São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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Com 150 mil, missa frustra expectativas

Evento reuniu um quarto do público previsto pela igreja, número inferior até ao registrado no Dia de Nossa Senhora Aparecida

Coordenador do esquema de segurança atribui público menor ao Dia das Mães, à intensa agenda do papa e à transmissão da missa na TV

Tuca Vieira/Folha Imagem
Vista da basílica de Aparecida ontem, antes da missa celebrada por Bento 16; 150 mil pessoas assistiram ao evento, abaixo do número de fiéis no "feriadão' de Nossa Senhora Aparecida em 2006

ELVIRA LOBATO
DANIELA TÓFOLI

ENVIADAS ESPECIAIS A APARECIDA

A missa campal celebrada pelo papa em frente ao Santuário Nacional de Aparecida reuniu ontem 150 mil pessoas. A previsão inicial da igreja era de até 600 mil fiéis. A Rádio Vaticano chegou a falar em 1 milhão, em um texto distribuído à imprensa estrangeira em Roma. A multidão não apareceu.
O major José Mateus Ribeiro, coordenador do esquema de segurança da visita, atribuiu a baixa presença de público a três fatores: ser Dia das Mães, a intensa agenda cumprida pelo papa em São Paulo e a cobertura ao vivo pela TV.
Segundo o major, a previsão inicial já havia sido reduzida para 350 mil durante a semana, em razão da baixa procura por hotéis na cidade. Anteontem, a projeção foi novamente revista, para 230 mil. O número final ficou aquém até da freqüência de fiéis registrada no fim de semana de 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, no ano passado: 180 mil.
O movimento na via Dutra, de 500 carros por hora, foi metade do fluxo normal no fim de semana. Sobraram até cadeiras -cerca de 200 ficaram vazias- no espaço reservado a autoridades e religiosos em frente ao altar. O esquema de segurança e de atendimento ao público foi gigantesco: 240 profissionais de saúde e 3.000 homens -do Exército, do Corpo de Bombeiros e das polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal- foram mobilizados.
Os comerciantes no shopping dos romeiros reclamavam do baixo movimento. O mesmo acontecia em hotéis e restaurantes da cidade.
Vários fiéis optaram por chegar a Aparecida na madrugada para não pernoitar em hotéis. O casal Roberto, 36, e Silvia Pires, 33, de Tiradentes (MG), disse que achou muito cara a diária dos hotéis de duas estrelas (de R$ 180 a R$ 300) e, como não poderiam "deixar de ver o papa", preferiu chegar às 5h.
A missa começou pontualmente às 10h, como previsto. Na homilia, quando foi interrompido dez vezes por aplausos do público, o papa disse que a América Latina é o continente da esperança em razão da fé, e não por ideologia, movimento social ou sistema econômico. Ele também afirmou que "a igreja não faz proselitismo [cooptação de fiéis] e que cresce mais por atração".
No fim da missa, lembrou que ontem era o dia da Marcha contra a Fome (que aconteceu em várias partes do mundo), das mães, da comemoração da abolição da escravatura no Brasil e o 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Dirigiu as preces aos afrodescendentes e às mães.
Um grupo de 25 religiosos, vindo de Minas Gerais, criticou a posição de Bento 16 contrária à Teologia da Libertação, exibindo faixa que dizia "A igreja de opção pelos pobres e excluídos -nosotros somos a Celam" e cartazes com fotos de Chico Mendes, irmã Dorothy, dom Helder Câmara, dom Oscar Romero (de El Salvador) e outros "mártires latino-americanos da Teologia da Libertação".

Vigília
Milhares de fiéis passaram a noite em vigília. Por causa do frio, da fome e do cansaço, quase 300 pessoas, na grande maioria estrangeiros, receberam atendimento médico entre as 22h de sábado e as 7h de ontem. Com o calor que fez pela manhã, o número de ocorrências chegou a mil. Muita gente que havia passado a noite guardando lugar em frente ao altar desmaiou durante a missa.
Os neo catecumenais -movimento da igreja que acredita na renovação do batismo- formaram o grupo que mais se destacou na multidão: eram milhares de todos os Estados e de outros países da América Latina, que se dirigiam a um encontro com os fundadores do movimento em Cachoeira Paulista, a 35 km de Aparecida, marcado para hoje.


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