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Haiti será atalho para Brasil exportar aos EUA
Encontro bilateral deve definir acesso preferencial do setor têxtil ao mercado americano por meio de investimento no país caribenho
Etanol, algodão, suco de laranja, aço e subsídio dos EUA à agricultura são outros contenciosos comerciais que farão parte da pauta
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
No encontro bilateral entre
Brasil e EUA, em Washington,
as equipes comerciais dos dois
países pretendem avançar em
uma discussão que poderá possibilitar o acesso preferencial
de algumas empresas do setor
têxtil brasileiro ao mercado
norte-americano.
A ideia é estimular indústrias
têxteis do Brasil a investirem
no Haiti e exportar de lá seus
produtos aos EUA. O Brasil lidera a intervenção militar da
ONU no país caribenho.
Nesta semana, um grupo de
empresários brasileiros esteve
em Washington negociando
modificações no acesso preferencial que o Haiti já tem em
relação aos EUA para exportações. A ideia é criar incentivos,
viabilizando os investimentos.
Além dessa questão pontual,
Brasil e EUA devem discutir
mais detidamente os principais
pontos de contenciosos comerciais entre os dois países: etanol, algodão, suco de laranja,
aço e subsídios gerais concedidos à agricultura nos EUA, entre outros pontos.
De longe, a questão dos subsídios é a que mais incomoda o
Brasil e é o que vem travando
(juntamente com os subsídios
europeus) uma definição positiva na atual rodada de negociações da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
De um lado estão EUA e europeus, que não abrem mão de
subsídios e tarifas elevadas para proteger seus mercados agrícolas. De outro, os países em
desenvolvimento, com Brasil,
Índia e China à frente, pressionando pela abertura desse mercado para, em contrapartida,
ampliarem o acesso dos países
ricos aos seus mercados de produtos industriais e financeiros.
Na quinta, outra notícia negativa para o Brasil nessa área:
o Comitê de Agricultura da Câmara dos Representantes dos
EUA rejeitou projeto do governo Obama que previa corte nos
subsídios a fazendeiros com faturamento anual superior a
US$ 500 mil, que reduziria à
metade os subsídios atuais.
O comitê argumenta que o
pagamento dos subsídios só poderá ser mudado na próxima
Farm Bill americana, em 2012.
Além da questão dos subsídios, há alguns dias o governo
Obama enviou ao Congresso
um pacote de estímulo econômico que prevê gastos de cerca
de US$ 800 bilhões e que inclui
a chamada cláusula "Buy American" (compre produtos americanos). No caso específico, ela
determina que aço e ferro usados em obras públicas realizadas com dinheiro do pacote sejam produzidos nos EUA.
Comércio em queda
Os EUA são responsáveis por
cerca de 15% das exportações
brasileiras, mas volume e valores de comércio entre os países
vêm caindo rapidamente desde
o agravamento da crise.
"Não podemos falar em tendência de déficit comercial do
Brasil com os EUA, mas há uma
clara redução do comércio bilateral entre os dois países por
conta da atual crise", afirma
Aluisio Lima-Campos, consultor para questões comerciais e
econômicas da Embaixada do
Brasil em Washington.
A expectativa do FMI (Fundo Monetário Internacional) é
que o comércio global encolha
cerca de 3% neste ano, agravando o cenário de desaquecimento em vários países e dificultando uma recuperação mais rápida da economia mundial.
Um dos assuntos que têm
condições de avançar de forma
mais favorável ao Brasil é a
questão do acesso do etanol
brasileiro ao mercado norte-americano, já que grande parte
do discurso de Obama para a
questão energética passa pelas
chamadas "fontes limpas".
Os EUA impõem hoje uma
tarifa de US$ 0,14 por litro ao
etanol importado. Os EUA consomem cerca de 550 bilhões de
litros de gasolina ao ano, e 10%
desse mercado equivale a quase
três vezes a produção brasileira
total de etanol.
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