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Saquearam os macumbeiros em Nova Russas
do enviado especial
Na sexta-feira, 1º de maio, o sindicato dos trabalhadores rurais de
Nova Russas fez uma passeata pela
cidade. Queriam o trivial simples:
vagas nas frentes de trabalho e cestas básicas.
A prefeita Iranede Veras Rosa,
PSDB, mulher e nora de ex-prefeitos, anunciou que na segunda-feira entregaria 5 toneladas de mantimentos ao sindicato. Segunda-feira foi 4 de maio. Mil pessoas
amanheceram na praça onde está
o sindicato. Seus diretores disseram que não tinham comida nem
estrutura para distribui-la e pediram socorro à prefeita.
Ela mandou o marido (secretário de Planejamento), que explicou: não havia comida e, quando
houvesse, seria distribuída nas comunidades, não no centro da cidade. Dito isto, o sindicato foi invadido. Levaram dez sacos de milho para plantio e quatro de sementes de sorgo.
"A macumba virou contra o
macumbeiro", ri a prefeita, que
teve de montar uma rápida operação de esclarecimento para que os
saqueadores não cozinhassem o
milho, pois continha veneno de
semente.
Como o saque não rendeu, a
multidão foi para a Escola 11 de
Novembro, uma bem-cuidada
edificação, protegida por um portão de ferro. Entraram por uma
portinha lateral. Uma vizinha, Rita Marques, narra o que viu:
"Eles jogavam pacotes por cima
do muro. A coisa toda durou uma
hora. Chegou a polícia, e aí dividiu
melhor. A coisa continuou por
mais duas horas. Uma criança ficou aqui na calçada, chorando. Eu
fiz um suco de caju para ela. A mãe
disse que era fome. Devia ser, porque ela tomou logo."
Um saque que começa em sindicato e melhora com a chegada da
polícia não é um saque qualquer,
mas dona Rita não delirava. A PM
de Nova Russas efetivamente supervisionou a limpa da Escola 11
de novembro. Quatro dias antes,
FFHH anunciara, ao empossar o
novo superintendente da Sudene,
que "se o apelo moral não é suficiente, a lei se fará sentir de toda
maneira".
É fácil falar em lei em Brasília,
mas fazê-la sentir em Nova Russas
é coisa bem diversa. Às 9:15 hs.
quando o soldado Marco Antonio
Martins de Araújo, 28 anos e 7 de
PM, chegou à escola com dois outros colegas, ela já estava invadida.
Tinham pedido reforço ao quartel
de uma cidade próxima, mas estavam sós.
Havia umas mil pessoas do lado
de fora. Por uma boa meia hora os
dois lados se estudaram, até que a
multidão foi em frente. Para evitar
que a escola fosse depredada e que
a limpeza saísse dos limites do depósito da merenda escolar, saqueadores e policiais entenderam
que era necessário botar um pouco de ordem naquela bagunça.
E assim a PM cuidou de manter
uma barreira que permitisse às
pessoas pegar a mercadoria em
paz. A esta altura, a distribuição já
estava a cargo de funcionários da
prefeitura. Às 11h30, chegaram os
reforços, mas o saque acabara. Tinham levado 8 mil merendas.
No dia seguinte, a prefeita distribuiu 4 mil cestas básicas e Nova
Russas voltou ao normal, com o
comerciante Raimundo Nonato
Azevedo, 43 anos, na segunda geração de donos da Mercearia Azevedo, que continua dando dois ou
três reais por dia às pessoas que
param e pedem.
"Agora está mais civilizado.
Meu pai contava que, no saque de
1979, eles vinham, diziam que precisavam de um saco de farinha, e
levavam.
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