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CAMPO MINADO
Movimento das Mulheres Camponesas recebeu ajuda de ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário
União deu R$ 79 mil a invasoras da Aracruz
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Associações de mulheres camponesas que promoveram a invasão de instalações da Aracruz Celulose na semana passada contaram com dinheiro dos cofres públicos para atividades de formação. Em dezembro do ano passado, o Siafi (sistema informatizado
de acompanhamento de gastos
federais) registrou o repasse de R$
79 mil a duas associações estaduais subordinadas ao Movimento das Mulheres Camponesas.
Ao garantir a transferência de
pouco mais de R$ 26 mil à Associação do Movimento de Mulheres Camponesas de Roraima, em
23 de dezembro, o Ministério do
Meio Ambiente detalhou o destino do dinheiro: "Potencializar as
mulheres camponesas (...), promovendo melhores condições no
exercício do debate e das práticas
diárias no meio em que vivem".
A associação estadual do Pará
recebeu quase R$ 53 mil em 12 de
dezembro, referente a uma parcela do contrato firmado com o Ministério do Desenvolvimento
Agrário. O objetivo do contrato é,
segundo o ministério, "promover
processos de mobilização para a
gestão participativa do processo
de desenvolvimento sustentável
do território rural".
Na madrugada da última quarta-feira, cerca de 2.000 mulheres
invadiram o horto florestal da
Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS). O objetivo, segundo a
página eletrônica do MMC Brasil,
era denunciar o avanço de plantações destinadas à produção de celulose. "Somos contra os desertos
verdes", afirma o texto. "A terra
deve cumprir função social, deve
alimentar a vida, não os lucros."
No ato foram destruídas 1 milhão
de mudas e material de pesquisa,
resultado de 15 anos de trabalho.
Rosângela Cordeiro, da coordenação do Movimento das Mulheres Camponesas, confirmou que
as associações nos Estados do Pará e de Roraima, beneficiárias de
repasses de recursos públicos, integram a entidade nacional e participam da Via Campesina, que
assumiu a responsabilidade pela
destruição de mudas e viveiros da
Aracruz. Cordeiro disse que não
acompanha o repasse de verbas
federais. Outras dirigentes do movimento não foram localizadas.
Contrato em curso
A assessoria do Ministério do
Desenvolvimento Agrário informou que o contrato com a associação das mulheres camponesas
do Pará ainda está em curso e a
prestação de contas só será exigida no final de setembro, de acordo com os prazos estabelecidos.
Segundo o ministério, o dinheiro foi destinado à mobilização das
mulheres camponesas para participar de processos de desenvolvimento sustentável, não à invasão
de propriedades. O ministro Miguel Rossetto divulgou nota na semana passada condenando o ato.
Procurada pela Folha, a assessoria da ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) não se manifestou até a conclusão desta edição.
As ordens bancárias e notas de
empenho que beneficiaram as associações foram pesquisadas pela
equipe do site Contas Abertas, especializado em acompanhamento de contas públicas.
Passeata
Uma passeata reuniu cerca de
mil pessoas ontem em Guaíba
(região metropolitana de Porto
Alegre), onde fica a fábrica para a
qual era remetida a produção de
Barra do Ribeiro, para dar apoio à
empresa Aracruz.
Os manifestantes, organizados
por moradores, comerciantes e a
prefeitura, pediram punição e
mais proteção.
Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha, em Porto Alegre
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