São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relação entre Valério e Guedes será investigada

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes é alvo, desde ontem, de uma investigação do Ministério Público Federal para apurar suspeitas de corrupção e improbidade administrativa.
A Procuradoria da República no Distrito Federal vai investigar os atos de Guedes no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional e as relações do procurador da Fazenda com o empresário mineiro Marcos Valério de Souza Fernandes, apontado como um dos principais operadores do "mensalão" -suposto pagamento de mesada a parlamentares para votar a favor do governo.
Aberta ontem, a investigação contra Guedes vai ser chefiada pela procuradora da República Michele Travassos. Guedes foi afastado do conselho e também é alvo de uma sindicância. Ainda não foi marcada a data para ele ser ouvido pelos procuradores.
Segundo o que a Folha adiantou no último dia 7, o procurador da Fazenda recebeu em sua conta depósitos feitos pelas empresas de Marcos Valério. Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhados à CPI dos Correios mostram que, em maio deste ano, a empresa Tolentino & Melo Assessoria Empresarial, da qual Marcos Valério é sócio, fez uma transferência de R$ 500 mil para uma conta no BankBoston da qual Guedes é co-titular.
A conta do procurador da Fazenda recebeu da mesma empresa, em 2003, outra transferência eletrônica no valor de R$ 782 mil. No mesmo ano, houve outro depósito no valor de R$ 120 mil.
Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, disse à CPI dos Correios que a conta do celular de Guedes era paga pelo empresário mineiro, além de outros gastos, como passagens aéreas e diárias de hotéis.
No Conselho, Guedes tinha a função de fazer pareceres sobre recursos administrativos apresentados por instituições financeiras multadas pela Comissão de Valores Imobiliários e pelo BC. Pelo órgão, ele havia dado um parecer pelo arquivamento de um processo aberto contra o Banco Rural (instituição ligada a Marcos Valério) e dois dos seus dirigentes por supostas irregularidades.
Segundo escrituras registradas em cartórios do Rio de Janeiro, Guedes adquiriu, desde 2001, 12 imóveis, no valor de R$ 7,23 milhões. O rendimento médio mensal de Guedes como procurador é de R$ 9.000,00. Guedes também vai ser ouvido na investigação da Polícia Federal sobre o mensalão.
A reportagem tentou nos últimos dias contato com o procurador da Fazenda Nacional, mas familiares informaram, por telefone, que ele só falaria no "foro adequado". À CPI, Marcos Valério negou as acusações. Segundo o empresário, Guedes apenas usava os serviços de sua secretária e reembolsava os gastos. Rogério Tolentino, sócio da Tolentino e Melo, disse que as remessas da empresa para a conta no BankBoston foram referentes ao pagamento de serviços prestados pelo pai do procurador da Fazenda.


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/CPI dos Bingos: Cachoeira poupa Dirceu na CPI dos Bingos
Próximo Texto: PF faz apreensão na Receita Federal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.