|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
Lula terá o que mostrar em Genebra
Num tempo em que a xenofobia estimula demagogos europeus e americanos, o Brasil anistia os imigrantes ilegais
|
NOSSO GUIA desembarca hoje em
Genebra para o aniversário da
Organização Internacional do
Trabalho com um bolão no pé. Numa
época em que demagogos europeus e
americanos fazem carreira defendendo
a perseguição a imigrantes que trabalham sem a documentação necessária,
o Congresso brasileiro concedeu uma
anistia aos estrangeiros que vivem ilegalmente em Pindorama. Não se sabe
quantos são. Fala-se em algo entre 200
mil e 600 mil pessoas, na maioria latino-americanos, mas também africanos, chineses e coreanos.
Esses imigrantes vivem precariamente, assediados por achacadores e
explorados por empregadores. Habitam numa zona de sombra onde há jornadas de trabalho de 16 horas, exploração sexual e até mesmo recrutamento
para quadrilhas de criminosos. Com a
anistia, os imigrantes poderão regularizar sua situação. A iniciativa partiu de
um deputado da oposição (William
Woo, do PSDB de São Paulo, filho de
chinês com japonesa) e foi aperfeiçoada no Senado. Em nenhum momento
provocou controvérsia.
Durante os últimos 150 anos, o Brasil
recebeu levas sucessivas de imigrantes.
Foram cerca de 6 milhões de pessoas,
quase sempre miseráveis, deliberadamente exportados pelos governos da
Europa e do Japão. Vieram até americanos tristes com a derrota do Sul na Guerra da Secessão, encantados com a sobrevivência da escravidão nacional. Hoje essa situação se inverteu e há algo como 2
milhões de brasileiros no exterior,
sem que o governo os tenha estimulado a partir. (Na média, a escolaridade dos brasileiros que migram é
superior à dos estrangeiros que vieram para cá.) Nações europeias que
embarcaram seus famintos hoje cultivam preconceitos e projetos segregacionistas de acesso a saúde e educação. Assim como ocorreu na primeira metade do século passado, a
crise econômica provoca desemprego e o desemprego estimula a xenofobia. Deu no que deu.
FERNANDO SARNEY DESAFIA CHARLES DARWIN
O senador maranhense Epitácio Cafeteira foi categórico
numa conversa com o repórter
Rodrigo Rangel: "Eu contrato
quem eu quero e não sabia que
tinha que pedir autorização a
vocês da imprensa".
O problema não é de autorização, mas de compostura. Há
22 anos, o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente e dono de eletrizante
fortuna, procriou fora do casamento com uma ex-candidata
a Miss Brasília. Cafeteira colocou o moço na bolsa da Viúva
dando-lhe um emprego de R$
7,6 mil mensais em seu gabinete. Pressionado pelas restrições ao nepotismo, demitiu-o
e, para equilibrar o orçamento
desse ramo da família de Fernando Sarney, contratou a
mãe. Tudo com a discrição dissimulada das casas-grandes.
O filho do ex-presidente tem
patrimônio e renda suficientes
para pagar R$ 7,6 mil mensais
com dinheiro do seu bolso. Para o padrão de consumo do andar onde circula, essa quantia
equivale a duas caixas de bom
vinho, ao custo de um jantar
para 15 pessoas ou ao hotel na
Europa num feriadão. Fernando Sarney não precisava passar
a conta de seu filho para a Viúva. O episódio não assombra
pelo aspecto corrupto nem
mesmo pela avareza. O que ele
traz de pior é a exposição da
decadência.
Nas palavras de Cafeteira:
"Eu devia favores ao Fernando.
Ele me ajudou na campanha".
Fica faltando o senador dizer
que favores e quanto valeram.
No ano do bicentenário de
Charles Darwin, Fernando
Sarney tornou-se uma peça para o estudo da regressão das espécies.
BANESTADO 2.0
Pelo andar da carruagem,
com os petrotecas tucanos mapeando a blindagem dos fornecedores da administração do
comissário Sergio Gabrielli, a
Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras será uma
versão 2.0 da CPI do Banestado. De triste memória, a CPI do
Banestado foi instalada em
2003, sob a fanfarra da busca
de US$ 30 bilhões lavados no
sistema financeiro. Não se pode
dizer que tenha dado em nada,
pois remanejou uma parte
do mercado de doleiros e sacramentou o romance do PT com
uma banda da banca. Nela
alguns curiosos seguiram boas
pistas, acharam o que buscavam e juntaram o que não
deviam.
PETROCHAVE
As patrulhas parlamentares
petistas têm um calmante para
baixar o tom de tucanos e demos. Basta incluir duas palavras, somando nove letras, no
meio de qualquer frase: "Joel
Rennó". Rennó presidiu a Petrobras durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso,
com o ativo beneplácito do então PFL.
PRIVATARIA DO PT
A melhora dos serviços públicos de energia e comunicação foi a joia da coroa da privataria tucana. Na teoria, as empresas comprariam o patrimônio da Viúva e seriam submetidas à fiscalização das agências
reguladoras. Passou o tempo e
veio a privataria das agências
petistas. Em São Paulo, a Telefônica tornou-se um exemplo
de excesso de oferta de panes e
escassez de explicações. Quanto ao fornecimento de eletricidade, os apagões da Eletropaulo já criaram um mercado de
geradores a gás para prédios da
região da avenida Paulista.
PM NELES
O governador José Serra e
seus sábios tucanos, bem como a
reitora da USP, Suely Vilela, deveriam conversar com o professor Aloisio Teixeira, reitor da
UFRJ. Ele recebeu uma universidade conflagrada, pacificou
professores e estudantes e deixou a polícia de fora.
Serra e a doutora Suely fazem
o caminho oposto. Militarizam a
controvérsia e jogam os moderados no colo dos aparelhos.
Pode ser que haja na USP garotos (e professores) convencidos
de que a democracia representativa é uma "máscara para acobertar
a submissão do Brasil ao imperialismo". É besteira, mas é besteira
velha, dita em 1963 pelo governador que acionou a PM, quando assumiu a presidência da UNE.
POUCA ENERGIA
Os professores Adilson de Oliveira e Eduardo Pontual, da
UFRJ, relacionaram os números
do consumo de energia elétrica
com a produção industrial e concluíram que o doce futuro prometido pelo ministro Guido Mantega está longe de acontecer. O consumo de energia continua patinando nos níveis de 2006 e 2007,
longe do crescimento de 2008. Os
dados dos últimos 90 dias mostram que, se não forem tomadas
medidas para aquecer a produção
industrial, o segundo trimestre
de 2009 poderá fechar melhor
que o primeiro, mas ficará longe
do retorno à normalidade.
ERRO
Estava errada a informação
aqui publicada, segundo a qual o
ministro Tarso Genro queria
criar um Observatório da Justiça
anexo à estrutura de seu comissariado. Em nenhum momento ele
quis fazer isso. Pelo contrário, a
ideia surgiu com o pressuposto de
que a iniciativa ficasse no âmbito
de alguma universidade, como
ocorre em Portugal.
Texto Anterior: Estudo aponta baixo efetivo para proteger ambiente Próximo Texto: Sarney usa ato secreto para criar cargo para sobrinha Índice
|