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Ex-ouvidor entrega à OAB suposto grampo com assessor de Yeda
Adão Paiani, filiado ao PSDB, diz que "um assessor muito próximo da governadora" aparece nas ligações cometendo tráfico de influência e crime eleitoral
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Demitido do cargo de ouvidor da Secretaria da Segurança
Pública do Rio Grande do Sul, o
advogado Adão Paiani entregou à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) um dossiê e um
CD com supostas escutas ilegais feitas, segundo ele, por um
aparato clandestino de espionagem que funciona no governo gaúcho e abriu mais uma crise em que assessores diretos da
governadora Yeda Crusius
(PSDB) aparecem sob suspeita.
Sem revelar detalhes do dossiê nem os nomes das pessoas
grampeadas ilegalmente, Paiani -que é filiado ao PSDB- disse que "um assessor muito próximo da governadora" aparece
nas ligações cometendo tráfico
de influência e crime eleitoral.
O CD, de acordo com Paiani,
contém as gravações clandestinas de seis telefonemas feitos
na reta final da eleição do ano
passado, entre o final de setembro e o começo de outubro.
A Folha apurou que o assessor grampeado ilegalmente é o
chefe de gabinete da governadora, Ricardo Luís Lied. Os telefonemas grampeados foram
trocados entre Lied e seu primo, o ex-presidente da Câmara
Municipal de Lajeado (RS)
Márcio Klaus (PSDB), que foi
preso antes da eleição sob acusação de compra de votos. Numa conversa, o chefe de gabinete de Yeda discute com o vereador, após a eleição, a substituição do delegado regional da
Polícia Civil e do comandante
da Brigada Militar na cidade,
em suposta retaliação pela prisão. A troca não se concretizou.
"Houve tráfico de influência
claro, explícito e muito cristalino", disse Paiani, sem relevar
os nomes dos grampeados.
Os grampos foram feitos, segundo Paiani, por policiais que
operam o sistema Guardião, o
programa onde ficam armazenadas escutas feitas pela Secretaria da Segurança Pública,
mas sem autorização judicial.
Paiani afirmou ter obtido o CD
com as gravações de uma fonte
cuja identidade ele preserva.
Disse não saber de quem partiu
a ordem nem o motivo para espionar o assessor de Yeda.
Paiani disse que obteve as
provas da ação ilegal dos arapongas depois do Carnaval e
que não conseguiu ser recebido
pela governadora ou pelo secretário da Segurança, Edson
Gularte: ele foi exonerado na
última terça. "São arapongas
agindo dentro da máquina. [A
demissão] talvez tenha a ver
com a possibilidade de que eu
viesse a denunciar isso", disse.
Oficialmente, a demissão foi
atribuída à decisão do governo
de extinguir a Ouvidoria da Segurança Pública. "Se os senhores perguntarem em off para
qualquer servidor da Brigada
Militar ou da Polícia Civil se esse tipo de coisa [escuta ilegal]
acontece, eles vão dizer que
sim. A questão é que as pessoas
têm medo ou não têm prova.
Eu não estou em nenhuma das
duas circunstâncias", afirmou.
Paiani disse que sempre teve
"relação de lealdade" com o governo: "Pretendia encaminhar
[o dossiê] ao governo enquanto
ouvidor, mas hoje não tenho
mais esse compromisso", disse.
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