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Despachos com ministros e assessores ocuparam 61,53% da agenda de Lula em cem dias
"Agenda interna" domina audiências do presidente
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos primeiros cem dias de
mandato, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva dedicou a maior parte de seu tempo
à "agenda interna" de governo.
Despachos com ministros e assessores tomaram 61,53% da
agenda presidencial, de acordo
com dados do Palácio do Planalto
obtidos pela Folha.
Audiências com empresários,
trabalhadores ou integrantes da
chamada sociedade civil -como
religiosos, artistas ou esportistas- ficaram em segundo plano.
Responderam por 22,22% do total dos encontros do presidente.
Lula teve no total 468 audiências
desde que tomou posse. Tantos
encontros em seu gabinete chegaram a suscitar no presidente queixas de que está passando tempo
demais envolvido no funcionamento da máquina. "Às vezes,
isolado aqui, não sei nem se está
fazendo sol ou chuva", disse Lula
em uma determinada ocasião.
Para os próximos meses, assessores prometem, respondendo ao
apelo do presidente, "abrir" mais
a agenda de Lula.
A idéia é fazer ao menos uma
viagem por semana, além de incluir mais encontros com empresários e trabalhadores.
"O presidente tem o hábito, que
traz de longe, de acompanhar de
perto tudo o que os ministros estão fazendo. Isso ficou refletido
nos primeiros dois meses de governo, quando muitos programas
estavam sendo implementados,
principalmente o Fome Zero", diz
o secretário de Imprensa do Planalto, Ricardo Kotscho.
O secretário afirma que os primeiros cem dias do governo já demonstraram que o presidente
tem a preocupação de estabelecer
contato próximo com os setores
produtivos do país.
"Nunca a sociedade teve tamanho acesso ao Palácio do Planalto.
Desde setores como a Febraban
[associação dos bancos" até moradores de rua e representantes
do semi-árido nordestino", diz o
secretário de Imprensa.
Durante a campanha eleitoral,
Lula costumava criticar governantes que se perdem em assuntos inerentes à burocracia federal
e deixam de lado o contato com o
"Brasil real", da produção, do trabalho e da sociedade organizada.
Esta era, inclusive, uma das
principais críticas que fazia ao
dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Modelo
O fato é que, no início de mandato, o presidente teve dificuldade em se diferenciar do modelo
que costumava criticar.
Os empresários especificamente estiveram no gabinete de Lula
somente 23 vezes, o que equivale a
menos de 5% das audiências concedidas. A primeira audiência
ocorreu apenas no 17º dia de
mandato do novo presidente.
Desde então, Lula tem adotado
a prática de se reunir com setores
da cadeia produtiva ao menos
uma vez por semana -já o faz
com usineiros, montadoras e siderurgia, entre outros. A rotina
deve se intensificar.
Mais baixa ainda foi a frequência com que Lula recebeu sindicalistas. A primeira audiência foi
concedida apenas 56 dias após a
posse, à Executiva da CUT.
Nas últimas semanas, no entanto, o presidente tem se preocupado em compensar o atraso.
O presidente conversou com
sindicalistas rurais, anunciou o
novo salário mínimo em primeira
mão a líderes de trabalhadores no
Planalto e depois se reuniu com
eles em São Paulo.
O levantamento da agenda de
Lula também evidencia o poder
de José Dirceu, ministro-chefe da
Casa Civil, na administração.
O ministro é o "campeão" de
audiências com Lula, tendo sido
recebido individualmente 31 vezes pelo presidente.
Articulações políticas
Dirceu centraliza as articulações
políticas, o que fica claro pelo
pouco tempo que o presidente dedica a estes contatos -apenas 51
audiências, ou 10,9%.
Outro aspecto que se destaca na
agenda é a importância que Lula
dá à comunicação e ao marketing
em seu governo.
Desde o início de fevereiro,
quando foi implementado pelo
governo, o núcleo de comunicação, formado por Gushiken, Ricardo Kotscho, André Singer
(porta-voz) e eventualmente Duda Mendonça (publicitário), já teve 18 audiências com o presidente
da República.
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