São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

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Busca no Araguaia será "fiasco", diz ex-preso

Para Aldo Arantes, observador na operação, é preciso ouvir militares que atuaram na repressão à guerrilha

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO GERALDO DO ARAGUAIA (PA)

Observador independente da comissão que busca ossadas no Araguaia, indicado por seu partido, o PC do B, o ex-deputado federal Aldo Arantes previu que os trabalhos, iniciados na quarta-feira passada, resultarão em "um fiasco" caso não sejam ouvidos os militares que enterraram os corpos dos guerrilheiros na década de 70.
Ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e ex-preso político, Arantes, 70, tem sido um dos interlocutores mais constantes do general Mário Lúcio de Araújo, que dá apoio logístico à comissão, de 33 militares e civis.
Geralmente lado a lado, os dois têm visitado os locais onde podem ter sido enterrados os cerca de 60 guerrilheiros desaparecidos no Araguaia.
"Não é uma impressão minha. É uma convicção de que essa operação será um fiasco sem as informações dos militares que sabem os locais onde ocorreram os sepultamentos clandestinos. Se isso acontecer, será ruim para o governo do presidente Lula e para as Forças Armadas", afirmou.
"Todo mundo sabe que houve uma "operação limpeza" [anos após a guerrilha, os militares teriam sumido com os corpos]. Os camponeses não sabem onde [os corpos foram levados]. Os militares sabem", disse Arantes, deputado por quatro legislaturas.
O posicionamento foi externado em reunião anteontem na cidade de São Domingos do Araguaia. Arantes disse ao general e aos oficiais do grupo que estava requisitando oficialmente a convocação dos militares que atuaram na repressão de 1972 a 1975. Organizado pelo então clandestino PC do B, a guerrilha do Araguaia começou no fim dos anos 60 e terminou em 1975. A ordem para a busca das ossadas é judicial.
Em visita da comissão ontem à reserva indígena Suruí Sororó, em São Geraldo do Araguaia (650 km de Belém), o general Araújo, 53, disse à Folha que a possibilidade de convocação dos militares está sendo avaliada pelo Ministério da Defesa.
Entre os ex-militares que podem ser chamados estão o major da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, e o tenente da reserva José Vargas Jiménez, autor de "Bacaba -Memórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Araguaia", livro em que relata episódios dos confrontos na área.
Arantes, o general e os demais membros da comissão visitaram na área indígena dois locais em que podem ter sido enterrados guerrilheiros, segundo o cacique Mahu.
Um dos pontos foi escavado em 1996 por antropólogos argentinos comandados pelo especialista Luis Fondebrider, que no ano seguinte desenterrou e identificou na Bolívia os restos mortais do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara. As duas ossadas recolhidas jamais foram identificadas.
Para Arantes, indicações como a de ontem estão fadadas ao fracasso "porque são absolutamente imprecisas". Essas indicações, segundo o general, constam de relatórios de expedições anteriores, que fracassaram na busca das ossadas. Até hoje, só dois guerrilheiros foram identificados: Maria Lúcia Petit e Bergson Farias.


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