São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Mauro Paulino

Democracia e vontade de votar

Eleitores jovens são os que menos afirmam gostar de ir às urnas

VOCÊ GOSTA de votar? Esta pergunta divide os brasileiros. Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, um terço dos eleitores (34%) gosta muito de ir às urnas, outros 32% admitem que não gostam e 34% gostam um pouco. A única região do país que apresenta um apreço significativamente acima da média pelo exercício do voto é o Nordeste, com 41%.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, apenas um em cada quatro eleitores mostra muita satisfação em votar. No Rio, a proporção é a mesma.
Às vésperas do início do horário eleitoral gratuito, apenas 24% têm muito interesse pela campanha, taxa idêntica à verificada na mesma época em 2002. Já a parcela dos que se mostram totalmente desinteressados subiu de 38% para 43% nos últimos quatro anos.
Diante desses números, partidos e candidatos deveriam pautar suas aparições na mídia não apenas com o objetivo de atrair votos mas também de despertar o envolvimento do eleitor com as questões políticas, em especial o segmento mais jovem.
Apenas um em cada quatro eleitores entre 16 e 24 anos (26%) afirma gostar muito de ir às urnas. Já entre os que têm mais de 60 anos essa satisfação atinge 46%. O mesmo ocorre em relação às propagandas políticas: enquanto 21% dos mais jovens demonstram ter muito interesse, entre os mais velhos esse percentual chega a 30%.
Essa nova geração de eleitores não teve que brigar pelo direito ao voto e está habituada a relacionar fatos negativos à atuação da maioria dos políticos. Para parcela significativa dos mais jovens, o ato de votar é associado apenas à obrigação e ao desprazer. As formas tradicionais de fazer política estão distantes dos anseios desses eleitores.
Com os recursos de marketing ditando as ações dos candidatos, cada vez mais as campanhas distanciam-se das ruas e chegam às casas dos eleitores através da mídia. Mas isso pouco tem contribuído para gerar interesse pela política. Aparições públicas dos candidatos têm por objetivo principal a criação de cenários para gerar imagens adequadas às peças publicitárias e aos telejornais.
Mesmo entre os que gostam muito de votar e, portanto, poderiam demonstrar mais vontade de acompanhar o horário eleitoral, há 22% que se dizem totalmente desinteressados. Entre os que não gostam de votar, o desinteresse salta para 71%.
A fartura de espaço na mídia proporcionada pelas eleições poderia ser aproveitada, ao menos em parte, para reforçar a importância da participação política e para demonstrar que ir às urnas pode ser também gratificante.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha

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