|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Entrevistados tendem a avaliar que falta clima político para impeachment avançar
Maioria vê Congresso sem condição para afastar Lula
DA REDAÇÃO
Políticos, intelectuais e advogados cautelosos, artistas divididos.
Esse é o âmago do resultado da
enquete feita pela Folha acerca do
humor da sociedade em relação à
possibilidade (ou não) de abertura de um processo de impeachment contra o presidente Lula.
Foram entrevistados 11 representantes da classe política, entre
deputados, senadores e governadores de Estados. Nove disseram
que não há razões para um debate
sobre impedimento do presidente. Dois acham que há.
A senadora Heloísa Helena
(PSOL-AL) acredita que existam
motivos para discutir o impeachment, mas que os membros do
Congresso não têm legitimidade
para tanto atualmente. Afinal, o
suposto pagamento de mesada a
parlamentares da base aliada foi o
propulsor da crise. Ela defende a
convocação de novas eleições.
Do setor empresarial, seis pessoas foram ouvidas. Dessas, cinco
disseram que não há motivos para abertura de um processo de
impeachment. Apenas Fabio
Mestriner, presidente da Abre
(Associação Brasileira de Embalagens), deu opinião diferente.
"Não é possível que esteja acontecendo tudo isso e o governo não
tenha nada a ver", justifica.
Os quatro sindicalistas que responderam à enquete optaram pelo "não". Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho, da Força Sindical, diz,
porém, que o curso das investigações pode alterar este cenário.
Mesmo placar unânime foi obtido entre os representantes de
movimentos sociais e religiosos
-opinião compartilhada tanto
por Henry Sobel (presidente do
Rabinato da Congregação Israelita Paulista) quanto por d. Geraldo
Majella (presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
e por Sônia Hernandes (bispa da
Igreja Renascer), evangélica.
Entre os 14 intelectuais ouvidos,
dois (Luiz Carlos Bresser Pereira e
Bolívar Lamounier) disseram
acreditar que as evidências apresentadas até o momento justificam discutir o impeachment.
Foram entrevistados também
seis advogados. Quatro disseram
que não há motivos que justifiquem uma discussão política tão
capital. Embasaram suas respostas não só no ambiente político,
mas também na fundamentação
jurídica do pedido de abertura de
um processo de impedimento.
Já dentre os 13 artistas (entre cineastas, roteiristas, músicos, escritores e atores) que responderam à questão, foi verificada a
maior concentração de "sim".
Cinco deles acreditam que a crise
é de tal envergadura que se justifica discutir o processo de impeachment do presidente Lula. O
segmento artístico foi um dos que
mais apoiaram o petista na campanha presidencial de 2002.
Respostas distintas
A enquete procurou contemplar duas questões distintas. Primeiro, procurou aferir se há razões que motivem a abertura do
processo de impeachment do
presidente. Foram ouvidas 47 respostas negativas para essa pergunta e 13 positivas.
Depois, os entrevistados responderam se haveria condições
políticas, dentro e fora do Congresso, para a abertura do processo de impeachment.
50 entrevistados disseram que
não há ambiente para tanto. Dois
se abstiveram e somente oito responderam que sim.
A disparidade das respostas tem
explicação. O cientista político
Bolívar Lamounier, por exemplo,
acha que, com as revelações de
Duda Mendonça, a hipótese de
discussão do impeachment é quase inevitável. Mas que as condições políticas hoje são muito menos favoráveis a isso do que em
1992, quando o Congresso aprovou processo contra o então presidente Fernando Collor de Mello.
Ele foi afastado do cargo e renunciou antes do julgamento do
processo no Senado.
Também o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro
da Fazenda Luiz Carlos Bresser
Pereira acredita que há motivos
que justifiquem um pedido de
impeachment ("todas as indicações são as de que o presidente sabia"), mas que não há ainda espaço político no Congresso (embora
ressalte que ele poderá surgir).
Já Aloisio Teixeira, reitor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), acha que razão
para impeachment não há. "Parece-me que não existe necessidade", disse. Mas que, independentemente disso, há plenas condições de submeter o assunto ao
Congresso. "Independerá de razões políticas. Se houver a constatação de que o presidente está
compromissado, será aberto o
processo", conclui.
Alguns dos entrevistados traçam paralelismos entre a crise
atual e a situação vivenciada pelo
país 13 anos atrás.
Se por um lado há loas para a
consolidação das instituições democráticas e respeito ao passado
político do presidente Lula (sedimentado em forte apoio popular
e estruturado em um partido de
tradição, entre as respostas obtidas pela enquete), por outro as
respostas deixaram transpassar
um sentimento de incredulidade.
O Congresso, segundo entrevistados, está tão paralisado e amarrado pela crise quanto o Planalto.
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Lula na mira: Impeachment constitui processo político Próximo Texto: Crise gera "frustração", "choque" e "temor" Índice
|