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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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GOVERNO OU OPOSIÇÃO?

Decisão sobre apoio ao governo foi adiada para dia 28

PMDB troca insultos, e Lula só consegue adesão parcial

ANDRÉA MICHAEL
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em almoço que contou com a presença de todos os 21 senadores e 62 dos 68 deputados do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o apoio da maioria dos congressistas às reformas propostas pelo governo, mas a inclusão formal do PMDB à base do governo, porém, foi adiada. Ela será discutida no dia 28 pelo Conselho Político do partido.
O desejo de participar do governo, inclusive ocupando cargos, foi manifestado pelo líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), antes mesmo do início da reunião: "Essa aproximação objetiva a divisão de responsabilidades. E você só pode dividir responsabilidades quando ajuda na formulação, na construção da maioria congressual e participa de todos os escalões do governo".
Convidados à casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), peemedebistas dissidentes acusaram Renan de estar "vendendo" o apoio do PMDB ao governo em troca de cargos. Foi uma reação às declarações de Renan de que o apoio do partido ao governo seria "unânime".
O anfitrião tentou resumir o conflito. "Esse é um almoço de confraternização, não uma ocasião para formalizar decisões políticas", declarou Sarney, frisando que o partido "está maduro" para fazer sua opção, num caminho que tem se mostrado de convergências com o governo federal.
O governo não esperava que o PMDB aderisse em bloco, já que tradicionalmente é um partido fracionado. Na contagem do governo, os votos favoráveis ao apoio têm grande maioria no Senado. Na semana passada, o ministro José Dirceu (Casa Civil) deu cargos em estatais e no Congresso a senadores e a seus indicados. Um deles foi oficializado ontem: Amir Lando (PMDB-RO) será líder do governo no Congresso. No almoço, contudo, não se tocou na questão de o PMDB ocupar um ministério até o final do ano.
Na Câmara ainda há certa rebeldia, mas os rebeldes contam hoje, segundo suas próprias estimativas, com apenas 15 dos 68 deputados. Ou seja, eles controlam somente 22% dos votos da bancada.

Discursos
Primeiro a falar durante o almoço, Renan apresentou a posição adesista, no que foi prontamente rebatido pelo representante da atual ala oposicionista do PMDB, o deputado federal Geddel Vieira Lima (BA), que apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso e a candidatura derrotada de José Serra à Presidência em 2002.
"Fiz um discurso deixando claro que esse não era um encontro, não era uma ode à adesão remunerada, esse era um encontro para discutir as reformas, com as quais o PMDB tem um compromisso histórico", afirmou Geddel. "Afinal de contas, elas não são do PT nem do governo, elas são nossas. Por elas eu perdi a eleição presidencial, por elas eu fui chamado de lacaio do FMI e até de matador de aposentados", declarou.
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), também oposicionista, fez as declarações mais ácidas: "Tem um grupo fisiológico dentro do PMDB, nortista, liderado pelo Renan, pelo José Sarney e pelo Ney Suassuna, que quer vender o partido. Tem outro grupo que não aceita isso", declarou.
Renan viu a reação e fez uma distinção entre a posição do Senado -no qual, dos 21 senadores do partidos, apenas Pedro Simon (RS) discorda da adesão ao governo- e a Câmara, que concentra a minoria oposicionista. Mas o líder no Senado reafirmou que a tendência majoritária no partido é dar apoio ao governo Lula e que essa decisão será respeitada: "O PMDB não terá crise existencial. Depois que decidir, acabou".
O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), afirmou que a Executiva Nacional vai convocar o Conselho Político, que reúne as principais lideranças da legenda, para debater o apoio a Lula no dia 28.


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