São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Banrisul só cobrou vendedor de casa a Yeda após escândalo

Banco estatal demora 5 meses para entrar com ação de cobrança de dívida de R$ 2,2 mi

Para oposição, empresário pode ter se beneficiado no banco por causa de relação com governadora; Banrisul e Yeda negam irregularidades


GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Banrisul só moveu ação de cobrança de dívida contra Eduardo Laranja da Fonseca, que vendeu uma casa à governadora Yeda Crusius (PSDB), após a compra do imóvel virar foco da crise política gaúcha.
Laranja é peça-chave na apuração que os oposicionistas PT e PSOL pediram ao Tribunal de Contas do Estado sobre o suposto enriquecimento ilícito da governadora. Yeda declarou ter comprado a casa por R$ 750 mil em dezembro de 2006 -valor superior ao da declaração de bens que ela apresentou antes da campanha (R$ 674 mil).
Entre novembro de 2003 e 2004, a Self Engenharia e Empreendimentos Imobiliários Ltda., que tem Laranja como principal sócio, obteve dois empréstimos no Banrisul -no valor total de R$ 3,7 milhões- para construir condomínios residenciais em Porto Alegre. Só parte das prestações foi paga. A Folha apurou que, em 23 janeiro deste ano, o Banrisul incluiu a dívida restante (R$ 2,2 milhões) na conta "créditos em liquidação" -etapa que antecede a fase da cobrança judicial.
O banco levou quase cinco meses para ingressar com ação de cobrança. Isso só foi feito em 6 de junho, quase 40 dias depois que a transação imobiliária entre Yeda e Laranja foi questionada na CPI, no auge da crise provocada pelo desvio de R$ 44 milhões no Detran. A fraude foi revelada pela Operação Rodin, da Polícia Federal, realizada em novembro de 2007 e que deflagrou a crise.
"A nossa suspeita é que o sr. Laranja possa ter sido beneficiado numa estatal a partir das relações dele com a governadora", disse a deputada Stela Farias (PT), que pediu apuração no TCE sobre suposto favorecimento ilegal pelo banco.
O Banrisul nega irregularidades. Um dos diretores do banco, Urbano Schimitt, disse que não houve demora para ingressar com as ações. "Antes de ingressar com a cobrança judicial, o banco tentou uma negociação", disse. Por meio de assessoria, Laranja não quis se manifestar.
O procurador do Ministério Público do TCE, Geraldo Da Camino, deve anunciar hoje se abrirá ou não apuração sobre a compra da casa. Na defesa ao TCE, Yeda diz que obteve R$ 592 mil com a venda de dois apartamentos e um Passat 98 para pagar R$ 550 mil de entrada na casa. Os outros R$ 200 mil só seriam pagos após Laranja liquidar outras dívidas com o Itaú, que também deram origem a ações de cobrança.
Segundo a defesa de Yeda, o ex-secretário de Governo Delson Martini -demitido em junho após ser citado em telefonemas de acusados da fraude do Detran- foi o comprador do Passat 98, por R$ 32 mil. Outros R$ 180 mil usados na compra da casa foram pagos pelo pai dele, Delacy Martini, pela compra do apartamento de Capão da Canoa (litoral gaúcho).


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