São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2005

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Entrevistados tendem a avaliar que falta clima político para impeachment avançar

Maioria vê Congresso sem condição para afastar Lula

DA REDAÇÃO

Políticos, intelectuais e advogados cautelosos, artistas divididos. Esse é o âmago do resultado da enquete feita pela Folha acerca do humor da sociedade em relação à possibilidade (ou não) de abertura de um processo de impeachment contra o presidente Lula.
Foram entrevistados 11 representantes da classe política, entre deputados, senadores e governadores de Estados. Nove disseram que não há razões para um debate sobre impedimento do presidente. Dois acham que há.
A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) acredita que existam motivos para discutir o impeachment, mas que os membros do Congresso não têm legitimidade para tanto atualmente. Afinal, o suposto pagamento de mesada a parlamentares da base aliada foi o propulsor da crise. Ela defende a convocação de novas eleições.
Do setor empresarial, seis pessoas foram ouvidas. Dessas, cinco disseram que não há motivos para abertura de um processo de impeachment. Apenas Fabio Mestriner, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagens), deu opinião diferente. "Não é possível que esteja acontecendo tudo isso e o governo não tenha nada a ver", justifica.
Os quatro sindicalistas que responderam à enquete optaram pelo "não". Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, da Força Sindical, diz, porém, que o curso das investigações pode alterar este cenário.
Mesmo placar unânime foi obtido entre os representantes de movimentos sociais e religiosos -opinião compartilhada tanto por Henry Sobel (presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista) quanto por d. Geraldo Majella (presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e por Sônia Hernandes (bispa da Igreja Renascer), evangélica.
Entre os 14 intelectuais ouvidos, dois (Luiz Carlos Bresser Pereira e Bolívar Lamounier) disseram acreditar que as evidências apresentadas até o momento justificam discutir o impeachment.
Foram entrevistados também seis advogados. Quatro disseram que não há motivos que justifiquem uma discussão política tão capital. Embasaram suas respostas não só no ambiente político, mas também na fundamentação jurídica do pedido de abertura de um processo de impedimento.
Já dentre os 13 artistas (entre cineastas, roteiristas, músicos, escritores e atores) que responderam à questão, foi verificada a maior concentração de "sim". Cinco deles acreditam que a crise é de tal envergadura que se justifica discutir o processo de impeachment do presidente Lula. O segmento artístico foi um dos que mais apoiaram o petista na campanha presidencial de 2002.

Respostas distintas
A enquete procurou contemplar duas questões distintas. Primeiro, procurou aferir se há razões que motivem a abertura do processo de impeachment do presidente. Foram ouvidas 47 respostas negativas para essa pergunta e 13 positivas.
Depois, os entrevistados responderam se haveria condições políticas, dentro e fora do Congresso, para a abertura do processo de impeachment.
50 entrevistados disseram que não há ambiente para tanto. Dois se abstiveram e somente oito responderam que sim.
A disparidade das respostas tem explicação. O cientista político Bolívar Lamounier, por exemplo, acha que, com as revelações de Duda Mendonça, a hipótese de discussão do impeachment é quase inevitável. Mas que as condições políticas hoje são muito menos favoráveis a isso do que em 1992, quando o Congresso aprovou processo contra o então presidente Fernando Collor de Mello.
Ele foi afastado do cargo e renunciou antes do julgamento do processo no Senado.
Também o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira acredita que há motivos que justifiquem um pedido de impeachment ("todas as indicações são as de que o presidente sabia"), mas que não há ainda espaço político no Congresso (embora ressalte que ele poderá surgir).
Já Aloisio Teixeira, reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), acha que razão para impeachment não há. "Parece-me que não existe necessidade", disse. Mas que, independentemente disso, há plenas condições de submeter o assunto ao Congresso. "Independerá de razões políticas. Se houver a constatação de que o presidente está compromissado, será aberto o processo", conclui.
Alguns dos entrevistados traçam paralelismos entre a crise atual e a situação vivenciada pelo país 13 anos atrás.
Se por um lado há loas para a consolidação das instituições democráticas e respeito ao passado político do presidente Lula (sedimentado em forte apoio popular e estruturado em um partido de tradição, entre as respostas obtidas pela enquete), por outro as respostas deixaram transpassar um sentimento de incredulidade.
O Congresso, segundo entrevistados, está tão paralisado e amarrado pela crise quanto o Planalto.

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