São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/MALA SUSPEITA

Bilhete aéreo do filiado do PT detido com mala de dinheiro em São Paulo foi vendido por agência de turismo que atende a Assembléia do Ceará

Assessor comprou passagem para petista

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Complicou-se ainda mais a situação do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do PT José Genoino. Depois de ver seu então assessor José Adalberto Vieira ser preso na última sexta com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil dentro da cueca, Guimarães tem um outro assessor envolvido no episódio: José Vicente Ferreira. Foi ele quem pagou a passagem aérea utilizada por Adalberto para pegar a mala de dinheiro.
Ferreira emitiu um cheque no valor de R$ 394,55. O tíquete foi adquirido na mesma agência que fornece passagens para a Assembléia do Ceará. Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o deputado afirmou ontem que Adalberto e Ferreira planejavam abrir uma locadora de veículos com o dinheiro, que, ainda segundo Guimarães, pertencia a Kennedy Moura, outro ex-colaborador seu (leia texto nesta página).
Quando foi preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, Adalberto disse, inicialmente, que o dinheiro era proveniente da venda de verduras e legumes.
Mas, de acordo com o auto de prisão em flagrante da Polícia Federal, ao qual a Folha teve acesso, o então assessor, que foi exonerado do cargo, dá outra versão, que contradiz a de seu ex-chefe. Ele disse que o dinheiro seria entregue a um advogado e comerciante de Aracati, interior do Ceará, identificado como João Moura.
Ao passar a mala pela esteira de raios X, Adalberto foi questionado pelas operadoras do aparelho sobre uma "coloração estranha" detectada em sua valise. Segundo o auto, o ex-assessor afirmou que se tratava de R$ 80 mil. As operadoras chamaram a Polícia Federal. Para o agente Jamil Abdallah Ismael Rina, o petista repetiu a mesma história, logo desmentida.
Conforme o auto, os US$ 100 mil foram encontrados "presos às nádegas" do ex-assessor.

Ligações
Kennedy Moura, o suposto dono do dinheiro segundo o irmão de Genoino, foi assessor de Guimarães na Assembléia e indicado por ele para ocupar a chefia de gabinete do presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith.
Moura pediu demissão do cargo anteontem e, desde então, foi considerado foragido.
Segundo a Polícia Federal, uma das últimas ligações feitas do celular de Adalberto foi para Moura, que se apresentou ontem à Polícia Federal em Fortaleza para dizer que não está foragido.
Ao lado de seu advogado Paulo Quesado -o mesmo que defende o juiz Pedro Percy Barbosa Araújo, acusado de matar o vigia de um supermercado em Sobral (CE), em fevereiro deste ano-, Moura se apresentou e entregou à PF seus dados para ser localizado.
Segundo a PF, ele se colocou à disposição para esclarecimentos, porém, não prestou depoimento.
Kennedy Moura tem relações antigas com petistas. A atual presidente do PT no Ceará, Sônia Braga, é sua ex-mulher. Ele também é ligado ao prefeito de Quixadá, Hilário Marques, de quem foi secretário de Finanças em sua primeira gestão (1993-96). Quando Marques foi deputado estadual, Moura foi seu assessor, juntamente com o irmão de Genoino.
Moura também foi nomeado tesoureiro do PT cearense no período em que Guimarães foi presidente estadual do partido. Ele passou pouco tempo na função, entre 1998 e 1999, e foi substituído por "problemas de gestão".
(CHICO DE GOIS, KAMILA FERNANDES E RUBENS VALENTE)

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