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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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Despachos com ministros e assessores ocuparam 61,53% da agenda de Lula em cem dias

"Agenda interna" domina audiências do presidente

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos primeiros cem dias de mandato, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva dedicou a maior parte de seu tempo à "agenda interna" de governo.
Despachos com ministros e assessores tomaram 61,53% da agenda presidencial, de acordo com dados do Palácio do Planalto obtidos pela Folha.
Audiências com empresários, trabalhadores ou integrantes da chamada sociedade civil -como religiosos, artistas ou esportistas- ficaram em segundo plano. Responderam por 22,22% do total dos encontros do presidente.
Lula teve no total 468 audiências desde que tomou posse. Tantos encontros em seu gabinete chegaram a suscitar no presidente queixas de que está passando tempo demais envolvido no funcionamento da máquina. "Às vezes, isolado aqui, não sei nem se está fazendo sol ou chuva", disse Lula em uma determinada ocasião.
Para os próximos meses, assessores prometem, respondendo ao apelo do presidente, "abrir" mais a agenda de Lula.
A idéia é fazer ao menos uma viagem por semana, além de incluir mais encontros com empresários e trabalhadores.
"O presidente tem o hábito, que traz de longe, de acompanhar de perto tudo o que os ministros estão fazendo. Isso ficou refletido nos primeiros dois meses de governo, quando muitos programas estavam sendo implementados, principalmente o Fome Zero", diz o secretário de Imprensa do Planalto, Ricardo Kotscho.
O secretário afirma que os primeiros cem dias do governo já demonstraram que o presidente tem a preocupação de estabelecer contato próximo com os setores produtivos do país.
"Nunca a sociedade teve tamanho acesso ao Palácio do Planalto. Desde setores como a Febraban [associação dos bancos" até moradores de rua e representantes do semi-árido nordestino", diz o secretário de Imprensa.
Durante a campanha eleitoral, Lula costumava criticar governantes que se perdem em assuntos inerentes à burocracia federal e deixam de lado o contato com o "Brasil real", da produção, do trabalho e da sociedade organizada.
Esta era, inclusive, uma das principais críticas que fazia ao dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Modelo
O fato é que, no início de mandato, o presidente teve dificuldade em se diferenciar do modelo que costumava criticar.
Os empresários especificamente estiveram no gabinete de Lula somente 23 vezes, o que equivale a menos de 5% das audiências concedidas. A primeira audiência ocorreu apenas no 17º dia de mandato do novo presidente.
Desde então, Lula tem adotado a prática de se reunir com setores da cadeia produtiva ao menos uma vez por semana -já o faz com usineiros, montadoras e siderurgia, entre outros. A rotina deve se intensificar.
Mais baixa ainda foi a frequência com que Lula recebeu sindicalistas. A primeira audiência foi concedida apenas 56 dias após a posse, à Executiva da CUT.
Nas últimas semanas, no entanto, o presidente tem se preocupado em compensar o atraso.
O presidente conversou com sindicalistas rurais, anunciou o novo salário mínimo em primeira mão a líderes de trabalhadores no Planalto e depois se reuniu com eles em São Paulo.
O levantamento da agenda de Lula também evidencia o poder de José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, na administração.
O ministro é o "campeão" de audiências com Lula, tendo sido recebido individualmente 31 vezes pelo presidente.

Articulações políticas
Dirceu centraliza as articulações políticas, o que fica claro pelo pouco tempo que o presidente dedica a estes contatos -apenas 51 audiências, ou 10,9%.
Outro aspecto que se destaca na agenda é a importância que Lula dá à comunicação e ao marketing em seu governo.
Desde o início de fevereiro, quando foi implementado pelo governo, o núcleo de comunicação, formado por Gushiken, Ricardo Kotscho, André Singer (porta-voz) e eventualmente Duda Mendonça (publicitário), já teve 18 audiências com o presidente da República.



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