São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2010

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Na China, Li dizia assessorar Tuma Jr.

Em viagem com secretário, contrabandista tinha até cartão bilíngue; governo diz que não pagou viagem dele

Foto do amigo de Tuma Jr. ao lado do presidente Lula foi publicada pelo site do jornal do Partido Comunista chinês "O Diário do Povo"


FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Acusado de ser o chefe de uma quadrilha de contrabando, o chinês naturalizado brasileiro Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li, viajou a Pequim como "assessor especial" do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, em fevereiro do ano passado.
Tuma Jr. esteve em Pequim a convite do governo chinês, publicou ontem o jornal "O Estado de S. Paulo". Acompanhado de Li, participou de reuniões para acordo de cooperação de combate ao crime organizado, que acabou não sendo fechado.
O acordo faria parte da agenda da visita do presidente Lula, em maio de 2009, e incluiria o treinamento de chineses no Brasil para o combate a crimes financeiros.
Segundo a Folha apurou, Paulo Li se apresentou em Pequim como assessor de Tuma Jr. e do Ministério da Justiça.
Na viagem, até distribuiu um cartão de apresentação bilíngue com o cargo que nunca ocupou e erros crassos -o endereço do escritório aparece na rua "ocnselheiro furdado".
Não era a primeira vez que Li, preso pela Polícia Federal sete meses depois da viagem, usava a amizade de 30 anos com a família Tuma para se projetar como elo da comunidade chinesa com o governo.
Li conseguiu até uma foto ao lado de Lula. Em imagem publicada no site do jornal do Partido Comunista "O Diário do Povo" em julho do ano passado, ele aparece entregando o que seria uma estátua ao presidente. Era um presente da Associação Brasil-Qingtian, chinesa com tradição emigratória.
Na foto, informa a legenda do site, Lula está também ao lado de Fang Ze. Segundo a PF, ele faz parte da quadrilha de Li, que comandaria esquema de contrabando no Brasil.
A mesma pessoa identificada como Fang Ze aparece em fotos da viagem de Li e de Tuma Jr. a Pequim. Numa delas, de 20 de fevereiro de 2009, ele estaria numa visita a instalações da polícia em Pequim, mas a informação não foi confirmada.
Após a revelação, na semana passada, de escutas telefônicas feitas pela PF que revelam indícios de trocas de favores entre Tuma Jr. e Li, o secretário tirou férias de 30 dias, para evitar o afastamento. Na prática, não deve voltar ao cargo.

Outro Lado
De acordo com o Ministério da Justiça, a viagem de Li para a China não foi paga pelo governo brasileiro. Segundo o ministério, Li não realizou nenhuma outra viagem com o secretário.
Romeu Tuma Jr., em férias oficiais, não foi encontrado.
Sobre o cartão de visita usado por Paulo Li, o órgão diz não ter nada para comentar, o que deve ser feito pelo próprio Li.
O senador Romeu Tuma (PTB-SP) afirmou, por meio de sua assessoria, que foi várias vezes à China como vice-presidente da Interpol e a convite do governo daquele país.
Segundo ele, Li provavelmente participou de uma das comitivas como presidente da comunidade chinesa no Brasil. "O senador sempre aceita tirar foto com as pessoas que pedem. Isso é comum em viagens", disse a assessoria.


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