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Câmara adia votação da reforma política
Discussão sobre projeto que cria a lista fechada, em que eleitores escolhem partidos e não candidatos, continua na próxima semana
Proposta tinha tendência de aprovação pela manhã, mas perdeu força ao longo do dia, sobretudo após o
PSDB mudar de posição
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao fim de um dia tenso, marcado pela divisão nas maiores
bancadas, a Câmara dos Deputados adiou a votação da reforma política ao desistir de mudar o sistema de eleição de deputados federais, estaduais e
vereadores com a criação de listas partidárias "fechadas". Por
esse modelo, o eleitor vota em
partidos e não em candidatos.
A incerteza sobre as listas
deixa indefinido o restante da
reforma política, como o financiamento público de campanha
e a fidelidade partidária.
Os partidos agora buscarão
uma saída intermediária para a
questão das listas, com um modelo misto, em que parte das
vagas seria preenchida pela lista e parte com base nos deputados mais votados.
"Este é um modelo que pode
unificar o plenário e o meu partido", disse Paulo Teixeira (PT-SP), um dos proponentes da
saída intermediária.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse
que haverá um esforço até a semana que vem por uma "proposta de meio-termo". Líderes
do DEM, PSDB e PMDB também defendem um acordo.
O texto original, que previa o
voto apenas em lista, não chegou a ser votado. O principal
motivo foi uma reviravolta do
PSDB, que se declarou contrário às listas. Houve ainda a rebeldia de um terço da bancada
do PT, que ameaçou votar contra, e o receio de dez deputados
do PMDB do Rio com o poder
do ex-governador Anthony Garotinho no diretório.
O tema dividiu todos os partidos e formou estranhas alianças entre governo e oposição.
As lideranças de PT, PMDB,
PSDB e DEM trabalharam pela
mudança, mas as dissidências
chegavam, em alguns casos, a
metade da bancada. Já partidos
como PR, PTB, PP, PDT e PSB
se colocavam contrariamente.
Os defensores da lista argumentaram que ela fortalece os
partidos e torna mais racional o
processo eleitoral, enquanto os
opositores diziam que não se
pode tirar do eleitor o direito de
votar no seu candidato.
Por volta das 18h, Chinaglia
fez um "teste de plenário", para
sentir os ânimos da Casa. Ele
pôs em votação um requerimento de deputados favoráveis
à criação das listas, que queriam encerrar a discussão e votar logo a matéria.
Os contrários à lista, por outro lado, queriam continuar a
discussão, para atrasar o andamento da matéria. Votaram
contra o requerimento 245 deputados, contra 194 a favor,
uma vitória folgada para os que
criticam a lista. O resultado foi
uma espécie de "termômetro".
Cientes de que iriam perder, os
próprios defensores da lista desistiram de votá-la.
"Acabou a lista! Rasga a lista!", gritava Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP), com socos no ar. "O
gato caiu do telhado", disse Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.
O otimismo dos defensores
da mudança foi se esvaindo ao
longo do dia. A primeira surpresa veio com a decisão do
PSDB, que estava rachado ao
meio, mas decidiu fechar questão contra. Pesaram dois fatores: a falta de respaldo na opinião pública e a predileção dos
tucanos por uma outra modalidade de reforma política, o voto
distrital misto.
"Uma mudança como essa só
ocorre se os partidos estiverem
unidos e se a opinião pública
estiver a favor. Nenhuma dessas condições está contemplada", disse Jutahy Júnior
(PSDB-BA), um dos que votariam pela lista mas se submeteriam à decisão da bancada.
Essa reviravolta do PSDB, somada à rebelião dos petistas, tirou do dia para a noite quase 80
votos favoráveis à lista. "Isso
compromete. Vínhamos a 100
km/h e encontramos um quebra-mola pela frente", disse o
relator da proposta, Ronaldo
Caiado (DEM-GO).
No PT, a decisão da Executiva Nacional, de apoio às listas
partidárias, foi ignorada por
uma grande parte da bancada,
mesmo correndo o risco de punição.
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E ANDREZA MATAIS)
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