São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Câmara adia votação da reforma política

Discussão sobre projeto que cria a lista fechada, em que eleitores escolhem partidos e não candidatos, continua na próxima semana

Proposta tinha tendência de aprovação pela manhã, mas perdeu força ao longo do dia, sobretudo após o PSDB mudar de posição


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fim de um dia tenso, marcado pela divisão nas maiores bancadas, a Câmara dos Deputados adiou a votação da reforma política ao desistir de mudar o sistema de eleição de deputados federais, estaduais e vereadores com a criação de listas partidárias "fechadas". Por esse modelo, o eleitor vota em partidos e não em candidatos.
A incerteza sobre as listas deixa indefinido o restante da reforma política, como o financiamento público de campanha e a fidelidade partidária.
Os partidos agora buscarão uma saída intermediária para a questão das listas, com um modelo misto, em que parte das vagas seria preenchida pela lista e parte com base nos deputados mais votados.
"Este é um modelo que pode unificar o plenário e o meu partido", disse Paulo Teixeira (PT-SP), um dos proponentes da saída intermediária.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que haverá um esforço até a semana que vem por uma "proposta de meio-termo". Líderes do DEM, PSDB e PMDB também defendem um acordo.
O texto original, que previa o voto apenas em lista, não chegou a ser votado. O principal motivo foi uma reviravolta do PSDB, que se declarou contrário às listas. Houve ainda a rebeldia de um terço da bancada do PT, que ameaçou votar contra, e o receio de dez deputados do PMDB do Rio com o poder do ex-governador Anthony Garotinho no diretório.
O tema dividiu todos os partidos e formou estranhas alianças entre governo e oposição. As lideranças de PT, PMDB, PSDB e DEM trabalharam pela mudança, mas as dissidências chegavam, em alguns casos, a metade da bancada. Já partidos como PR, PTB, PP, PDT e PSB se colocavam contrariamente.
Os defensores da lista argumentaram que ela fortalece os partidos e torna mais racional o processo eleitoral, enquanto os opositores diziam que não se pode tirar do eleitor o direito de votar no seu candidato.
Por volta das 18h, Chinaglia fez um "teste de plenário", para sentir os ânimos da Casa. Ele pôs em votação um requerimento de deputados favoráveis à criação das listas, que queriam encerrar a discussão e votar logo a matéria.
Os contrários à lista, por outro lado, queriam continuar a discussão, para atrasar o andamento da matéria. Votaram contra o requerimento 245 deputados, contra 194 a favor, uma vitória folgada para os que criticam a lista. O resultado foi uma espécie de "termômetro". Cientes de que iriam perder, os próprios defensores da lista desistiram de votá-la.
"Acabou a lista! Rasga a lista!", gritava Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), com socos no ar. "O gato caiu do telhado", disse Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.
O otimismo dos defensores da mudança foi se esvaindo ao longo do dia. A primeira surpresa veio com a decisão do PSDB, que estava rachado ao meio, mas decidiu fechar questão contra. Pesaram dois fatores: a falta de respaldo na opinião pública e a predileção dos tucanos por uma outra modalidade de reforma política, o voto distrital misto.
"Uma mudança como essa só ocorre se os partidos estiverem unidos e se a opinião pública estiver a favor. Nenhuma dessas condições está contemplada", disse Jutahy Júnior (PSDB-BA), um dos que votariam pela lista mas se submeteriam à decisão da bancada.
Essa reviravolta do PSDB, somada à rebelião dos petistas, tirou do dia para a noite quase 80 votos favoráveis à lista. "Isso compromete. Vínhamos a 100 km/h e encontramos um quebra-mola pela frente", disse o relator da proposta, Ronaldo Caiado (DEM-GO).
No PT, a decisão da Executiva Nacional, de apoio às listas partidárias, foi ignorada por uma grande parte da bancada, mesmo correndo o risco de punição. (FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E ANDREZA MATAIS)

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