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GOVERNO OU OPOSIÇÃO?
Decisão sobre apoio ao governo foi adiada para dia 28
PMDB troca insultos, e Lula só consegue adesão parcial
ANDRÉA MICHAEL
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em almoço que contou com a
presença de todos os 21 senadores
e 62 dos 68 deputados do PMDB,
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva recebeu ontem o apoio da
maioria dos congressistas às reformas propostas pelo governo,
mas a inclusão formal do PMDB à
base do governo, porém, foi adiada. Ela será discutida no dia 28 pelo Conselho Político do partido.
O desejo de participar do governo, inclusive ocupando cargos, foi
manifestado pelo líder do partido
no Senado, Renan Calheiros (AL),
antes mesmo do início da reunião: "Essa aproximação objetiva
a divisão de responsabilidades. E
você só pode dividir responsabilidades quando ajuda na formulação, na construção da maioria
congressual e participa de todos
os escalões do governo".
Convidados à casa do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), peemedebistas dissidentes acusaram Renan de estar
"vendendo" o apoio do PMDB ao
governo em troca de cargos. Foi
uma reação às declarações de Renan de que o apoio do partido ao
governo seria "unânime".
O anfitrião tentou resumir o
conflito. "Esse é um almoço de
confraternização, não uma ocasião para formalizar decisões políticas", declarou Sarney, frisando
que o partido "está maduro" para
fazer sua opção, num caminho
que tem se mostrado de convergências com o governo federal.
O governo não esperava que o
PMDB aderisse em bloco, já que
tradicionalmente é um partido
fracionado. Na contagem do governo, os votos favoráveis ao
apoio têm grande maioria no Senado. Na semana passada, o ministro José Dirceu (Casa Civil)
deu cargos em estatais e no Congresso a senadores e a seus indicados. Um deles foi oficializado ontem: Amir Lando (PMDB-RO) será líder do governo no Congresso.
No almoço, contudo, não se tocou
na questão de o PMDB ocupar
um ministério até o final do ano.
Na Câmara ainda há certa rebeldia, mas os rebeldes contam hoje,
segundo suas próprias estimativas, com apenas 15 dos 68 deputados. Ou seja, eles controlam somente 22% dos votos da bancada.
Discursos
Primeiro a falar durante o almoço, Renan apresentou a posição
adesista, no que foi prontamente
rebatido pelo representante da
atual ala oposicionista do PMDB,
o deputado federal Geddel Vieira
Lima (BA), que apoiou o governo
Fernando Henrique Cardoso e a
candidatura derrotada de José
Serra à Presidência em 2002.
"Fiz um discurso deixando claro que esse não era um encontro,
não era uma ode à adesão remunerada, esse era um encontro para discutir as reformas, com as quais o PMDB tem um compromisso histórico", afirmou Geddel.
"Afinal de contas, elas não são do
PT nem do governo, elas são nossas. Por elas eu perdi a eleição presidencial, por elas eu fui chamado de lacaio do FMI e até de matador
de aposentados", declarou.
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), também oposicionista, fez as declarações mais ácidas: "Tem um grupo fisiológico dentro do PMDB, nortista, liderado pelo Renan, pelo José Sarney e pelo Ney Suassuna, que quer vender o partido. Tem outro grupo que não aceita isso", declarou.
Renan viu a reação e fez uma
distinção entre a posição do Senado -no qual, dos 21 senadores do
partidos, apenas Pedro Simon
(RS) discorda da adesão ao governo- e a Câmara, que concentra a
minoria oposicionista. Mas o líder no Senado reafirmou que a
tendência majoritária no partido
é dar apoio ao governo Lula e que
essa decisão será respeitada: "O
PMDB não terá crise existencial.
Depois que decidir, acabou".
O presidente do PMDB, Michel
Temer (SP), afirmou que a Executiva Nacional vai convocar o Conselho Político, que reúne as principais lideranças da legenda, para
debater o apoio a Lula no dia 28.
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