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JANIO DE FREITAS
Contra a lei
Quando se lê que "Jobim quer lei para reduzir o poder da Anac", deve-se entender que "Jobim quer mais poder para si"
A CÂMARA deve iniciar hoje o
debate sobre as agências reguladoras, como a Anac, a
Agência Nacional de Aviação Civil
que a crise aérea pôs sob bombardeio. Esse é um assunto de implicações graves, porque as agências estão regendo setores muito importantes, como a energia elétrica, as telecomunicações, a pesquisa e exploração de petróleo.
O encaminhamento da discussão
sobre as agências não está à altura
do tema. Desde sua criação no governo Fernando Henrique Cardoso,
o excesso de poder e de regalias dados às agências, além de outras características que só poderiam resultar mal, foram postos sob críticas.
Logo confirmadas, por exemplo, no
caso da Agência Nacional do Petróleo, uma capitania dada pelo então
presidente ao seu genro David
Zylberstein (mais tarde, ex-genro).
Em vez de apreciação cuidadosa
da nova fisionomia conveniente às
agências, o que há são pressões por
duas ou três mudanças que não corrigem defeito algum, nem criam inovações positivas. Quando se lê que
"Nelson Jobim quer lei para reduzir
o poder da Anac", deve-se entender
que "Nelson Jobim quer mais poder
para si". E só. A lei desejada lhe permitiria apropriar-se de poderes da
Anac, como está fazendo, sem continuar atropelando a legislação que
deu à agência autonomia e exclusividade em determinados poderes relativos à aviação.
Antes de qualquer discussão ou
mudança, o necessário é repor na legalidade as decisões sobre obras em
aeroportos, remanejamento de linhas aéreas, operações técnicas das
companhias e até a distância entre
poltronas de avião.
O governo adotou a ilegalidade como solução para a crise aérea. E quer
remendar-lhe as aparências com a
substituição do que é ruim pelo que
é falsamente melhor.
É preciso ver
As suspeitas que recaem sobre a
compra da Petroquímica Suzano
pela Petrobras, por R$ 2,7 bilhões,
são daquelas que não podem passar
sem investigação capaz de proporcionar resposta suficiente, seja em
que sentido for. Ou, do contrário,
ficam pairando por muito tempo
como uma interrogação acusadora.
O negócio com a Suzano não foi
idealizado nem iniciado pela Petrobras, nele introduzida quando outras possibilidades de transação já
estavam em curso. E introduzida
com os cofres abertos em largueza
que a Suzano seria incapaz de justificar.
A incompetência que a oposição
tem demonstrado por certo facilitará, mais uma vez, o argumento
governamental de que as acusações
à forma da transação são apenas
onda oposicionista. Mas as suspeitas relacionadas, tanto no segmento dos negócios como em áreas técnicas, fundam-se em indícios de fato consideráveis.
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