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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO WALDOMIRO
À CPI, advogado nega que ainda tivesse relação com ministro; porém há registro de telefonemas seus para Palocci, que os julga tentativas frustradas
Buratti é ligado a agenda de Palocci em 2004
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Rogério Tadeu Buratti, acusado
de tentar extorquir R$ 6 milhões
da GTech para a renovação de
contrato com a Caixa Econômica
Federal em abril de 2003, manteve
contato direto com assessores do
ministro Antonio Palocci (Fazenda) pelo menos até o ano passado.
Segundo gravação telefônica feita
com autorização judicial, Buratti
teria tratado com o chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, da agenda do ministro.
No caso, um encontro entre Palocci e o presidente do banco
Prosper, Edson Menezes. O diálogo, grampeado em meio à investigação sobre o caso Waldomiro
Diniz, ocorreu em 3 de julho de
2004. Três meses depois, Palocci
recebeu Menezes no gabinete.
A assessoria do ministro confirma a audiência e informou que foi
uma reunião de trabalho, realizada às 17h20. Acrescentou que o
ministro recebeu Edson Menezes
como presidente da Bolsa do Rio.
Nega, porém, a participação de
Buratti na marcação da audiência.
Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto em 1993 e
1994, quando Palocci era prefeito.
Em depoimento na terça-feira à
CPI dos Bingos, Buratti negou
que ainda mantivesse relação
com o ministro. A CPI encontrou,
no entanto, registros de ligações
telefônicas de Buratti para a casa
de Palocci. A comissão identificou
também que Buratti ligou para o
celular de Juscelino Dourado.
Segundo a assessoria do ministro, as ligações de Buratti para a
residência de Palocci "foram provavelmente tentativas de contato
que não prosperaram".
A conversa grampeada de Buratti foi com outro ex-assessor de
Palocci em Ribeirão Preto, Vladimir Poleto. No diálogo, Poleto
conta que o assessor de Palocci
Ademirson da Silva havia lhe telefonado pedindo o telefone do presidente do banco Prosper, Edson
Menezes. Buratti diz que conversara com "Jota" no dia anterior e
que o interesse de Ademirson deveria ser "agenda".
Poleto foi consultor do Prosper
e dava expediente na instituição
na época em que a escuta foi feita.
Poleto conclui, então, que o "chefe" estaria "querendo falar diretamente com o Edson" (o presidente do Prosper, braço financeiro do
grupo Peixoto de Castro).
O chefe
Segundo o Ministério Público
do Estado de São Paulo, "Jota" seria Juscelino Dourado. Em entrevista à Folha, Buratti reconheceu
a conversa e disse que "esse "chefe"
pode ser o Palocci. Seria meio estúpido achar que não seria. Não
vamos ser ridículos neste aspecto". Negou, no entanto, que "Jota" fosse Juscelino.
Segundo as assessorias da Fazenda e do banco Prosper, no dia
10 de outubro de 2004 Palocci recebeu Edson Menezes. O encontro não foi informado à imprensa.
Na conversa com Poleto, Buratti
disse que já havia conversado
com o "Jota" e que estaria tudo
conforme o combinado. Poleto
diz então que o "chefe" poderia
fazer a agenda. Buratti completa:
"Vai fazer a agenda daquele jeito
que a gente tinha conversado lá".
Buratti sugere ainda que Poleto
deveria ligar "pro Edson e falar
pra ele que teve a conversa e que
vai ser marcada a audiência". Poleto diz: "Tá legal, isso vou fazer".
Buratti foi afastado da Prefeitura de Ribeirão Preto na gestão de
Palocci por suspeita de corrupção. Desfiliou-se do PT e, desde
então, disse que teria perdido
contato com o ministro.
A Folha apurou que, em fevereiro de 2004, Buratti ligou, no dia
7, duas vezes do telefone fixo para
a casa do ministro e outra vez, no
dia 21, de um celular. Uma das ligações durou 1,46 minuto e a outra, um minuto.
A Promotoria, responsável pelo
relatório, informou que desconhecia as ligações feitas de Buratti
para Palocci. Agora, um levantamento de todas as ligações para a
casa do ministro serão rastreadas
e enviadas à CPI do Bingos.
Outro lado
Em entrevista à Folha, Rogério
Buratti negou ter ingerência sobre
a agenda de Antonio Palocci, conforme diálogo registrado. Para
Buratti, o diálogo indica que ele
foi procurado pelo amigo Vladimir Poleto, que lhe teria feito um
relato acerca de uma audiência de
Edson Menezes com o ministro.
Buratti afirma que o "Jota" citado é um amigo chamado José
Eduardo Valente que vive no Rio
e trabalha com Poleto no grupo
Peixoto de Castro. A empresa nega ter funcionário com esse nome.
A Folha procurou a Fazenda na
quarta-feira. A assessoria negou
que Poleto ou Buratti tivessem
participado da elaboração da
agenda do ministro. Ressaltou
que o encontro do ministro com o
presidente do banco Prosper
ocorreu três meses depois da conversa telefônica e que a audiência
com Edson se deu na condição de
presidente da Bolsa do Rio.
Na sexta-feira, depois de a Folha publicar que a CPI dos Bingos
identificou ligações de Buratti para a casa do ministro e para Juscelino, o ministério divulgou nota.
Informou que os contatos com
Buratti foram, nos últimos anos,
apenas sociais e esporádicos e que
eventuais telefonemas foram provavelmente tentativas de contato
que não prosperaram.
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