São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTADO DE ALERTA

Deputados se isolaram em um hotel de Atibaia (SP) para "se vigiarem"

Oposição viaja para não perder votos


DA REPORTAGEM LOCAL

Com o retorno ontem do governador Geraldo Alckmin (PSDB) a São Paulo, ao menos 30 deputados oposicionistas se isolaram num hotel em Atibaia (a 60 km de SP) para tentar evitar a migração de votos para o candidato do governo do Estado. O que está em jogo é o nome do próximo presidente da Assembléia de São Paulo, que será definido amanhã.
A disputa antecipa a eleição do ano que vem, quando serão escolhidos o presidente da República e os novos governantes estaduais. Alckmin, pré-candidato à Presidência, espera o apoio do Legislativo nos dois últimos anos de governo.
O candidato do governo ao posto é Edson Aparecido (PSDB). Em viagem aos EUA, Alckmin foi informado da entrada de Rodrigo Garcia, líder do PFL, na disputa. A candidatura de Garcia abala a aliança entre tucanos e pefelistas para 2006 e dá mais oxigênio ao PT, que acredita na possibilidade de enfraquecer o PSDB no Estado.
Ontem, o governador telefonou para alguns deputados da oposição e se reuniu com outros no Palácio dos Bandeirantes. Na quinta, um tucano dizia nos corredores da Assembléia que o governo estadual "ainda não havia usado nem uma pá carregadeira, quanto mais um trator", querendo dizer que usaria todos os recursos para atrair os que estivessem com Garcia.
Foi para evitar possível migração de votos que a oposição se reuniu em Atibaia. "Aqui, um vigia o outro", afirmou um parlamentar. Todos viajaram com a família. As despesas, disseram, foram pagas do próprio bolso.
O grupo que se formou em torno de Garcia informa ter 55 votos -9 a mais do que o necessário para eleger o presidente.

2006
Adversário nacional do PFL, o PT não perdeu tempo em aderir, com seus 23 deputados, à candidatura de Garcia. O objetivo é tirar o PSDB da presidência, impondo derrota parecida à sofrida na Câmara dos Deputados, onde Severino Cavalcanti (PP-PE) venceu, apoiado pelo PSDB.
Embora Garcia faça questão de frisar que não será oposição a Alckmin, petistas sabem do peso de seus votos (com PMDB e PC do B, somam 28) e esperam ter mais ascendência sobre a presidência para dificultar a vida do governador. "Não queremos uma Mesa Diretora de oposição nem de situação, mas de independência", disse o líder petista, Cândido Vaccarezza.
A esperança dos petistas é que, uma vez na presidência, Garcia não dificulte a aprovação de CPIs. Mais de 40 pedidos estão parados. Segundo o PT, 22 citam o governo do Estado.
Garcia disse que, mesmo sendo da base de apoio, fará gestão diferente, caso vença o pleito. "O deputado Edson Aparecido, por ser o candidato do PSDB, representa a continuidade; nós somos a alternativa." Atualmente, a Assembléia é presidida por Sidney Beraldo (PSDB).
Garcia foi chefe-de-gabinete de Kassab quando este era secretário do ex-prefeito Celso Pitta. Na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2004, o PT fez campanha contra Kassab -Garcia é sócio dele, e ambos são investigados pelo Ministério Público por suposto enriquecimento ilícito. "O Rodrigo Garcia é uma coisa, e o Kassab, outra", disse Vaccarezza.
Apesar da manobra da oposição, Edson Aparecido diz estar confiante na vitória e, para isso, pretende usar o próprio PFL para esvaziar a candidatura de Garcia. "A declaração de Cláudio Lembo [PFL, vice de Alckmin] de que a direção estadual não apóia Garcia terá um bom impacto." (CHICO DE GOIS E LILIAN CHRISTOFOLETTI)

Texto Anterior: Procurador vê "caso grave" na Assembléia e vai investigar
Próximo Texto: Alta espionagem: Kroll pagava servidores por informação, diz PF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.