DA REDAÇÃO

"Liderança das lutas populares", "exemplo de perseverança", "referencial para a ética" e "carisma nunca igualável" foram alguns dos talentos atribuídos por políticos e amigos ao deputado Miguel Arraes (PSB-PE), que morreu na manhã de ontem, depois de ficar 57 dias internado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que decretou luto oficial de três dias, disse, em nota, que a morte de Arraes é "uma enorme perda para o povo brasileiro". "Arraes foi, sem dúvida, uma das maiores lideranças das lutas populares que marcaram a segunda metade do século 20 no Brasil."
Segundo a nota, Lula manifesta "grande tristeza pela ausência de um companheiro que, com sua experiência, sabedoria e capacidade de resistência, fará muita falta no trabalho em favor da justiça social em nosso país". O presidente deve comparecer ao enterro do deputado, hoje, às 16h, em Recife.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, também prestou sua homenagem ao deputado, "exemplo de perseverança, de luta por um ideal". "[Arraes] foi um político importante no processo de redemocratização do país", afirmou.

Ética
Vários políticos fizeram menção ao atual momento político que o país enfrenta. Para o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), "torna-se ainda mais penosa a perda de Arraes no momento político que atravessamos". "Sua presença sempre foi referencial para a ética entre os homens públicos."
Ciro Gomes (PSB), ministro da Integração Nacional, também fez menção ao momento político: "A ausência de Miguel Arraes do processo político nacional é uma perda irreparável, principalmente no quadro atual, quando seus conselhos e sua orientação seriam fundamentais para a superação das dificuldades por que passa o país. Os que amam o Brasil e os que têm devoção ao povo brasileiro estão, como eu, profundamente consternados".
Segundo o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, "a morte de Miguel Arraes é uma perda não só para a esquerda histórica brasileira mas para todo o país, num momento especialmente crítico da vida nacional". "Arraes foi, pelo seu exemplo de vida pública, a evidência de que a coerência ideológica e a intransigência com a ética são atributos dos líderes autênticos, por isso ele fará muita falta ao Brasil."
Classificando o presidente nacional do PSB como um dos "mais importantes e emblemáticos líderes políticos da história do Brasil", o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), afirmou que Arraes "está inscrito entre os democratas que heroicamente resistiram ao regime ditatorial e reconquistaram a democracia usurpada". "Mais do que um nome, Arraes é uma lenda que alimentará as esperanças e os sonhos de muitas gerações de brasileiros", diz o tucano.
O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), divulgou nota, na qual afirmou: "Miguel Arraes foi um dos homens mais importantes da vida pública brasileira. Antes do golpe de 64, Arraes já era um dos principais dirigentes de esquerda no Brasil. (...) A morte de Arraes é uma perda muito grande para a política brasileira".
"Sua atuação em defesa da democracia e dos interesses nacionais ficará como um exemplo para as futuras gerações", disse Rosinha Matheus, governadora do Rio de Janeiro (PMDB).
O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), destacou o carisma de Arraes, que considerou "caso único" na política. "[Arraes] falava com seu silêncio. Um político popular que falava pouco. Um carisma nunca igualável."
Já o deputado federal José Dirceu (PT-SP) lamentou a morte de "um dos principais líderes políticos do país há quase 50 anos, com quem tinha uma relação afetiva muita próxima". "Arraes foi e continuará sendo um exemplo para todos nós que lutamos por justiça social. Ele dedicou a vida toda ao Brasil e ao povo brasileiro, especialmente ao Nordeste do país, onde semeou idéias e ideais que ficarão registrados para sempre na história da luta contra a desigualdade", disse o ex-ministro.

Referência
"O Ceará tem sido sempre um Estado pródigo em fornecer grandes homens ao Brasil. E um deles, nos últimos anos, sem dúvida alguma foi Miguel Arraes, que é uma referência da luta do país pela democracia, pelo combate da injustiça e da desigualdade social. É uma figura marcante na história política do Brasil moderno e foi um grande líder. Estamos todos lamentando muito o seu desaparecimento", disse Lúcio Alcântara (PSDB), governador do Ceará.
O coordenador do MST, João Pedro Stedile, também destacou a crise por que passa o país, ao lamentar a morte de Arraes. "Miguel Arraes parte em meio a uma crise política que tem suas raízes na falta de um projeto de desenvolvimento nacional. Deve ter viajado magoado por não ter visto seu sonho realizado."

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