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Relator pede arquivamento de processo contra Renan
Investigação de Epitácio Cafeteira durou dois dias e não ouviu nenhuma testemunha
"Para evitar insinuações de que queria fazer uma pizza, procurei um documento para incriminar o presidente e não encontrei", diz senador
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De forma sumária, o relator
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
pediu o arquivamento do processo no Conselho de Ética
contra o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL),
por "absoluta ausência de provas ou indícios" de quebra de
decoro parlamentar. Sua investigação durou dois dias. Ele não
ouviu nenhuma testemunha.
A votação do parecer está
marcada para amanhã. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) pretende apresentar, com
o apoio do PSDB, um relatório
alternativo para garantir que o
conselho tome depoimentos e
faça perícia nos documentos
apresentados pela defesa antes
de chegar a uma conclusão.
O relatório de Cafeteira baseou-se nos documentos apresentados pela defesa e no depoimento do lobista Cláudio
Gontijo à Corregedoria.
"Apesar da busca terrível,
não encontrei nenhum documento para justificar a abertura de processo", disse Cafeteira.
"Para evitar insinuações da imprensa de que eu queria fazer
uma pizza, eu procurei um documento para incriminar o
presidente Renan Calheiros e
não encontrei nenhum."
Renan é suspeito de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Ele entregava R$ 12 mil mensais à jornalista Mônica Veloso, com quem
o senador teve uma filha há três
anos. O presidente do Senado
afirma que o dinheiro era seu e
que o "amigo" fazia os pagamentos para manter a relação
extraconjugal em sigilo.
O PMDB e parte do PT defenderam o enterro do processo a toque de caixa. "Defendo
que se dê um prazo de 24 horas
para a análise do relatório para
que o Senado não continue sangrando", disse o líder do PMDB,
senador Valdir Raupp (RO).
"Aqui ninguém tem a tarefa de
comprovar a culpa. Quem acusou tem o ônus de apresentar as
provas", afirmou a líder do PT,
senadora Ideli Salvatti (SC).
Apesar de os integrantes do
conselho quererem absolver
Renan, grande parte da sessão,
que durou cerca de quatro horas, foi gasta tentando contornar o rito sumário adotado pelo
relator. O objetivo era tentar
dar embasamento ao pedido de
arquivamento do processo.
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), chegou a
propor que o conselho ouvisse
hoje o advogado da jornalista,
Pedro Calmon, e o lobista,
mantendo a votação do parecer
para amanhã. "Sem querer sangrar nosso presidente, temos o
direito de fazer a investigação.
Dessa forma fica ruim para ele
e pior ainda para o Congresso",
afirmou Demóstenes.
O PSOL, autor da representação contra Renan, não concordou com essa saída. "Se não há
disposição de alterar o relatório, então é inócuo ouvir as testemunhas", disse o senador José Nery (PSOL-PA).
Na sessão, a defesa de Renan
foi feita pelo advogado Eduardo
Ferrão, que se concentrou no
ataque à imprensa. Ele também
apelou para o corporativismo
da Casa. "Querem arrastar o
presidente do Senado para a
Operação Navalha e a Casa
quer deixar, me perdoem a
franqueza. O Supremo [STF]
não deixou seu presidente ser
puxado por essa gente", disse.
O advogado referia-se à divulgação de que um homônimo do
ministro Gilmar Mendes estava em uma lista de agraciados
com presentes da Gautama, investigada pela Polícia Federal.
Para que um relatório alternativo seja aprovado é preciso
derrubar primeiro de Cafeteira
ou aprovar um requerimento
de preferência. O presidente do
Conselho disse que, pelo regimento, não era possível realizar depoimentos hoje e votar o
texto do relator amanhã.
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