|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Liberação de papéis não é revanchismo, afirma Lula
Dilma e Serra vão a anúncio de projeto do governo federal que libera documentos
Para Vannuchi, abertura de informações é compromisso do Estado; após cerimônia, Serra elogiou Dilma e se negou a falar sobre 2010
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal transformou ontem em ato político o
evento de divulgação de um
projeto de lei de direito de acesso a informações públicas, com
referências ao "simbolismo" da
presença na cerimônia de dois
potenciais candidatos às eleições de 2010, a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) e o governador de São Paulo, José Serra.
Foi o ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) quem
fez este registro de forma explícita, ao dizer que eles asseguravam, pela presença e pelo fato
de serem tratados na imprensa
como pré-candidatos, "o compromisso de que a caminhada
[pela divulgação de informações] é do Estado, não importa
a sucessão de partidos, de forças políticas no poder, cuja alternância é sempre saudável na
vida democrática".
O projeto apresentado ontem é de autoria do governo federal, mas Dilma convidou Serra pelo fato de São Paulo ter sido pioneiro na divulgação de
arquivos da ditadura.
Logo depois da cerimônia,
em entrevista, Serra elogiou
Dilma e se negou a comentar o
cenário de 2010. "Não encaro a
Dilma como virtual opositora.
Eu estou no governo de São
Paulo, acho que antecipar a
campanha eleitoral não é bom
para o país agora. Não vim nesta condição, nem encaro a Dilma desta maneira", disse ele.
Os integrantes do governo
que discursaram no evento deram um tom histórico às iniciativas divulgadas ontem, a começar pelo presidente Lula.
"Nós queremos fazer com
que a história deste país seja
contada verdadeiramente como ela foi, como ela é, e contada
como ela será daqui para a frente", disse ele, acrescentando
que ninguém deve ver a iniciativa "como revanchismo", num
recado velado aos militares que
criticam a divulgação de documentos da ditadura.
Na mesma linha do presidente, Dilma disse que "a cultura
do segredo de Estado está sendo superada pelos esforços do
governo e da sociedade" e que
as iniciativas anunciadas "eliminam todo o processo de desinformação" e contribuem para a ampliação da democracia e
a modernização do Estado.
O ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União), porém, reconheceu as dificuldades na implantação do projeto.
Para as iniciativas darem certo,
é necessário mudar a cultura do
"sigilo" e do "segredo" que
"sempre prevaleceu em grande
parte da administração pública,
em todos os níveis".
Serra elogiou o projeto, mas
concentrou a maior parte de
seu discurso sobre papéis que
constam do arquivo do Dops
em São Paulo -e leu trechos de
um documento sobre sua atuação durante o regime militar.
Foram anunciadas três iniciativas: 1) o projeto de lei de
acesso a informações públicas,
enviado ao Congresso; 2) o lançamento do site Memórias Reveladas (www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br), com documentos da
ditadura do Arquivo Nacional,
além dos acervos em poder de
14 Estados; 3) a divulgação de
edital pedindo a quem tiver papéis do período da ditadura que
os entregue ao governo.
O texto do projeto de lei
mantém a possibilidade de alguns documentos do Estado
serem mantidos em sigilo para
sempre, mas define controles
rígidos para reduzir as possibilidades de isso acontecer. Se for
aprovado pelo Congresso, todos os órgãos públicos ficam
obrigados a fornecer as informações em um prazo máximo
de 20 dias corridos, prorrogáveis por mais 10. Se determinado pedido não for atendido, o
cidadão pode recorrer à CGU.
Dados que possam pôr em
risco a soberania e a integridade nacional, a vida da população, a estabilidade financeira, a
segurança de instituições e autoridades poderão ser classificadas em três níveis: reservada,
secreta e ultrassecreta, cujos
prazos de sigilo serão de 5, 15 e
25 anos, respectivamente.
Leia os pontos do projeto
de lei sobre o acesso a
informações públicas
www.folha.com.br/091332
Texto Anterior: Há 13 anos, FGV propôs o oposto para a Diretoria Geral do Senado Próximo Texto: Igualdade racial: Ministro ironiza críticas de general sobre cotas raciais Índice
|