São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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Prefeito de São Bernardo nega irregularidades

VERA MAGALHÃES
da Redação

O prefeito de São Bernardo, Maurício Soares (PSDB), negou ontem que em seu primeiro mandato (1989-1992), quando era do PT, tenha participado da venda irregular de um terreno, em negociação intermediada por Roberto Teixeira, compadre de Lula.
A informação da irregularidade envolvendo a prefeitura petista faz parte da reportagem apresentada anteontem pela TV Bandeirantes.
Segundo a reportagem, a Prefeitura de São Bernardo teria desistido de desapropriar uma área -onde antes passaria um anel viário- poucas semanas depois de ela ter sido comprada por Antonio Celso Cipriani, proprietário da Transbrasil. Roberto Teixeira era advogado de Cipriani.
Segundo a Bandeirantes, o fato de a área ser de utilidade pública na época teria facilitado a compra por Cipriani por um preço baixo.
A Folha atualizou o preço registrado na escritura do terreno. Cipriani comprou o terreno por R$ 6.038, em valores atualizados, em 25 de outubro de 1991.
Em julho de 92, vendeu-o para a construtora Dalmiro Lorenzoni -representada também por Roberto Teixeira e responsável pela construção do prédio onde Lula comprou seu apartamento.
O terreno foi vendido, segundo escritura registrada no 4º Cartório de Notas da cidade, por R$ 594.128 em valores de hoje. A valorização, em nove meses, foi de 9.740%.
Segundo documentos apresentados ontem à Folha por Soares, porém, o decreto revogando o pedido de desapropriação da área foi assinado em maio de 1991, pelo então vice-prefeito, Djalma Bom, hoje deputado pelo PT. Antes, portanto, da compra por Cipriani.
A Bandeirantes se baseou em outro decreto, assinado por Soares em dezembro de 91. Essa medida, porém, embora se refira ao mesmo processo, não inclui a área onde está construído o condomínio Green Village, objeto da denúncia da TV Bandeirantes.
"A prefeitura nunca foi proprietária do terreno, pois a desapropriação não chegou a ser efetivada", disse o prefeito.

Histórico
O processo de desapropriação pela prefeitura de uma grande área no km 22,5 da via Anchieta começou em 1979, na gestão de Tito Costa (PMDB). No local seria construído, pelo governo do Estado, um anel viário ligando as vias Anchieta e Imigrantes.
Em fevereiro de 91, diante do abandono das obras por mais de cinco anos, Soares enviou ofício à Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), responsável pelo anel viário, perguntando quando seriam retomados os trabalhos. A Dersa respondeu que não havia previsão de recursos para a obra.
Por isso, Soares diz ter desistido da desapropriação, atendendo a pedidos de 33 proprietários de terrenos na área. Roberto Teixeira aparece em vários desses pedidos como advogado dos proprietários, inclusive da construtora Socepal S/C Ltda., dona do terreno que depois foi vendido para Cipriani.



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