São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Por 351 a 303 votos, partido desiste da candidatura; resultado deve ser contestado

Ala governista vence e PMDB não concorrerá à Presidência

Sérgio Lima/Folha Imagem
Anthony Garotinho cumprimenta Itamar Franco em convenção


FERNANDO RODRIGUES
SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo sob ameaça de contestação na Justiça, o PMDB oficializou ontem em uma convenção nacional extraordinária a decisão de não ter candidato próprio a presidente da República nas eleições de outubro. A tese que derruba a possibilidade de indicação de Anthony Garotinho para concorrer ao Palácio do Planalto foi aprovada por 351 votos a 303. Houve ainda dois votos em branco e um nulo -total de 657 votos.
O número de votos é maior do que o de convencionais (528) porque alguns têm direito a votar mais de uma vez por ocuparem vários cargos dentro da burocracia partidária.
A decisão agrada ao Planalto já que, com a desistência do PMDB, a disputa fica polarizada entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. A avaliação do PT é que, com a saída de Garotinho, Lula tem chances de vencer no primeiro turno. Garotinho ocupa, atualmente, a terceira colocação nas pesquisas de intenção de votos -lideradas pelo petista, seguido pelo tucano.
Mas apesar de o resultado representar uma vitória da ala governista do PMDB, a margem de votos (48) foi bem menor do que alardeava o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), antes da apuração. Além disso, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), concordou em classificar o encontro de ontem como "consulta informal, pendente de decisão judicial". Os derrotados disseram que insistirão na tese da candidatura própria até junho, mês das convenções partidárias.
"Nós ganhamos, eles devem estar pensando quem foram os traidores. Liberaram [verbas para] emendas, distribuíram ambulâncias e não conseguiram nem 50 votos a mais de diferença. Na convenção de 11 de junho teremos mais tempo para reverter o quadro", disse Garotinho.
O político fluminense se refere à data na qual está pré-marcada uma convenção da sigla que poderá escolher um candidato ao Palácio do Planalto. Nada garante, entretanto, que ela ocorrerá.
Após a apuração, Garotinho chamou o senador Pedro Simon (RS) à mesa e anunciou, em tom de campanha, que abria mão de sua pré-candidatura para ser vice na chapa à Presidência encabeçada por Simon. O senador disse ter negado o convite. "O Itamar e ele são os candidatos", afirmou.
"Até junho, muita coisa ainda vai acontecer. Essa chapa Simon-Garotinho é uma novidade e pode mudar o cenário", disse Temer.
Além de Renan, os principais defensores da não-candidatura são os senadores José Sarney (AP) e Ney Suassuna (PB) e os deputados Geddel Vieira de Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE). O PMDB chefia hoje três ministérios (Minas e Energia, Saúde e Comunicações) e possui a maior bancada da Câmara (83 deputados).
"Ganhamos, não teremos candidato por decisão da convenção nacional tomada por sua maioria", disse o vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).
Devido à chamada verticalização, um postulante à Presidência inviabilizaria vários acordos para os pré-candidatos aos governos estaduais, já que as disputas locais teriam de respeitar o que foi fixado como aliança nacional.
A Executiva Nacional do partido havia aprovado anteontem uma resolução que permitia que a candidatura própria fosse rejeitada com os votos da maioria simples dos presentes, e não com dois terços dos votos dos convencionais peemedebistas, como defendia o grupo de Garotinho.
Ontem, minutos antes da chegada de Garotinho à convenção, apoiadores do ex-governador do Rio de Janeiro comemoravam a concessão de uma medida liminar (decisão judicial provisória) que anulava provisoriamente os resultados do encontro.
Como a liminar não impediu a realização da convenção, seus efeitos eram limitados. "O principal é que a decisão política será tomada e o PMDB não terá candidato a presidente", disse Renan, que acumulava o cargo de presidente da República ontem porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no exterior.
Renan chegou a ironizar a insistência do ex-governador do Rio para ser candidato a presidente: "Garotinho que não come não cresce". Garotinho fez greve de fome, protestando por se considerar perseguido pela imprensa.
O outro pré-candidato, Itamar Franco, disse que "não é possível que esse partido seja submisso, coadjuvante, em benefício daqueles que só visam os seus ideais".
O grande defensor de Garotinho era o deputado Eduardo Cunha (RJ), autor do pedido de liminar, que usou metáforas futebolísticas na tribuna. "Não ter candidato é como o time de futebol que não joga. Time que não joga não tem torcida. Aqui é igual a Libertadores da América. Hoje é só o primeiro jogo. O de volta, o jogo final, será a convenção de junho."
A maior reclamação dos apoiadores de Garotinho se referia a uma questão formal, adotada em dezembro de 2004, por outra convenção do PMDB. À época, a sigla decidiu que teria candidato próprio e que essa decisão só seria revogada por outro encontro nacional com dois terços dos votos -rejeitado pela Comissão Executiva Nacional do PMDB.


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