São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO WALDOMIRO

À CPI, advogado nega que ainda tivesse relação com ministro; porém há registro de telefonemas seus para Palocci, que os julga tentativas frustradas

Buratti é ligado a agenda de Palocci em 2004

ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Rogério Tadeu Buratti, acusado de tentar extorquir R$ 6 milhões da GTech para a renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal em abril de 2003, manteve contato direto com assessores do ministro Antonio Palocci (Fazenda) pelo menos até o ano passado. Segundo gravação telefônica feita com autorização judicial, Buratti teria tratado com o chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, da agenda do ministro.
No caso, um encontro entre Palocci e o presidente do banco Prosper, Edson Menezes. O diálogo, grampeado em meio à investigação sobre o caso Waldomiro Diniz, ocorreu em 3 de julho de 2004. Três meses depois, Palocci recebeu Menezes no gabinete.
A assessoria do ministro confirma a audiência e informou que foi uma reunião de trabalho, realizada às 17h20. Acrescentou que o ministro recebeu Edson Menezes como presidente da Bolsa do Rio. Nega, porém, a participação de Buratti na marcação da audiência.
Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto em 1993 e 1994, quando Palocci era prefeito. Em depoimento na terça-feira à CPI dos Bingos, Buratti negou que ainda mantivesse relação com o ministro. A CPI encontrou, no entanto, registros de ligações telefônicas de Buratti para a casa de Palocci. A comissão identificou também que Buratti ligou para o celular de Juscelino Dourado.
Segundo a assessoria do ministro, as ligações de Buratti para a residência de Palocci "foram provavelmente tentativas de contato que não prosperaram".
A conversa grampeada de Buratti foi com outro ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto, Vladimir Poleto. No diálogo, Poleto conta que o assessor de Palocci Ademirson da Silva havia lhe telefonado pedindo o telefone do presidente do banco Prosper, Edson Menezes. Buratti diz que conversara com "Jota" no dia anterior e que o interesse de Ademirson deveria ser "agenda".
Poleto foi consultor do Prosper e dava expediente na instituição na época em que a escuta foi feita. Poleto conclui, então, que o "chefe" estaria "querendo falar diretamente com o Edson" (o presidente do Prosper, braço financeiro do grupo Peixoto de Castro).

O chefe
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, "Jota" seria Juscelino Dourado. Em entrevista à Folha, Buratti reconheceu a conversa e disse que "esse "chefe" pode ser o Palocci. Seria meio estúpido achar que não seria. Não vamos ser ridículos neste aspecto". Negou, no entanto, que "Jota" fosse Juscelino.
Segundo as assessorias da Fazenda e do banco Prosper, no dia 10 de outubro de 2004 Palocci recebeu Edson Menezes. O encontro não foi informado à imprensa.
Na conversa com Poleto, Buratti disse que já havia conversado com o "Jota" e que estaria tudo conforme o combinado. Poleto diz então que o "chefe" poderia fazer a agenda. Buratti completa: "Vai fazer a agenda daquele jeito que a gente tinha conversado lá".
Buratti sugere ainda que Poleto deveria ligar "pro Edson e falar pra ele que teve a conversa e que vai ser marcada a audiência". Poleto diz: "Tá legal, isso vou fazer".
Buratti foi afastado da Prefeitura de Ribeirão Preto na gestão de Palocci por suspeita de corrupção. Desfiliou-se do PT e, desde então, disse que teria perdido contato com o ministro.
A Folha apurou que, em fevereiro de 2004, Buratti ligou, no dia 7, duas vezes do telefone fixo para a casa do ministro e outra vez, no dia 21, de um celular. Uma das ligações durou 1,46 minuto e a outra, um minuto.
A Promotoria, responsável pelo relatório, informou que desconhecia as ligações feitas de Buratti para Palocci. Agora, um levantamento de todas as ligações para a casa do ministro serão rastreadas e enviadas à CPI do Bingos.

Outro lado
Em entrevista à Folha, Rogério Buratti negou ter ingerência sobre a agenda de Antonio Palocci, conforme diálogo registrado. Para Buratti, o diálogo indica que ele foi procurado pelo amigo Vladimir Poleto, que lhe teria feito um relato acerca de uma audiência de Edson Menezes com o ministro.
Buratti afirma que o "Jota" citado é um amigo chamado José Eduardo Valente que vive no Rio e trabalha com Poleto no grupo Peixoto de Castro. A empresa nega ter funcionário com esse nome.
A Folha procurou a Fazenda na quarta-feira. A assessoria negou que Poleto ou Buratti tivessem participado da elaboração da agenda do ministro. Ressaltou que o encontro do ministro com o presidente do banco Prosper ocorreu três meses depois da conversa telefônica e que a audiência com Edson se deu na condição de presidente da Bolsa do Rio.
Na sexta-feira, depois de a Folha publicar que a CPI dos Bingos identificou ligações de Buratti para a casa do ministro e para Juscelino, o ministério divulgou nota. Informou que os contatos com Buratti foram, nos últimos anos, apenas sociais e esporádicos e que eventuais telefonemas foram provavelmente tentativas de contato que não prosperaram.

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