São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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LAVOURA ARCAICA

Norberto Mânica foi detido no Paraná

Força-tarefa prende o acusado de ser mandante de morte de fiscais

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma força-tarefa formada pela Polícia Federal e a Polícia Civil de Minas Gerais prendeu no início da noite de ontem Norberto Mânica, um dos principais produtores de feijão do país, acusado de ser o mandante do assassinato de quatro servidores do Ministério do Trabalho, ocorrido em janeiro em Unaí (noroeste mineiro).
Os policiais realizaram operações de busca e apreensão no início da noite, em algumas fazendas da região. O objetivo da prisão, segundo apurou a Folha, é dar tempo aos investigadores para levantar mais provas e evitar a coação de testemunhas por parte do fazendeiro. Mânica foi indiciado pela PF no dia 6 de agosto, depois de prestar o segundo depoimento à força-tarefa.
O fazendeiro foi preso ontem no Paraná, onde estava em suposta viagem de visita a familiares que vivem naquele Estado. Ele seria transferido ainda hoje para Brasília, em avião da PF.
A PF ainda suspeita do envolvimento de outros fazendeiros da região, que teriam organizado uma espécie de "consórcio" para pagar a chacina. De acordo com o inquérito, a morte dos fiscais teria custado cerca de R$ 50 mil.
Eles foram mortos no dia 28 de janeiro em uma estrada vicinal da área rural de Unaí, pólo nacional de produção de feijão. Naquele dia, João Batista Soares Lage, Erastótenes de Almeida Gonçalves e Nelson José da Silva e seu motorista Ailton Pereira de Oliveira receberam tiros na nuca e na cabeça ao pararem para dar informações a dois estranhos.
Os servidores preparavam-se para um dia de rotina, percorrendo propriedades da região para verificar as condições de trabalho da mão-de-obra na colheita do feijão. O crime provocou reação imediata dos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Ricardo Berzoini (Trabalho) e Nilmário Miranda (Direitos Humanos).
Da sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, Suíça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que a PF iria prender os assassinos e seus mandantes. Na véspera de o crime completar seis meses, a PF anunciou a prisão de sete pessoas como responsáveis pela morte.
Até a conclusão desta edição, os dois advogados que representam Mânica, Raul Livino e José Lindomar Coelho, não haviam respondido aos recados deixados pela Folha em seus celulares.

Multas
Mânica era apontado por investigadores como suspeito desde o primeiro dia das investigações. O produtor rural já havia discutido diversas vezes com o auditor Nelson José da Silva, tendo recebido multas trabalhistas dele em um valor que atinge R$ 2 milhões.
Segundo a PF, outro indício que apontaria para Mânica é uma dívida de R$ 180 mil que Hugo Alves Pimenta teria com ele. Preso sob acusação de ter contratado pistoleiros para a chacina, ele possui uma empresa transportadora de grãos em Unaí. Seu advogado é o mesmo de Mânica, Raul Livino.


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