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Busca no Araguaia será "fiasco", diz ex-preso
Para Aldo Arantes, observador na operação, é preciso ouvir militares que atuaram na repressão à guerrilha
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A
SÃO GERALDO DO ARAGUAIA (PA)
Observador independente da
comissão que busca ossadas no
Araguaia, indicado por seu partido, o PC do B, o ex-deputado
federal Aldo Arantes previu
que os trabalhos, iniciados na
quarta-feira passada, resultarão em "um fiasco" caso não sejam ouvidos os militares que
enterraram os corpos dos guerrilheiros na década de 70.
Ex-presidente da UNE
(União Nacional dos Estudantes) e ex-preso político, Arantes, 70, tem sido um dos interlocutores mais constantes do
general Mário Lúcio de Araújo,
que dá apoio logístico à comissão, de 33 militares e civis.
Geralmente lado a lado, os
dois têm visitado os locais onde
podem ter sido enterrados os
cerca de 60 guerrilheiros desaparecidos no Araguaia.
"Não é uma impressão minha. É uma convicção de que
essa operação será um fiasco
sem as informações dos militares que sabem os locais onde
ocorreram os sepultamentos
clandestinos. Se isso acontecer,
será ruim para o governo do
presidente Lula e para as Forças Armadas", afirmou.
"Todo mundo sabe que houve uma "operação limpeza"
[anos após a guerrilha, os militares teriam sumido com os
corpos]. Os camponeses não sabem onde [os corpos foram levados]. Os militares sabem",
disse Arantes, deputado por
quatro legislaturas.
O posicionamento foi externado em reunião anteontem na
cidade de São Domingos do
Araguaia. Arantes disse ao general e aos oficiais do grupo que
estava requisitando oficialmente a convocação dos militares que atuaram na repressão
de 1972 a 1975. Organizado pelo
então clandestino PC do B, a
guerrilha do Araguaia começou
no fim dos anos 60 e terminou
em 1975. A ordem para a busca
das ossadas é judicial.
Em visita da comissão ontem
à reserva indígena Suruí Sororó, em São Geraldo do Araguaia
(650 km de Belém), o general
Araújo, 53, disse à Folha que a
possibilidade de convocação
dos militares está sendo avaliada pelo Ministério da Defesa.
Entre os ex-militares que podem ser chamados estão o major da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, e o tenente da reserva José Vargas
Jiménez, autor de "Bacaba
-Memórias de um Guerreiro de
Selva da Guerrilha do Araguaia", livro em que relata episódios dos confrontos na área.
Arantes, o general e os demais membros da comissão visitaram na área indígena dois
locais em que podem ter sido
enterrados guerrilheiros, segundo o cacique Mahu.
Um dos pontos foi escavado
em 1996 por antropólogos argentinos comandados pelo especialista Luis Fondebrider,
que no ano seguinte desenterrou e identificou na Bolívia os
restos mortais do guerrilheiro
argentino Ernesto Che Guevara. As duas ossadas recolhidas
jamais foram identificadas.
Para Arantes, indicações como a de ontem estão fadadas ao
fracasso "porque são absolutamente imprecisas". Essas indicações, segundo o general,
constam de relatórios de expedições anteriores, que fracassaram na busca das ossadas. Até
hoje, só dois guerrilheiros foram identificados: Maria Lúcia
Petit e Bergson Farias.
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