São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Vice cobra CPI sobre estatais na gestão Yeda

Paulo Feijó afirma que mantém e-mails e planilhas sobre captação de verba para a campanha da tucana ao governo do RS em 2006

CPI do Detran já apura o suposto uso de recursos de estatais para financiar campanhas do PSDB; crise derrubou três secretários


ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó (DEM), 50, disse ontem em entrevista que tem cópias de e-mails e de planilhas da época da campanha que o elegeu vice da governadora Yeda Crusius (PSDB), sua inimiga política.
Ele não quis comentar o conteúdo, mas a Folha apurou que os registros trazem mais dados sobre a captação de recursos para a campanha eleitoral.
A crise política no governo gaúcho se aprofundou desde o dia 6, quando Feijó divulgou gravação da conversa em que o ex-chefe da Casa Civil gaúcha Cézar Busatto admite o uso de estatais no financiamento de campanhas. Três secretários caíram. A governadora montou um gabinete de transição para tentar recompor sua base.

 

FOLHA - O sr. é inimigo da governadora?
PAULO FEIJÓ
- De forma alguma.

FOLHA - Mas é uma relação difícil?
FEIJÓ
- Uma relação difícil dela comigo. Minha com ela, não.

FOLHA - Já que tantas coisas que o sr. gostaria que o governo fizesse não foram feitas, haveria vontade sua de permanecer na vida política? Concorrer ao governo?
FEIJÓ
- Estou decepcionado com o que poderíamos fazer e não fizemos, com o que nós defendemos em campanha e não cumprimos. Agora, entre eu ser candidato ou não, tem muita coisa a se definir. Se fosse hoje, eu estaria fora.

FOLHA - Por que o sr. gravou a conversa com o ex-chefe da Casa Civil?
FEIJÓ
- O [ex-] chefe da Casa Civil me procurou diversas vezes com este tipo de proposta. Sempre que eu levanto algo contra o governo, me tacham de desequilibrado, irresponsável. Qual a maneira de provar que o que eu estava defendendo era verdadeiro? Gravei e não disse a ninguém.

FOLHA - Por que o sr. não consultou o seu partido?
FEIJÓ
- Eu consultei. Fui e entreguei ao Ministério Público e à PF. Até então ninguém tinha conhecimento do conteúdo da gravação, só o MP, eu e o Busatto, que participou da conversa, mas não sabia da gravação. [...] O Onyx [Lorenzoni, presidente estadual do DEM, informado por Busatto da gravação] me perguntou se eu gravei. Eu disse que gravei. Os democratas tomaram ciência que eu tinha a gravação. [O Onix me perguntou] "Divulgou para alguém?" Eu disse que não. [Logo em seguida] O Busatto me telefona e me pergunta se eu tinha gravado a conversa. Eu disse que gravava todas as conversas com respeito ao governo, inclusive aquele telefonema.

FOLHA - O sr. grava mesmo?
FEIJÓ
- Não [risos], eu [apenas] disse para ele. Ele me perguntou se alguém mais tinha conhecimento. Disse que não, apenas a PF e o MP. Isso foi na quinta à noite. Na sexta, eu chamei o nosso partido e o Onyx, para receber a orientação, [que foi:] "Torne público agora".

FOLHA - O sr. falou na segunda-feira que tem outras gravações?
FEIJÓ
- Não, não procede.

FOLHA - O sr. tem mais gravações ou trocas de e-mail, inclusive um e-mail que comprometeria o marido da governadora [Carlos Crusius]?
FEIJÓ
- [Pausa] Isso não é questão de governo, isso é questão de campanha, é pré-governo.

FOLHA - Mas envolvem diretamente pessoas do governo?
FEIJÓ
- Eu participei da campanha, tinha acesso a todas as informações e tenho diversos e-mails e planilhas sobre isso.

FOLHA - O sr. tem intenção de tornar esse material público?
FEIJÓ
- Eu passo a ter responsabilidade no momento em que assumi a vice-governança. O fato importante é que um ex-deputado, um ex-secretário da Fazenda e ex-chefe da Casa Civil [Busatto] confirma que faz cinco anos que o PMDB tem como fonte de financiamento o Banrisul, que há uma concessão para que o PP se financie [por meio] do Detran. E ele disse que o Daer [Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem], com suas obras, financiou os nossos governos.

FOLHA - O sr. defende uma investigação profunda nessas estatais?
FEIJÓ
- Sem dúvida.

FOLHA - O sr. apoiaria uma CPI sobre o Banrisul e o Daer?
FEIJÓ
- Totalmente. Encaminharei as informações que tiver aos órgãos competentes. Confio nas instituições do país.


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