São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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Dantas ignora estrutura de empresas, diz PF

Relatório diz que banqueiro criou um "complexo empresarial criminoso" e que sua participação "nas empresas é mínima"

Em documento, delegado aponta um sócio de mais de 700 empresas; para ele, há "diversos indícios de que se trata de mero laranja"


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal diz que nem mesmo Daniel Dantas e sua irmã Verônica sabem ao certo a estrutura de cada empresa do grupo Opportunity.
A PF cita o uso de "empresas prateleira" (que não têm atividade para produção ou circulação de bens e serviços) e de laranjas. Segundo o relatório, um "complexo empresarial criminoso" foi arquitetado.
"A participação de Daniel Dantas nas empresas é mínima, especialmente quando comparada com a de sua irmã Verônica Dantas, a qual faz parte de quase todas as empresas pesquisadas", diz trecho do inquérito da Operação Satiagraha.
"De qualquer forma, não interessa quem esteja legalmente constituído para representar a empresa, as decisões sempre passam por D. Dantas", completa o documento, escrito pelo delegado Protógenes Queiroz.
Segundo a PF, "em análise a respeito do complexo empresarial criminoso", a maior parte das empresas é somente "prateleira" ou "veículo". "Isto representa na pior das hipóteses a má intenção ou conduta criminosa ao integrar no mercado empresarial e financeiro uma empresa com pouco tempo de duração que vai servir para aquele propósito determinado, qual seja, investimentos ou passagem de ativos suspeitos ou ilícitos", diz o relatório.
O delegado cita Eduardo Duarte como sócio de mais de 700 empresas do grupo, "havendo diversos indícios de que se trata de mero laranja".

Quem é quem
Para argumentar que nem mesmo Dantas e sua irmã Verônica sabem ao certo quem comanda cada empresa do grupo empresarial, a PF cita interceptações telefônicas e de e-mails.
"Diversos diálogos interceptados, bem como e-mails, demonstram uma confusão na administração dos negócios. Nem os investigados sabem quem estava à frente de qual empresa, em qual período, pois isso é uma mera formalidade, já que o comando se conhece."
Queiroz afirma que Dantas "extrapola em sua ficção de "grande gênio financista" para na realidade, em sua essência, ser "grande gênio fraudador'".
O relatório chama Dantas de "Alter Ego", "pois atua de forma extremamente discreta, quase não assina documentos ou detém participações acionárias, não utiliza e-mails, porém, o grupo Opportunity age conforme seus interesses".
A Folha não conseguiu falar com o advogado de Dantas, Nélio Machado. Em uma ligação interceptada, Dantas comenta com a sua irmã Verônica a tese do "alter ego". "Eles tão desenvolvendo uma tese que o banco Opportunity, o Opportunity Fund, tudo isso é um alter ego, não tem uma estrutura jurídica aqui, tá?", afirma. "E o banco Opportunity claramente não se caracteriza num alter ego."
Dantas e Verônica conversam diversas vezes para tentar levantar os postos ocupados em cada uma das empresas.
Em um dos diálogos, falam sobre Dório Ferman, presidente do Opportunity. "Ele foi diretor o tempo inteiro e eu acho que você tem que dizer que falou com ele e, com quem ele falou lá dentro, você não sabe", diz Verônica.
"Qual a relação formal dele com a empresa, ele é sócio?", questiona Dantas. Verônica responde: "Ele é diretor do Opportunity Fund".
A PF conclui: "É de se notar que o grupo Opportunity (...) cresceu tanto e arrecada valores inimagináveis que operacionalmente é impossível hoje ele ou qualquer controlador abaixo dele saber qual a quantidade de empresas controlada, bem como o fluxo de recursos existentes em transações correntes, sem contar o que passa no caixa dois, caracterizando, assim, a gestão fraudulenta".


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