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Direitos humanos dividem Lula e Blair
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Tony Blair foi tão cordial com
Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro que tiveram, que chegou a
brincar que o forte calor que fazia
em Londres havia sido providenciado para que o mandatário brasileiro se sentisse à vontade.
Cordialidade à parte, faltou um
ponto -e apenas um- para fechar o entendimento entre os
dois: o próprio Blair reconheceu,
na conversa com Lula, que havia
um "probleminha" no documento final da Cúpula de Londres
porque a delegação brasileira resiste a um trecho que cuida da
"proteção" aos direitos humanos.
Os brasileiros acham que, no
texto original, proteção a direitos
humanos, soberania e segurança
estão colocados num mesmo pé,
o que, primeiro, seria uma justificativa a posteriori para o ataque
dos EUA ao Iraque e, segundo,
abriria brecha a novos ataques.
No mais, assim como ocorrera
na visita a Portugal, Lula foi coberto dos mais rasgados adjetivos. "Estou absolutamente encantado por vê-lo aqui", disse
Blair, ao abrir as discussões sobre
"Governança Progressista", no
Hilton Metropole Hotel.
Peter Mandelson, o deputado
trabalhista e ex-ministro que é
uma espécie de marqueteiro da
"Terceira Via", disse, por sua vez,
que Lula "é uma voz tremendamente poderosa e influente".
Mandelson, durante a campanha
eleitoral brasileira de 1998, chamara o PT de "retrógrado".
Agora, não é mais. Quando Lula
contou que, no seu tempo de sindicalista, era chamado de comunista pela direita e de democrata
pela esquerda, Blair emendou rápido: "Se você foi atacado pela direita e pela esquerda, é uma qualificação para ser membro da Governança Progressista".
Lula não pediu ficha de inscrição, mas entendeu-se tão bem
com o premiê inglês que a delegação brasileira acalenta a esperança de que Blair faça um anúncio
formal e explícito de apoio à candidatura brasileira a uma vaga na
eventual ampliação do Conselho
de Segurança da ONU.
"Blair concorda com a reforma
e vê com simpatia a candidatura
do Brasil", relatou depois André
Singer, o porta-voz de Lula, que,
no entanto, não tinha condições
de confirmar se haveria ou não
um endosso mais explícito.
Enquanto a conversa esteve
aberta para os fotógrafos, girou
em torno do clima. Lula comentou que a imagem que os brasileiros têm da Europa é de frio e neve,
em vez do tremendo calor que fazia ontem. Blair admitiu que a
temperatura estava anormal. Lula
perguntou "quantos meses" dura
o verão na Europa. Blair e toda a
comitiva inglesa riram muito:
"Acho que dura dias, não meses",
respondeu o premiê.
O chanceler Celso Amorim
aproveitou para contar a piada de
um cônsul brasileiro em Londres
que dizia ter ido ao cinema em um
dado dia. "Foi o suficiente para
perder o verão".
(CR)
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