|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Diálogo menciona pagamento a Paulinho
Empreiteiro foragido afirma a ex-secretário de Praia Grande que "o que der" a deputado tem que dar a advogado Tosto
Interceptação de conversa telefônica pela PF revela que
critério usado para divisão de R$ 2 mi gerou divergência
entre os investigados em SP
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em diálogo telefônico interceptado pela Polícia Federal na
Operação Santa Tereza, o empreiteiro Manuel Fernandes de
Bastos Filho, o Maneco -apontado pela PF como o "coordenador do esquema" de alegado
desvio de empréstimos do
BNDES (Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e
Social)-, descreveu uma suposta divisão de R$ 2 milhões
que deveria incluir o deputado
federal Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho (PDT-SP).
Maneco, também apontado
pela PF como dono de uma casa
de prostituição nos Jardins, está foragido desde o último dia
24. Contra ele há um mandado
de prisão preventiva expedido
pela Justiça Federal. No dia 9
de janeiro passado, Maneco
manteve uma conversa de 22
minutos com Jamil Issa Filho,
ex-secretário de Urbanismo da
Prefeitura de Praia Grande
(SP), tomadora de um empréstimo no BNDES. Maneco explicou que seria necessário emitir
notas fiscais para dar saída à
parte do empréstimo que seria,
então, distribuída pelo grupo. O
banco havia liberado uma parcela de R$ 20 milhões.
Maneco contou que pressionaria o consultor da Força Sindical João Pedro de Moura a
"riscar cheque" e que, para isso,
surgiriam as notas fiscais "nesse valor". Maneco parece preocupado com a partilha: "Mesmo nos 2 [milhões], a divisão
vai ser muito embaralhada". O
empreiteiro contou ter recebido, naquele dia, um telefonema
do consultor Marcos Mantovani, também preso na operação
da PF, para que "desse um tratamento VIP" ao advogado Ricardo Tosto, então conselheiro
do BNDES. Issa Filho demonstrou dúvida sobre a inclusão
dele na suposta divisão, ao que
Maneco alegou: "Mas é com o
Paulinho, né? Aí, o que der pro
Paulinho dá pro Tosto, né?".
Issa Filho reagiu negativamente à idéia, alegando que
Tosto "não fez nada" para merecer o dinheiro. "Mas o cara
não fez nada, não fez nada", disse o ex-servidor da prefeitura.
Ambos concluíram que o valor a ser dividido iria diminuir
por causa das notas fiscais, que
levariam ao pagamento de impostos. Maneco contou ter feito os cálculos ao lado do consultor Moura.
"Eu fiz umas contas com o
João aqui, (...) o João falou que
ele tem que dar pelo menos
2,5%, nem 2% não dá, porque
ele quer nota, ô, Jamil, ele quer
nota de material e nota de mão-de-obra. (...) Nota custa 15,8 [%]
(...). Aí quanto que cai? Se ele
der 2 contos, cai 300 paus,
1.700, e aí?", disse Maneco.
Na empresa Progus, de Mantovani, a PF apreendeu planilhas e papéis que indicam uma
suposta partilha de recursos,
segundo a polícia. As conversas
sobre a divisão começaram depois que a parcela do empréstimo do BNDES chegou à conta
da Prefeitura de Praia Grande.
Maneco disse que brincou com
o prefeito Alberto Mourão
(PSDB): "A única coisa que eu
falei foi: "Tá com [R$] 20 milhões na conta, hein, malandro". E ele ficava falando assim:
"Pô, esse dinheiro não pode mexer, eu pensei que podia pôr no
extraordinária da prefeitura".
Não dá pra mexer? Só que o
João Pedro falou pra mim que
já mexeram em dez!".
Ao final da conversa, Maneco
disse que chegou a provocar o
prefeito sobre outro assunto,
uma obra em um terreno baldio. "Falei pra ele assim: "Meu,
se eu estivesse na sua cadeira aí,
se deixasse eu sentar aí, sabe o
que fazia?" "O que tu fazia, Maneco?" [o prefeito perguntou].
"Eu pegava, mandava alguém
comprar essa empresa do terreno, tá certo, pagava esses seis,
sete contos. Ia lá nos cara e falaria: o terreno custa seis, sete, tá
certo. Me dá três por fora'".
Texto Anterior: Elio Gaspari: A privataria aparelhada vai bem, obrigado Próximo Texto: Outro lado: "Intermediação era legítima", diz advogado Índice
|