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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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Direitos humanos dividem Lula e Blair

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Tony Blair foi tão cordial com Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro que tiveram, que chegou a brincar que o forte calor que fazia em Londres havia sido providenciado para que o mandatário brasileiro se sentisse à vontade.
Cordialidade à parte, faltou um ponto -e apenas um- para fechar o entendimento entre os dois: o próprio Blair reconheceu, na conversa com Lula, que havia um "probleminha" no documento final da Cúpula de Londres porque a delegação brasileira resiste a um trecho que cuida da "proteção" aos direitos humanos.
Os brasileiros acham que, no texto original, proteção a direitos humanos, soberania e segurança estão colocados num mesmo pé, o que, primeiro, seria uma justificativa a posteriori para o ataque dos EUA ao Iraque e, segundo, abriria brecha a novos ataques.
No mais, assim como ocorrera na visita a Portugal, Lula foi coberto dos mais rasgados adjetivos. "Estou absolutamente encantado por vê-lo aqui", disse Blair, ao abrir as discussões sobre "Governança Progressista", no Hilton Metropole Hotel.
Peter Mandelson, o deputado trabalhista e ex-ministro que é uma espécie de marqueteiro da "Terceira Via", disse, por sua vez, que Lula "é uma voz tremendamente poderosa e influente". Mandelson, durante a campanha eleitoral brasileira de 1998, chamara o PT de "retrógrado".
Agora, não é mais. Quando Lula contou que, no seu tempo de sindicalista, era chamado de comunista pela direita e de democrata pela esquerda, Blair emendou rápido: "Se você foi atacado pela direita e pela esquerda, é uma qualificação para ser membro da Governança Progressista".
Lula não pediu ficha de inscrição, mas entendeu-se tão bem com o premiê inglês que a delegação brasileira acalenta a esperança de que Blair faça um anúncio formal e explícito de apoio à candidatura brasileira a uma vaga na eventual ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
"Blair concorda com a reforma e vê com simpatia a candidatura do Brasil", relatou depois André Singer, o porta-voz de Lula, que, no entanto, não tinha condições de confirmar se haveria ou não um endosso mais explícito.
Enquanto a conversa esteve aberta para os fotógrafos, girou em torno do clima. Lula comentou que a imagem que os brasileiros têm da Europa é de frio e neve, em vez do tremendo calor que fazia ontem. Blair admitiu que a temperatura estava anormal. Lula perguntou "quantos meses" dura o verão na Europa. Blair e toda a comitiva inglesa riram muito: "Acho que dura dias, não meses", respondeu o premiê.
O chanceler Celso Amorim aproveitou para contar a piada de um cônsul brasileiro em Londres que dizia ter ido ao cinema em um dado dia. "Foi o suficiente para perder o verão". (CR)


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