São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ DÓLARES SUSPEITOS

Segundo Ministério Público, recursos escondidos seriam entregues por petista a assessor do BNB, para favorecer consórcio STN

Dinheiro na cueca é propina, diz Procuradoria

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O Ministério Público Federal no Ceará constatou dezenas de ligações telefônicas entre o então assessor especial do BNB (Banco do Nordeste do Brasil), Kennedy Moura, e um dos diretores da empresa Alusa, Marcelo Tosto, nas cinco vezes em que o ex-dirigente do PT cearense José Adalberto Vieira da Silva viajou a São Paulo.
Na última delas, em julho, Adalberto foi preso no aeroporto, ao tentar embarcar para Fortaleza com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 200 mil numa bolsa.
Para a Procuradoria, o dinheiro era propina pelo favorecimento do consórcio STN (Sistema de Transmissão Nordeste), do qual a Alusa faz parte, pelo BNB, na concessão de crédito de R$ 300 milhões. A Folha teve acesso à petição de indisponibilidade de bens do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente da sigla José Genoino.
A relação das chamadas consta da petição, aceita pela Justiça Federal, em que foram denunciadas nove pessoas e três empresas.
Pela quebra do sigilo de Moura e Adalberto, foi possível verificar a coincidência e o volume de ligações. Nos dias anteriores às viagens, o número de telefonemas aumentava entre Moura e Tosto, e Moura e Adalberto. O mesmo acontecia nos dias em que Adalberto estava em São Paulo.
Também havia mais ligações entre Moura e o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), de quem Adalberto era assessor. As viagens aconteceram nos dias 15 de abril, 5 e 25 de maio, 3 de junho e 7 de julho.
A assessoria da Alusa, em nota, disse ser verdade que representantes do consórcio STN se comunicavam por telefone com representantes do BNB, mas como "algo normal e rotineiro".
Por decisão do juiz substituto Nagibe de Melo Jorge Neto, da 10ª Vara Federal, foi decretada a quebra do sigilo telefônico de uma linha usada por Tosto e de Guimarães, além da indisponibilidade de bens de Guimarães.
"Existem vários indícios de ligações entre o deputado, Moura e Adalberto." Segundo ele, a indisponibilidade serve como garantia à aplicação de punição, no caso de decisão judicial desfavorável ao deputado. Os bens de Moura, Adalberto e da mulher dele também estão indisponíveis.
Em nota, Guimarães afirma não haver provas contra ele, o que diz ter sido confirmado com a absolvição na Assembléia Legislativa.
O BNB reafirmou, via assessoria, que a operação foi baseada em práticas bancárias e que uma decisão do Tribunal de Contas da União, que considerou legal a concessão de crédito ao STN, consolida isso. O advogado de Moura, Paulo Quezado, disse que precisaria falar com seu cliente, mas não ligou de volta.
O advogado de Adalberto não foi encontrado. Em outras entrevistas, o ex-dirigente petista disse que o dinheiro era empréstimo de amigo que mora em São Paulo.


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