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Petrobras não achou fraude, diz Gabrielli
Presidente afirma que estatal investigou contrato da Angraporto "há mais de dois anos", mas não identificou irregularidades
Gabrielli afirma que a PF avisou empresa das "novas denúncias" em 2006, o que motivou a companhia a "colaborar com a polícia"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Petrobras,
José Sérgio Gabrielli, 57, disse
que a estatal realizou "há mais
de dois anos" investigação interna de um contrato firmado
com a Angraporto, mas não encontrou irregularidades. A empresa está no centro do esquema de fraudes que envolvia licitações para reformas de plataformas da estatal, segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal.
Em entrevista à Folha por e-mail, Gabrielli afirmou que a
investigação não "identificou
nenhuma fraude" e que o contrato não tinha relação com os
envolvidos na Operação Águas
Profundas.
Segundo ele, em 2006 a Polícia Federal informou a Petrobras de novas denúncias contra
a Angraporto. Foi aí que a companhia passou a "colaborar
com a polícia, retomando e
aprofundando nossas investigações internas". Leia trechos
da entrevista:
FOLHA - O sr. tinha conhecimento
das contrações dos serviços de reparo na P-10, P-14, P-16 e P-22 [investigadas na operação]? Foram aprovadas pela diretoria da companhia?
JOSÉ SERGIO GABRIELLI - A competência para contratação na Petrobras obedece a limites previstos nos procedimentos internos. Além de regras estabelecidas para contratação, a
companhia e suas unidades são
submetidas sistematicamente
a auditorias internas e externas. Há presunção de confiança
no corpo gerencial. Os processos que chegaram às mãos da
diretoria não apresentavam indícios de irregularidade. A Petrobras celebra dezenas de milhares de contratos por ano, e o
nível de problemas na contratação é muito baixo.
FOLHA - Os valores justificavam a
aprovação pela diretoria ou estavam no limite dos gerentes?
GABRIELLI - Os contratos tinham valores diferentes e se
enquadravam em níveis de
competências diferentes. A informação sobre nível de competência não pode ser divulgada, pois interfere nos interesses
comerciais da companhia.
FOLHA - De que forma exatamente
a Petrobras colaborou e participou
dessa investigação? Há quanto tempo a Petrobras sabia das suspeitas?
GABRIELLI - Há mais de dois
anos, tiveram início na Petrobras processos de investigação
interna, a partir de denúncias
genéricas sobre condições de
trabalho. Essas denúncias já
envolviam a Angraporto como
única vencedora de uma licitação. Uma sindicância interna
ouviu os responsáveis e, naquela época, não identificou qualquer fraude. É bom lembrar
que o objeto da investigação era
outro. Em janeiro de 2006, a
Delegacia Fazendária da Polícia Federal apresentou novas
denúncias envolvendo a mesma empresa. A partir das novas
denúncias, passamos a colaborar com a polícia. As investigações foram feitas em conjunto
com a Procuradoria da República e a Polícia Federal.
Os procedimentos internos
envolvem a oitiva dos suspeitos, o que não foi feito por sugestão do procurador para não
atrapalhar as investigações.
Acatamos o procedimento.
Na terça, quando o ato se tornou público, após a ação policial, foi constituída comissão
de sindicância para aprofundar
as investigações internas. Ao
mesmo tempo, tomamos a decisão de demitir dois funcionários por justa causa, suspender
outros dois e afastar todos que
ocupavam cargos de chefia.
FOLHA - Quais são os funcionários
demitidos e por que dois só foram
afastados ontem [quinta-feira],
apesar de a empresa afirmar que haviam sido afastados na terça?
GABRIELLI - Na terça foram afastados os três empregados que a
Petrobras já tinha conhecimento oficial do envolvimento.
No caso dos outros dois, a confirmação só aconteceu em reunião ocorrida ontem [anteontem] com a Procuradoria. A
partir disso, o afastamento foi
determinado. Não vamos informar nomes dos funcionários.
Os dois empregados foram demitidos por justa causa em razão de improbidade administrativa. A participação deles no
"suposto esquema" é objeto de
averiguação judicial.
FOLHA - Houve direcionamento
das licitações?
GABRIELLI - Isso é objeto das
apurações em curso.
FOLHA - É possível quantificar o
prejuízo da Petrobras?
GABRIELLI - Ainda não temos essa estimativa.
FOLHA - Foram feitos pagamentos
indevidos nos contratos da P-54 e da
P-52, como apontou o TCU?
GABRIELLI - Não houve incorreção. Os pagamentos foram feitos dentro da legalidade. A Petrobras recebeu ontem [quinta]
a solicitação de esclarecimentos que serão apresentados
dentro do prazo de cinco dias.
Recebi o relatório preliminar
do ministro Augusto Nardes.
Não quero fazer comentários
precipitados. Esses relatórios
preliminares geralmente sofrem alterações quando vão a
julgamento. A acusação principal de desequilíbrio econômico
do contrato, por exemplo, foi
tese de discussão aceita pelo
pleno do TCU, no ano passado.
FOLHA - Por que a estatal não torna públicos os editais investigados?
GABRIELLI - Porque todo o material envolvido nas contratações, dentre os quais os editais,
está sendo objeto de apuração.
FOLHA - Durante a campanha eleitoral, a Petrobras foi considerada
pelos opositores do PT como uma
das fornecedoras de recursos para
campanhas. É possível que tenha
havido algum tipo de "mensalão" a
partir da Petrobras? Tem conhecimento de que fornecedores da Petrobras tenham financiado o PT?
GABRIELLI - A Petrobras não tem
nenhum envolvimento com
contribuições de campanha. De
maneira geral, as empresas privadas fazem doações para todos os partidos, mas isso não
diz respeito à Petrobras.
FOLHA - Como o sr. vê o fato de a
Iesa ter doado R$ 1,6 milhão ao PT
alegando que fez a doação por concordar com a política do governo de
aumentar o conteúdo nacional nas
contratações da Petrobras?
GABRIELLI - Desconheço as declarações. Qualquer empresa
privada pode fazer doações ao
partido que quiser.
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