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JANIO DE FREITAS
A unanimidade à vista
O gigantismo e a intensidade da
reprovação de Fernando Henrique Cardoso na opinião do país
já não podem explicar-se só pela
insatisfação com a política econômica. São necessários outros fatores fortes para uma rejeição, já recordista, crescer 6 pontos, subindo
de 59% para 65%, em apenas um
mês, e mês em que foi reativado o
marketing presidencial.
Uma alteração de 10% partindo
de um número alto, como se dá
entre as pesquisas de agosto e setembro da Confederação Nacional dos Transportes/Vox Populi,
não reflete mais o desencanto
paulatino com as evidências de
que a queda da inflação, pela maneira como é feita, não abriu as
perspectivas esperadas. A frustração não veio aos saltos, em agosto
não houve motivo para um salto
eventual e a pesquisa mostra que,
apesar de tudo, 62% continuam
preferindo a estabilidade da moeda.
Os níveis apurados da rejeição
não se contentam em ultrapassar,
de longe, os piores já registrados
no Brasil. Apresentam-se também como um fenômeno em
qualquer parte, no sentido de que
indicam rejeição própria de governos, quase sempre de regimes
autoritários, em franca derrocada. Não são apenas níveis próprios de desaprovação a um presidente recém-reeleito, de um país
em sua relativa ordem institucional e de uma figura presidencial
sob cerrada proteção da mídia.
A leitura rigorosa dos índices leva ainda mais longe. Como ninguém pretende que um governante seja apenas regular, o que é um
modo de dizer que não é bom, os
26% de "regular" presentes na
pesquisa negam a aprovação.
Aliam-se, indiretos, mas de fato, à
reprovação declarada. Daí resulta que só 8% aprovam Fernando
Henrique, 1% fica nos quebrados
e 91% o reprovam. É mais do que
um recorde, é quase a unanimidade, já oferecida à sua vista.
Não é preciso tal constatação,
porém, para concluir que há, bem
acima da insatisfação com a política econômica, o esgotamento da
tolerância com o discurseira oca e
repetitiva de Fernando Henrique,
com a bisonhice das suas afirmações, com sua incompetência para o exercício do governo; com a
inoperância hipócrita do seu ministério, com mediocridade do
seu círculo, com a presença insistente, gratuita e inútil da sua fisionomia estudada na TV de todo
dia e todo dia nas primeiras páginas -sempre para nada, porque
na sua presidência tudo é nada
ou dá em nada. É o esgotamento
da tolerância em geral.
O salto, rompendo o movimento paulatino, só pode ser o transbordamento. Enquanto Fernando Henrique, governo, grande
parte do empresariado e mídia
cavalgam a idéia de que há problemas mas não há crise, que a recessão é menor ou o crescimento
já vem aí, e outras elucubrações,
sob essa superfície lustrosa passa-se algo, lá onde as pesquisas podem penetrar. E se não é lá que se
acham os sinais das verdadeiras
crises, com suas incógnitas inquietantes, então não sei onde será.
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