São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Antes de encontrar Obama, Lula critica protecionismo

Presidente brasileiro diz que sua principal preocupação é reabrir crédito mundial

Na reunião na manhã de hoje na Casa Branca, líderes devem discutir também temas como cooperação no Haiti e biocombustíveis

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula no evento sobre mudanças no estatuto do torcedor, no Palácio do Planalto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Terceiro líder a pisar na Casa Branca comandada por Barack Obama, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende, no encontro de uma hora a partir das 11h05 de hoje (12h05 de Brasília), defender "uma nova arquitetura mundial", condenar o protecionismo nos países ricos e deixar claro que quem controla o narcotráfico na América do Sul são os governos da América do Sul.
Em entrevista no Planalto, Lula disse que o protecionismo é "um desastre para a economia mundial" no médio prazo: "Não é possível que o mundo rico, que passou meio século dizendo que era preciso ter livre comércio, criou a globalização, derrubou o Muro de Berlim e, agora, no primeiro calo que começa a doer, ache que tem que voltar o protecionismo".
Reportagem de ontem da Folha mostrou que Obama deve contrapor as reclamações de Lula sobre o protecionismo com a sugestão de "maior equilíbrio" na Rodada Doha de liberalização do comércio mundial.
Lula voltou a defender a retomada da Rodada Doha e afirmou que, "de uma forma muito franca", dirá a Obama que sua principal preocupação é encontrar uma fórmula de retomada do crédito internacional. "Os países ricos precisam aprender a tomar conta dos seus bancos."
O presidente cobrou menos conversa -"não é hora de tagarelar, é hora de agir"-, acrescentando estar "muito otimista" com a conversa com Obama e com a reunião do G20, o grupo de países ricos e emergentes, em Londres, dia 2 de abril.
"Acho que os dirigentes estão comprovando que agora não é hora técnica, é da política. Ou assumimos a responsabilidade por essa crise e damos saída para ela, ou se a gente vai ficar esperando, como o Japão esperou na década de 90: o país demorou dez anos para sair da crise. Nós não podemos esperar dez anos, essa crise tem que terminar este ano", disse Lula, em referência à estagnação da economia japonesa após o estouro de uma bolha especulativa.
A intenção de Lula é repetir para Obama a proposta que já fez ao presidente da França, Nicolas Sarkozy: mais regulamentação do sistema financeiro e reformulação de organismos como a ONU (Organização das Nações Unidas), o Bird (Banco Mundial) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), de forma a aumentar o equilíbrio de posições entre os países mais ricos e os emergentes. Maior potência do planeta, com um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 13,8 trilhões, três vezes maior do que a segunda e a terceira economias, Japão e China, os EUA dão as cartas nos organismos internacionais.
Conforme a Folha apurou, Lula pretende dizer a Obama que, entre tantos sinais que o mundo espera dos EUA sob sua gestão, está o de reequilibrar esses centros de poder. O objetivo, dirá, deve ser conferir maior peso nas decisões aos países emergentes, com mais voz e poder de voto, e abrir a possibilidade de que FMI e Banco Mundial possam fiscalizar e impor condições também aos ricos -inclusive os EUA.
Além da crise e de uma tentativa de coordenar posições para a cúpula do G20, Lula e Obama devem tratar hoje da cooperação entre o Brasil e os EUA em terceiros países, como o Haiti, e discutir temas bilaterais, como biocombustíveis.
Lula dirá a Obama que vai lançar a ideia de criação de um conselho de combate ao narcotráfico na região na próxima reunião da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) para dar um recado: o narcotráfico é "um problema nosso", e os EUA não devem se intrometer. A exceção será a Colômbia, com quem os EUA têm um programa bilionário de combate à guerrilha e ao tráfico.


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