia assumido o cargo a menos de um mês.
Entre os tucanos, por exemplo, circula a piada de que o slogan do futuro candidato para este ano já está pronto: "São Paulo é Saulo porque Saulo é trabalhador", em uma alusão ao tema de campanhas anteriores de Paulo Maluf.
Sem histórico partidário -Saulo se filiou ao PSDB em outubro do ano passado- e sem base entre os militantes, o secretário tornou a unidade que o PSDB busca para definir seu pré-candidato a prefeito ainda mais distante depois que se lançou publicamente à disputa no início deste mês.
O presidente municipal do PSDB, Edson Aparecido, não comenta as pré-candidaturas e diz que o partido chegará a um consenso, mas admite que, se o candidato tivesse que ser escolhido hoje, ocorreriam prévias. "Por isso, vamos iniciar reuniões regionais para debater o tema", disse.
O apoio à candidatura Saulo está principalmente no governo do Estado, onde ele passou pelos segundo e primeiro escalões. Em torno de seu nome, trabalham integrantes do chamado grupo "covista", ligado à herança política de Covas, como o presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira Filho, e tucanos hoje mais próximos a Alckmin, como o secretário de Governo, Arnaldo Madeira.
O secretário dos Transportes do Estado, Dario Rais Lopes, por exemplo, classifica Abreu Filho como uma pessoa com vocação natural para lidar com situações complexas, como a segurança pública. "Isso já o qualifica para assumir uma gestão complexa como a de São Paulo", disse.
A "alternativa Saulo" como candidato surgiu no governo no início do ano passado, após Alckmin ter avaliado que ele foi decisivo para sua reeleição.
A área da segurança pública era o "calcanhar de Aquiles" do governador, desgastado pelo seqüestro seguido de morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, em janeiro de 2002.
Saulo assumiu a pasta em janeiro daquele ano. Desde então, na avaliação de Alckmin, o setor, apesar de ainda problemático, vem demonstrando bons resultados. O governador também diz que "um nome novo, de perfil executivo", seria uma boa alternativa para os tucanos.
Enquanto aguarda a definição partidária, prometida para o próximo mês, o secretário segue sua rotina à frente da pasta e visita diretórios zonais do PSDB, em uma tentativa de preencher a lacuna que tem na base do partido. Ao pedir apoios, deixa claro o tom personalista: "é um desafio pessoal governar a cidade".


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