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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ DÓLARES SUSPEITOS
Segundo Ministério Público, recursos escondidos seriam entregues por petista a assessor do BNB, para favorecer consórcio STN
Dinheiro na cueca é propina, diz Procuradoria
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O Ministério Público Federal no
Ceará constatou dezenas de ligações telefônicas entre o então assessor especial do BNB (Banco do
Nordeste do Brasil), Kennedy
Moura, e um dos diretores da empresa Alusa, Marcelo Tosto, nas
cinco vezes em que o ex-dirigente
do PT cearense José Adalberto
Vieira da Silva viajou a São Paulo.
Na última delas, em julho, Adalberto foi preso no aeroporto, ao
tentar embarcar para Fortaleza
com US$ 100 mil escondidos na
cueca e R$ 200 mil numa bolsa.
Para a Procuradoria, o dinheiro
era propina pelo favorecimento
do consórcio STN (Sistema de
Transmissão Nordeste), do qual a
Alusa faz parte, pelo BNB, na concessão de crédito de R$ 300 milhões. A Folha teve acesso à petição de indisponibilidade de bens
do deputado estadual José Nobre
Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente da sigla José Genoino.
A relação das chamadas consta
da petição, aceita pela Justiça Federal, em que foram denunciadas
nove pessoas e três empresas.
Pela quebra do sigilo de Moura
e Adalberto, foi possível verificar
a coincidência e o volume de ligações. Nos dias anteriores às viagens, o número de telefonemas
aumentava entre Moura e Tosto, e
Moura e Adalberto. O mesmo
acontecia nos dias em que Adalberto estava em São Paulo.
Também havia mais ligações
entre Moura e o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), de quem Adalberto era assessor. As viagens aconteceram
nos dias 15 de abril, 5 e 25 de maio,
3 de junho e 7 de julho.
A assessoria da Alusa, em nota,
disse ser verdade que representantes do consórcio STN se comunicavam por telefone com representantes do BNB, mas como "algo normal e rotineiro".
Por decisão do juiz substituto
Nagibe de Melo Jorge Neto, da 10ª
Vara Federal, foi decretada a quebra do sigilo telefônico de uma linha usada por Tosto e de Guimarães, além da indisponibilidade
de bens de Guimarães.
"Existem vários indícios de ligações entre o deputado, Moura e
Adalberto." Segundo ele, a indisponibilidade serve como garantia
à aplicação de punição, no caso de
decisão judicial desfavorável ao
deputado. Os bens de Moura,
Adalberto e da mulher dele também estão indisponíveis.
Em nota, Guimarães afirma não
haver provas contra ele, o que diz
ter sido confirmado com a absolvição na Assembléia Legislativa.
O BNB reafirmou, via assessoria, que a operação foi baseada em
práticas bancárias e que uma decisão do Tribunal de Contas da
União, que considerou legal a
concessão de crédito ao STN, consolida isso. O advogado de Moura, Paulo Quezado, disse que precisaria falar com seu cliente, mas
não ligou de volta.
O advogado de Adalberto não
foi encontrado. Em outras entrevistas, o ex-dirigente petista disse
que o dinheiro era empréstimo de
amigo que mora em São Paulo.
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