São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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Diálogo menciona pagamento a Paulinho

Empreiteiro foragido afirma a ex-secretário de Praia Grande que "o que der" a deputado tem que dar a advogado Tosto

Interceptação de conversa telefônica pela PF revela que critério usado para divisão de R$ 2 mi gerou divergência entre os investigados em SP


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em diálogo telefônico interceptado pela Polícia Federal na Operação Santa Tereza, o empreiteiro Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco -apontado pela PF como o "coordenador do esquema" de alegado desvio de empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)-, descreveu uma suposta divisão de R$ 2 milhões que deveria incluir o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP).
Maneco, também apontado pela PF como dono de uma casa de prostituição nos Jardins, está foragido desde o último dia 24. Contra ele há um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça Federal. No dia 9 de janeiro passado, Maneco manteve uma conversa de 22 minutos com Jamil Issa Filho, ex-secretário de Urbanismo da Prefeitura de Praia Grande (SP), tomadora de um empréstimo no BNDES. Maneco explicou que seria necessário emitir notas fiscais para dar saída à parte do empréstimo que seria, então, distribuída pelo grupo. O banco havia liberado uma parcela de R$ 20 milhões.
Maneco contou que pressionaria o consultor da Força Sindical João Pedro de Moura a "riscar cheque" e que, para isso, surgiriam as notas fiscais "nesse valor". Maneco parece preocupado com a partilha: "Mesmo nos 2 [milhões], a divisão vai ser muito embaralhada". O empreiteiro contou ter recebido, naquele dia, um telefonema do consultor Marcos Mantovani, também preso na operação da PF, para que "desse um tratamento VIP" ao advogado Ricardo Tosto, então conselheiro do BNDES. Issa Filho demonstrou dúvida sobre a inclusão dele na suposta divisão, ao que Maneco alegou: "Mas é com o Paulinho, né? Aí, o que der pro Paulinho dá pro Tosto, né?".
Issa Filho reagiu negativamente à idéia, alegando que Tosto "não fez nada" para merecer o dinheiro. "Mas o cara não fez nada, não fez nada", disse o ex-servidor da prefeitura.
Ambos concluíram que o valor a ser dividido iria diminuir por causa das notas fiscais, que levariam ao pagamento de impostos. Maneco contou ter feito os cálculos ao lado do consultor Moura.
"Eu fiz umas contas com o João aqui, (...) o João falou que ele tem que dar pelo menos 2,5%, nem 2% não dá, porque ele quer nota, ô, Jamil, ele quer nota de material e nota de mão-de-obra. (...) Nota custa 15,8 [%] (...). Aí quanto que cai? Se ele der 2 contos, cai 300 paus, 1.700, e aí?", disse Maneco.
Na empresa Progus, de Mantovani, a PF apreendeu planilhas e papéis que indicam uma suposta partilha de recursos, segundo a polícia. As conversas sobre a divisão começaram depois que a parcela do empréstimo do BNDES chegou à conta da Prefeitura de Praia Grande. Maneco disse que brincou com o prefeito Alberto Mourão (PSDB): "A única coisa que eu falei foi: "Tá com [R$] 20 milhões na conta, hein, malandro". E ele ficava falando assim: "Pô, esse dinheiro não pode mexer, eu pensei que podia pôr no extraordinária da prefeitura". Não dá pra mexer? Só que o João Pedro falou pra mim que já mexeram em dez!".
Ao final da conversa, Maneco disse que chegou a provocar o prefeito sobre outro assunto, uma obra em um terreno baldio. "Falei pra ele assim: "Meu, se eu estivesse na sua cadeira aí, se deixasse eu sentar aí, sabe o que fazia?" "O que tu fazia, Maneco?" [o prefeito perguntou]. "Eu pegava, mandava alguém comprar essa empresa do terreno, tá certo, pagava esses seis, sete contos. Ia lá nos cara e falaria: o terreno custa seis, sete, tá certo. Me dá três por fora'".


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