São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fraude em Rondônia foi facilitada por nepotismo, diz PF

Investigações mostram que Carlão de Oliveira, presidente da Assembléia, montou rede de favores para assegurar desvios

Segundo a PF, Carlão herdou o "modus operandi" do esquema de fraudes de seu antecessor na Assembléia, Natanael da Silva (PP)

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO VELHO

As investigações da Polícia Federal que culminaram na Operação Dominó mostraram que a organização criminosa apontada como responsável por desviar R$ 70 milhões dos cofres de Rondônia se enraizou nos Poderes estaduais por meio da troca de favores e do nepotismo cruzado.
Foram presos na operação da PF o presidente do TJ (Tribunal de Justiça), Sebastião Teixeira Chaves, o presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira (PSL), o ex-procurador-chefe de Justiça José Carlos Vitachi, o conselheiro e vice-presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Edilson de Souza Silva, o juiz José Jorge Ribeiro da Luz, auxiliar do presidente do TJ, e o ex-chefe da Casa Civil Carlos Magno Ramos.
Carlão é apontado como o líder do grupo, mas não como o criador do esquema: ele herdou o "modus operandi" do seu antecessor na presidência da Assembléia, Natanael da Silva.
Candidato derrotado do PP ao governo em 2002, Natanael deixou a presidência da Assembléia para seu então vice, Carlão -que mudou a Constituição Estadual para garantir uma vaga de conselheiro no TCE (Tribunal de Contas do Estado) para Natanael, que foi nomeado conselheiro em maio de 2003 e afastado em junho de 2005, por decisão do Superior Tribunal de Justiça. Mesmo assim, decisão do desembargador Rowilton Teixeira, em setembro do mesmo ano, garantiu que, mesmo afastado, continuasse recebendo salários.
Para manter seu aliado no TCE, Carlão utilizou a Assembléia como uma balcão de negócios. Os desembargadores Valter de Oliveira, ex-presidente do TJ, e o desembargador Gabriel Marques de Carvalho derrubaram duas decisões pelo afastamento de Natanael.
Em 2003, a mulher de Valter de Oliveira, Genilde Camargo de Oliveira, dona da Diatkhe Indústria e Comércio, recebeu encomendas de R$ 176 mil para fornecer uniformes para os funcionários da Assembléia. O desembargador Carvalho tem um filho no gabinete de Carlão.
Em outubro do ano passado, Carvalho assumiu a presidência do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e Sebastião Teixeira Chaves, que era vice de Valter de Oliveira no TJ, assumiu a presidência do tribunal.
No âmbito do Ministério Público, o ex-procurador-chefe de Justiça José Carlos Vitachi e o também ex-procurador-chefe de Justiça aposentado José Viana Alves, advogado de vários envolvidos no esquema, são os grandes articuladores. A filha do atual procurador-chefe, a advogada Abdiel Ramos Figueira, trabalha com Viana.
O TCE de Rondônia aparece no esquema como uma reserva de empregos para o grupo. É funcionária do tribunal, por exemplo, uma filha do presidente preso do TJ.

Outro lado
Desde a semana passada, a Folha tenta ouvir os citados. Com exceção de Abdiel Figueira, que nega envolvimento, os outros ou se recusaram a falar ou não foram encontrados.


Texto Anterior: Mauro Paulino: Democracia e vontade de votar
Próximo Texto: Estados - Paraná: Requião anuncia que irá se licenciar do cargo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.